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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Livros para vestibular 2013

Quarta feira , 01 de fevereiro de 12  


Autor: José de Alencar

José de Alencar - 

Resumo da Obra

Em um passeio pela fazenda, Berta, jovem pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, grandes olhos, 

negros, boca mimosa. E Miguel que era, alto, ágil, de talhe robusto e bem conformado, 

encontram Jão Fera, homem de grande estatura e vigorosa compleição, que tinha fama de 

bandido. Após um desentendimento entre Jão Fera e Miguel ele vai embora a pedido de Berta.


Os dois amigos vão ao encontro de Linda e Afonso, irmãos gêmeos de cabelos castanhos e olhos 

pardos, filhos de Luís Galvão que era um bonito homem, de fisionomia inteligente e regular 

estatura, e de D. Ermelinda de 38 anos. Linda ama Miguel. Berta e Miguel se amam. Mas pra 

não fazer sofrer a amiga Linda, Berta faz de tudo para que Miguel ame Linda. E consegue.


Ficam sabendo que Luís Galvão vai fazer uma viagem para Campinas e que a mãe deles estava 

com mau pressentimento. Berta fica assustada, pois acha que Jão Fera está por trás disso, e 

parte pela floresta para evitar a emboscada. Chegando lá discute com ele que lhe tem muito 

amor, e consegue evitar o assassinato. Havia sido contratado por Barroso homem 

de cinqüenta anos, uma barba ruiva e áspera, de mediana estatura e excessivamente magro. 

Este fica furioso ao saber que ele não cumprira o acordo. Jão fica em débito com Barroso e 

precisa de cinqüenta mil réis para saldar a divida.


Todos gostavam muito de Berta, pois era alegre e de bom coração. Visitava 

constantemente Zana, uma mulher com problemas mentais.


Brás de 15 anos era feio, e descomposto em seus gestos. Tinha um ar pasmo, um olhar morno, 

com expressão indiferente e parva, ele também tem problemas mentais, ao sentir ciúme de 

Berta ele tenta matar Zana, é repreendido por Berta e se arrepende. Brás era filho de uma 

irmã de Luis Galvão, que morrera viúva, e por isso ele vivia na casa de seu tio. Ele dera a 

Berta o apelido de Til, pois quando ela lhe ensinava o abc ele achava o til do alfabeto gracioso, 

então o associou a Berta a quem queria muito bem.

Pelo assassinato de Aguiar, do Limoeiro, seu filho oferecera uma recompensa a quem matar o 

assassino Jão Fera. Avisado do acontecido por Chico, Jão pede que este vá ate o filho de 

Aguiar do limoeiro e peça cinqüentamil reis em troca Jão Fera ira a seu encontro.

Barroso e seu bando planejam provocar um incêndio na casa de Luis Galvão para matá-lo e 

depois apagando o incêndio Barroso pretende oferecer seus serviços à viúva e conquistá-la. 

Vingando assim a traição do passado, pois ficaria com a esposa daquele que manchara a honra 

de sua esposa Besita.

Ribeiro trocara seu nome para Barroso, tinha agora uma irrupção no rosto, Jão e Ribeiro 

tinham-se visto poucas vezes na época de Besita, por isso não se reconheceram quando se 

encontraram.


Na noite são João, Gonçalo, o pajem Faustino e Monjolo, trancam a senzala e ateiam fogo no 

canavial, Luis tenta apagar o fogo e  agredido pelas costas por Gonçalo, Jãoo salva, e mata os 

três bandidos. Barroso foge.


Conforme o combinado, João se entrega ao filho de Aguiar, diz que ira pra onde ele quiser 

desde que ninguém toque nele, pois se isso acontecer esta desfeito o acordo e ele estará livre 

novamente. Os capangas tentam amarrá-lo, ele espanca todos e vai embora.

Barroso que ficara sabendo dessa prisão, volta para tentar matar Berta, Jão que estava solto 

novamente consegue pegá-lo e o mata de forma violenta. “Quem o visse dilacerando a vítima 

com as mãos transformadas em garras, pensaria que a fera de vulto humano ia devorar a 


presa e já palpitava com o prazer de trincar as carnes vivas do inimigo.”

Brás que presenciara tudo e como não gosta dele, leva Berta pra ver a cena. Ela foge 

horrorizada. Ele tenta explicar o ocorrido, ela bate-lhe no rosto. Percebendo que ela agora lhe 

tem asco, João se entrega a policia.


Luís resolve contar tudo a esposa, ela chora e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. 

Contam tudo a Berta, omitindo porem as circunstancias desagradáveis, Berta sente que estão 

escondendo algo.

Jão foge da prisão e procura Berta, ela o faz prometer que nunca mais matara ninguém. Ele 

fala de Besita sua mãe e ela lhe implora que conte tudo. Ele conta.


Besita era a moça mais bonita da cidade, vivia com seu pai Guedes, Luís Galvão e Jão Fera, 

que eram amigos, apaixonam-se por ela, Jão achando que ela nunca o amaria abre mão desse 

amor para Luís, este só quer divertir-se não pretende casar-se, ela conhece Ribeiro e aceita 

casar-se com ele, Jão fica Furioso e se afasta deLuís. Besita casa-se com Ribeiro que 

desaparece logo depois do casamento, após receber um bilhete chamando-o com urgência a Itu

Alguns meses depois Besita e avisada por Zana que seu marido chegara, era noite, e no escuro 

ela se entrega as caricias do marido, depois descobre que não era ele e 

sim Luís Galvão. Jãopensa em matá-lo por isso mas ela o impede. Meses depois Luís casa-se 

com D. Ermelinda e nasce Berta filha de Besita. Elas vivem isoladas, moram com ela Zana que 

amamenta o bebe e Jão Fera, que cuida delas como um cão fiel.

Um dia Besita pede a Jão que vá a Itu comprar algumas coisas para o bebe. Durante sua 

ausência, aparece Ribeiro, que a acusa de traição e a estrangula, Jão chega e consegue salvar 

Berta, Ribeiro foge.

Nhá Tudinha, mãe de Miguel, ouve choro vindo da casa de Besita e vai ate lá, Jão conta o 

acontecido e ela adota Berta como sua filha. Zana enlouquece e continua morando na casa 

de Besita e tendo alucinações com a morte dela. Jão torna-se capanga e matador, tentando 

aplacar a furiosa sede de vingança que tem.

Ela o abraça e diz que ele cuidou dela e que e seu pai. Jão passa a trabalhar na terra.


Luís quer que Berta vá morar com ele e sua família, ela se nega e pede que leve Miguel que 

ama Linda. Miguel tenta convencê-la a ir junto, mas ela recusa. “Não, Miguel. Lá todos são 

felizes! Meu lugar é aqui, onde todos sofrem.” Eles partem para São Paulo. Berta fica.

“Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores 

da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam 


nas almas, subvertidas pela desgraça.”
                    



VIAGENS NA MINHA TERRA" ALMEIDA GARRETT
Autor: Almeida Garret

Classificação da Obra: Romance Histórico
  
Numero de capítulos: 49 capítulos
  
Ação principal: O autor resolve fazer uma viagem de Lisboa a Santarém de comboio, com a intenção de 


conhecer as ricas várzeas desse Ribatejo, e assim saudar do alto cume a mais histórica e monumental das 

vilas de Portugal. Paralelamente as paisagens visitadas o autor e narrador , presenteiam os presentes com 

um romance de amor.
  
Tipo de ação: Encadeada
  
Personagens Principais: Joaninha e Carlos, protagonistas da história de amor.

Personagens Secundarias: A avó de Joaninha – D. Francisca, Frei Dinis, Georgina, Júlia.
  
Narrador:  Participante
  
Espaço principal: A história contada do romance de amor, passa-se em 1932, e é narrada por Almeida 


Garrett, aos participantes da viagem. O mesmo Almeida é o cronista narrador.

Tempo Histórico:  séc. XIX

Tempo



A ação decorre durante uma viagem que Garrett faz de Lisboa a Santarém, além de discorrer sobre a paisagem, seus devaneios, o levam até este romance.
  
Resumo

“Viagens na Minha Terra”, pode ser considerado um romance contemporâneo. Um livro difícil de enquadrar 


em género literário, pelo hibridismo que apresenta, além da viagem que de fato acontece, paralelamente o 

autor conta um romance sentimental.

O conteúdo da obra, parte, como já dissemos, de um fato real, uma viagem que Garrett fez a Santarém e que 


teve o cuidado de situar no tempo. Além da viagem real, Garrett, faz nas suas divagações, várias viagens 

paralelas. Tantas e tais viagens, que numa delas o leva justamente, e pela mão de um companheiro de 

itinerário, a centrar-se no drama sentimental de Carlos e a”menina dos rouxinóis”- Joaninha.

O Romance resume-se, a intricada história, de uma velhinha com sua neta Joaninha. A menina –moça, tem 


um primo, filho da única filha da avó, que já falecera. A moça tinha por si só a avó. Todas as semanas, Frei 

Dinis, vinha visitá-las, e algumas vezes trazia notícias de Carlos, que já algum tempo, fazia parte do séquito 

de D. Pedro.

Só que a maneira como Frei Dinis falava de Carlos, dava para  perceber algo, que só a idosa e Frei Dinis 


conheciam. Passara o ano de 1830, Carlos formara-se em Coimbra, e só então visitou a família, mas com 

muitas reticências em relação a avó e Frei Dinis. Carlos também pressentia que ele e a avó mantinham um 

segredo.



Carlos, nas suas andanças, já tinha eleito uma fidalga  para ele: D. Georgina, mulher de fino trato.

No entanto a guerra civil progredia, eram meados de 1833. Os Constitucionalistas tinham tomado a Esquadra 


de D. Miguel, Lisboa estava em poder deles, e Carlos era um dos guerreiros da parte Realista.

Em 11 de Outubro, os soldados estão todos por volta de Lisboa, as tropas constitucionais vinham ao encalço 


das Realistas, e na batalha sangrenta, muitos ficaram feridos.


A casa de Joaninha foi tomada por soldados Realistas, que vigiavam a passagem dos Constitucionais.

Numa das andanças de Joaninha, por perto de casa, encontra Carlos, ele pede que não diga que ali está, 


mas abraçam-se e trocam juras de amor ali mesmo. Só que Carlos sabia que Georgina o esperava, e a sua 

mente tornou-se confusa, já não sabia se amava Georgina.


Com Carlos ferido e alojado perto do vale onde morava Joaninha, essa veio inúmeras vezes vê-lo, e ajudá-lo 

na enfermidade.

Certo dia Carlos depois de muita insistência de Joaninha foi ver a avó, e ficou surpreso da cegueira da 


mesma, por lá encontrou Frei Dinis, e quanto mais o olhava , menos gosto tinha.


Enquanto permaneceu por perto, Carlos e Joaninha mantiveram um tórrido romance.

Mas, Carlos, já refeito dos ferimentos seguiu para a tropa, e antes passa na casa da avó para se despedir. 


Implora que ela conte a verdade sobre o suspeito segredo. Então, Dona Francisca conta que o Frei Dinis é 

pai de Carlos, que a sua mãe morreu de desgosto, e para se defender, Frei Dinis mata o pai de Joaninha, e o 

marido da sua amante.



Com isso Carlos parte, deixando Joaninha desolada. Volta a viver com Georgina. Escreve à prima contando 

todo o seu romance com Georgina, o que para a moça foi um impacto terrível. Mais Tarde Carlos se fez 

Barão. Também abandona Georgina , que vira Abadessa.


Joaninha, enlouqueceu e morreu. Frei Dinis foi quem cuidou da velha senhora até á morte.



E assim o Comboio chega ao Terreiro do Paço, e Garrett finaliza mais uma das suas melhores obras.

Avaliação da Obra:

Viagens na Minha Terra é um livro da autoria de Almeida Garrett; na obra onde misturam-se o estilo 


digressivo da viagem real (que o autor fez de Lisboa a Santarém) e a narração novelesca em torno de 

Carlos, Frei Dinis e Joaninha.

As Viagens, publicadas em volume em 1846, são o ponto de arranque da moderna prosa literária portuguesa: 


pela mistura de estilos e de géneros, pelo cruzamento de uma linguagem ora clássica ora popular, ora 

jornalística ora dramática, ressaltando a vivacidade de expressões e imagens, pelo tom oralizante do 

narrador, Garrett libertou o discurso da pesada tradição clássica, antecipando o melhor que a este nível havia 

de realizar Eça de Queirós.

Mas as Viagens valem também pela análise da situação política e social do país e pela simbologia que Frei 


Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal 

velho, absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito renovador e liberal. No entanto, o 

fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre 

miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.

No século XIX e em boa parte do século XX, a obra literária de Garrett era geralmente tida como uma das 


mais geniais da língua, inferior apenas à de Camões. A crítica do século XX (notavelmente João Gaspar 

Simões) veio questionar esta apreciação, assinalando os aspectos mais fracos da produção garrettiana. 

No entanto, a sua obra conservará para sempre o seu lugar na história da literatura portuguesa, pelas 


inovações que a ela trouxe e que abriram novos rumos aos autores que se lhe seguiram. Garrett, até pelo 

acentuado individualismo que atravessa toda a sua obra, merece ser considerado o autor mais representativo 

do romantismo em Portugal.


Principais dados sobre o Autor:

Almeida Garrett nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1799, o nome de batismo era João Leitão da Silva. 

Quando estudante em Coimbra adotou o nome que o tornou célebre: Almeida Garrett, sendo o último nome 

da avó paterna. Grande escritor, a tradição reteve de Garrett a imagem do homem elegante, do dândi que 

ditava moda no Chiado. Dominava tanto a prosa como o verso. Morreu em 9 de Dezembro de 1854, quando 

trabalhava no romance HELENA.

Primeiros anos


João Baptista da Silva Leitão nasceu no Porto a 4 de Fevereiro. Na adolescência foi viver para os Açores, em 

Angra do Heroísmo, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era 

instruído pelo tio, D. Alexandre, bispo de Angra. Em 1816 seguiu para Coimbra, onde se matriculou no curso 

de Direito. Em 1818 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que lhe custou um processo por ser considerado 

materialista, ateu e imoral. E neste mesmo ano que ele e sua família passam a usar o apelido de Almeida 

Garrett.

Presença nas lutas liberais


Participou da revolução liberal de 1820, seguindo para o exílio na Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada. 

Antes havia casado com Luísa Midosi, de apenas 14 anos. Foi em Inglaterra que tomou contato com o 

movimento romântico, descobrindo Shakespeare, Walter Scott e outros autores e visitando castelos feudais e 

ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que se refletiriam na sua obra posterior. Em 1824, seguiu para 

França, onde escreveu Camões (1825) e Dona Branca (1826), poemas geralmente considerados como as 

primeiras obras da literatura romântica em Portugal. Em 1826 foi amnistiado e regressou à pátria com os 

últimos emigrados dedicando-se ao jornalismo, fundando e dirigindo o jornal diário O Português (1826-1827) e

o semanário O Cronista (1827). Teria de deixar Portugal novamente em 1828, com o regresso do Rei 

absolutista D. Miguel. Ainda nesse ano perdeu a filha recém-nascida. Novamente em Inglaterra, publica 

Adozinda (1828) e Catão (1828).



Juntamente com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, tomou parte no Desembarque do 

Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833.

Vida política


A vitória do Liberalismo permitiu-lhe instalar-se novamente em Portugal, após curta estadia em Bruxelas 

como cônsul-geral e encarregado de negócios, onde lê Schiller, Goethe e Herder. Em Portugal exerceu 

cargos políticos, distinguindo-se nos anos 30 e 40 como um dos maiores oradores nacionais. Foram de sua 


iniciativa a criação do Conservatório de Arte Dramática, da Inspecção-Geral dos Teatros, do Panteão 

Nacional e do Teatro Normal (atualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Mais do que construir um 

teatro, Garrett procurou sobretudo renovar a produção dramática nacional segundo os cânones já vigentes 

no estrangeiro.


Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett afasta-se da vida política até 

1852.Contudo, em 1850 subscreveu, com mais de 50 personalidades, um protesto contra a proposta sobre a l

iberdade de imprensa, mais conhecida por “lei das rolhas”.

Garrett sedutor



A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 20 e 30, distinguiu-se posteriormente sobretudo como o tipo perfeito do dandy, ou janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal. Separado da esposa, passa a viver em mancebia com D. Adelaide Pastor até à morte desta em 1841. A partir de 1846, a sua musa é a viscondessa da Luz, Rosa Montufar Infante, inspiradora dos arroubos românticos das Folhas caídas. Em 1851, Garrett é feito visconde de Almeida Garrett em duas vidas, e em 1852 sobraça, por poucos dias, a pasta dos Negócios Estrangeiros em governo presidido pelo Duque de Saldanha. Falece em 1854, vítima de cancro.


O Sentimento do Mundo - Carlos Drummond de Andrade

Resumo do Livro:
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
(poema: Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade)
Os poemas de Sentimento do mundo foram produzidos entre 1935 e 1940. São 28 no total.

Poema: Sentimento do mundo
O primeiro poema (que deu nome ao livro) revela a visão-de-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante.
O poeta inicia (estrofe 1) indicando suas limitações para ver o mundo: “Tenho apenas duas mãos”; mas aponta, em seguida, alguns elementos auxiliares que o ajudarão a suprir suas deficiências de visão: escravos, lembranças e o mistério do amor (versos 3 a 5); escravos podem ser os meios escusos de que nos utilizamos para tocar a vida e decifrá-la e dela nos aproveitarmos.
O pessimismo denuncia-se com as mortes do céu e do próprio poeta, na estrofe 2.
Apesar da ajuda incompleta dos companheiros de vida (“Camaradas”), o poeta não consegue decifrar os códigos existenciais e pede, humilde, desculpas.
Nas duas últimas estrofes, Drummond pinta uma visão de futuro bem negativo, mas bem real: mortos, lembranças, tipos de pessoas que sumiram nas batalhas da vida (“guerra”, na estrofe 3).
Conclui, na estrofe 5, que o futuro (“amanhecer”) é bem negro, tenebroso. Feita só de dois versos, sintetiza seu sentimento do mundo.
Os demais 27 poemas são nuances, explicações dessa amarga visão inicial da vida.

Poema: Confidência do Itabirano
O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: “A vontade de amor (...) vem de Itabira”; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação de Drummond viver de “cabeça baixa” (estrofe 3), verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.

Poema: O operário do mar
O texto número 6 faz o autor escapar da linguagem poética material (versos) e se apropriar dessa linguagem poética sem versos, mas bastante poesia imaterial, em belo painel-definição explicita a grande diferença social entre operários e não-operários.
Esta belíssima crônica poética, de base surrealista – tão em voga nos anos trinta, quarenta – serve bem para duas constatações:
1ª) o sentimento socialista de Drummond que iria espraiar-se cinco anos após Sentimento do mundo, na publicação de Rosa do povo, em 1945;
2ª) a visão-de-mundo onírica e bem poética de um operário universalizado em São Pedro; ele anda sobre águas por graça de Deus, enquanto burgueses se espantam por não poderem realizar a mágica; isto é, aos humildes: a magia divina, aos prepotentes: a inveja.
Esta crônica poética também pode permitir que se compare a “apreensão do mistério da palavra” nos poemas explícitos de Drummond diante desta prosa poética; por exemplo: “minhas lembranças escorrem” (Sentimento do mundo, estrofe 1, verso 4) e “feixes escorrem” (das mãos do operário, em O operário no mar, linha 26). O mistério poético de lembranças escorrem é bem mais profundo do que peixes escorrerem imaginariamente das mãos do operário.

Poema: Privilégio do mar
No poema 12, o autor continua detendo-se alegoricamente no problema social das diferenças humanas.

Poema: Inocentes do Lelbon
Ainda no enfoque da visão social, o poeta fala da riqueza: “inocentes” significa os que querem ignorar; por isto fingem e se aproveitam.

Poema: La possession du monde
Neste poema 17, Drummond indica o membro da Academia Francesa de Letras, em 1884, Georges Duhamel, pedindo uma risível fruta estragada; como se isso fosse, como diz o título do poema, ter o mundo nas mãos.

Poema: Ode no cinqüentenário do poeta brasileiro
O belo elogio do poema 18 é a palavra drummondiana a Manuel Bandeira, nascido em 1886 e que, em 1936, completava 50 anos de vida. Drummond pede que “seu canto confidencial (a poesia de Bandeira) ressoe acima dos vãos disfarces do homem”!
E para concluir esta fugaz visão do livro Sentimento do mundo, fiquemos com as palavras do último poema, Noturno à janela do apartamento: “ A vida na escuridão absoluta, como líquido, circunda”.

 

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis


Autor Resumo do Livro:
Memórias póstumas de Brás Cubas  conta a história de Brás Cubas a partir de sua morte, já que inicialmente o próprio narrador observa que para tornar a narrativa mais interessante e "galante" havia decidido começá-la pelo fim; ele era, portanto, não um autor defunto, mas um defunto autor. Assim, o primeiro capítulo começa justamente com a morte de Brás e seu enterro. 

A causa de sua morte havia sido, oficialmente, uma pneumonia, da qual ele não cuidou de forma correta. Entretanto, sua morte de fato deve-se a uma idéia, segundo ele, grandiosa e útil, uma idéia que se transformou em fixação. Um dia de manhã, caminhando pela chácara onde vivia, pensou em inventar um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a melancólica humanidade. Para justificar a criação de tal emplasto frente às autoridades, Brás chamou a atenção de que a cura que traria seria algo verdadeiramente cristão, além de não negar as vantagens financeiras que tal produto traria. Contudo, já do outro lado do mundo, confessa que o real motivo era ver seu nome escrito nas caixinhas do medicamento e em todas as fontes publicitárias, pois as embalagens levariam seu nome. 

Brás Cubas nasceu no dia 20 de outubro de 1805. Foi uma grande festa para toda a família. Houve muitas visitas à sua casa e o pai estava orgulhoso por haver tido um filho homem. Todas as informações dadas são curtas, mas revelam os mimos recebidos pelo garoto durante toda a infância. Desde os cinco anos recebera o apelido de "menino diabo". Reconhece ele mesmo que, de fato, foi um dos mais malvados e travessos de seu tempo. Uma de suas diabruras foi ter quebrado a cabeça de uma escrava porque ela lhe negara uma colher de doce de coco, quando o menino tinha seis anos. Prudêncio, um moleque escravo da família, era seu cavalo de todos os dias. Brás conta ainda outras diabruras que fazia, entretanto, nada disso parecia ter importância para seu pai, que o admirava e, se lhe repreendia na presença dos outros, em particular lhe dava beijos. 

Com nove anos, o garoto assistiu em sua casa a um jantar organizado pelo pai em comemoração à derrota de Napoleão. No final do jantar, Brás queria uma compota de doces, mas todos estavam distraídos escutando um dos letrados presentes, o doutor Vilaça, que fazia glosas e recebia, naquele momento, todas as atenções dos convidados. O menino começou a pedir o doce, depois gritou, berrou e foi tirado da sala por tia Emerenciana. Isso bastou para que sentisse uma enorme necessidade de vingança contra o doutor Vilaça. Ficou vigiando-o até surpreendê-lo numa moita beijando dona Eusébia, irmã de um sargento-mor. Para que todos soubessem, saiu pela chácara gritando o que havia visto. 

Em seguida, após relatar tal episódio, Brás conta que cresceu normalmente. Foi à escola, que ele chama de enfadonha, onde teve aulas com um professor de nome Ludgero Barata. É justamente ali que conhece um de seus melhores amigos de infância, Quincas Borba, com quem se reencontrará mais tarde. Ambos os garotos revelam-se travessos e mimados, já que o Quincas era filho único, adorado pela mãe, que o vestia muito bem, mandando um pajem indulgente acompanhá-lo a todos os lugares. 

Passado este período da vida do personagem, sobre o qual ele pouco fala, revela-nos seu caso com uma prostituta espanhola, a primeira mulher de sua vida. Brás a conheceu quando tinha dezessete anos. O jovem estava completamente envolvido pelos encantos da bela Marcela, a quem conseguiu  conquistar, o que, contudo, lhe custou muitas jóias caras e presentes diversos. Brás confessa-se muito apaixonado neste período, motivo pelo qual o pai o enviou para estudar na Europa, receoso do envolvimento profundo do filho com uma prostituta. 

Brás Cubas viaja para Portugal, onde estuda. Confessa haver sido um estudante medíocre, mas nem por isso deixou de conseguir o diploma. Nos tempos da universidade, apenas mencionados, preferia sair a fazer qualquer tipo de tarefa ou estudo. O diploma que lhe conferem estava longe de representar o conhecimento artificial que havia adquirido, artificialidade esta que marcou toda sua vida e as ações das pessoas que estavam à sua volta. 

De volta ao Rio, Brás chega a tempo de ver sua mãe viva, mas já muito mal, à beira da morte, por causa de um câncer no estômago. Pela primeira vez, deparava-se com uma perda real e confessa que até então era um presunçoso que apenas havia se preocupado por coisas fúteis. Estava inconformado com a morte da mãe, pois lhe parecia uma enorme injustiça que uma pessoa tão santa, em seu julgamento, pudesse morrer de tão implacável doença. Por isso mesmo, após a missa de sétimo dia, resolveu passar algum tempo numa velha propriedade da família localizada na Tijuca. Levou consigo alguns livros, uma espingarda, roupas, charutos e Prudêncio. Ali ficou durante uma semana, quando então já se mostrava cansado da solidão e havia decidido voltar à cidade. 

Justamente neste momento, o escravo conta ao patrão que na noite anterior havia se mudado para a casa ao lado, uma antiga amiga da família, dona Eusébia, com uma filha. Brás reluta, não quer revê-la, já que se lembra da travessura de infância, quando denunciara a mulher e o doutor Vilaça que se beijavam às escondidas atrás de uma moita. Prudêncio, entretanto, recorda-lhe que fora dona Eusébia quem vestira sua mãe já morta. Ele decide, assim, visitá-la para retornar em seguida para a cidade. 

Nesse mesmo dia, o pai de Brás sobe à chácara, pois quer sua volta à vida social. Traz consigo dois projetos para o filho: uma candidatura a deputado e um excelente casamento com uma moça de nome Virgília, filha do conselheiro Dutra, importante político. Brás reluta, mas o pai não se deixa vencer. Aconselha o filho, dizendo-lhe que ele não devia ficar ali, era preciso temer a obscuridade, as coisas pequenas. Conclui dizendo que o fundamental era valer pelo que a sociedade pensava. Brás concorda, finalmente, com os projetos e diz que descerá no dia seguinte, já que antes precisava visitar dona Eusébia. 

De fato, a visita à velha amiga da família retardou a descida de Brás, que permaneceu ainda alguns dias na chácara. Foi ali que conheceu Eugênia, a quem ele mentalmente chamava "a flor da moita", pois a jovem era fruto das relações ilícitas entre dona Eusébia e o doutor Vilaça. O narrador simpatiza com a jovem e, mais que isso, pensa que pode tirar proveito da situação. Cinicamente, lembra-se de como era a mãe, motivo pelo qual espera conseguir algo da filha. Consegue, é verdade, beijá-la, entretanto, a moça revela-se dona de enorme dignidade, o que confunde Brás Cubas. Além disso, ele descobre que Eugênia tem um defeito de nascença: é coxa. Todos esses aspectos fazem com que ele confirme que não se deve envolver seriamente com ela, já que, além de tudo, ela estava em condição social inferior à sua. 

Resolvido a terminar qualquer tipo de relacionamento, Brás volta à cidade, disposto a acatar os dois projetos do pai. Conhece Virgília, começam a namorar e ele está em vias de candidatar-se. Neste ínterim, passa por um ourives certo dia para consertar o vidro do relógio que lhe havia caído e depara com Marcela, que agora está com o rosto repleto de bexigas. A beleza de sua juventude desaparecera, dando lugar à deformação, que o narrador faz questão de descrever detalhadamente. Aquela visão o incomoda por algum tempo, entretanto não dura muito, como praticamente todos seus problemas. 

Algum tempo depois de seu noivado com Virgília, surge, de repente, Lobo Neves, homem inteligente e astuto, que lhe arrebata Virgília e a candidatura. O pai não resistiu ao fracasso do filho, o que teria acelerado sua morte, quatro meses depois, tempo durante o qual ele repetia decepcionado a expressão "Um Cubas", inconformado com a sorte do herdeiro da família. 

Passada a morte do pai, os irmãos Brás e Sabina, com a participação de Cotrim - marido de Sabina -, fazem a partilha dos bens. Arma-se uma grande e mesquinha discussão, os dois brigam por causa da herança deixada pelo pai, desde propriedades até a prataria, motivo de grande desavença, pois nenhum dos irmãos queria abrir mão da antiga relíquia da casa, usada em ocasiões importantes como o jantar em comemoração à derrota de Napoleão. No fim da disputa, os dois irmãos saíram brigados e já não conversavam entre si. 

Por esta mesma época, Brás recebe de Luís Dutra, um primo de Virgília, a notícia de que ela estava voltando de São Paulo com o marido, então deputado. Encontram-se um dia e ela estava lindíssima. Algum tempo depois, como haviam se encontrado em dois outros bailes, o marido de Virgília convidou Brás Cubas para uma reunião íntima em sua casa. Brás, por essa época, escrevia textos literários e políticos em um jornal. Foi justamente nesta noite que os dois antigos noivos tiveram um maior contato. A partir daí, reataram sua antiga união, sobre a qual o narrador relata vários encontros e a paixão que sentiam naquele momento. 

Certo dia, foi à casa de Virgília e encontrou-a triste, pois lhe parecia que seu marido desconfiava de alguma coisa. Para Brás, a melhor maneira de resolver o problema era que fugissem, mas Virgília não concordou. O marido chegou justamente nesse momento, e ela comportou-se como se nada houvesse acontecido, tratando friamente a Brás, o que lhe dá um terrível ódio de Virgília. No dia seguinte, ela o procurou com a idéia de que eles deveriam arrumar uma casinha onde se encontrariam, um lugar que seria só deles, já que sempre se encontravam na presença de outras pessoas, principalmente do marido. 

A casinha da Gamboa foi, de fato, a saída encontrada pelos amantes para que pudessem continuar seu romance, pois grande parte da sociedade desconfiava de que havia algo entre os dois, por isso os comentários estavam cada vez maiores. Assim, a casinha foi importantíssima. Ali colocaram, D. Plácida, uma velha senhora amiga da família de Virgília e podiam encontrar-se com maior tranqüilidade. 

Algum tempo depois, entretanto, Lobo Neves foi convidado a ocupar uma presidência da província no Norte. Os amantes ficaram desesperados, mas a saída foi dada pelo próprio marido, que convidou Brás a acompanhá-lo como seu secretário. Estava ainda relutante, pois toda a gente comentava seus amores com Virgília. Entretanto, o próprio Lobo Neves resolveu o problema ao recusar a nomeação. Tudo porque o decreto que o nomeava trazia o número 13, que ele considerava fatídico por vários acontecimentos tristes de sua vida. Dessa forma, o casal continuou vivendo seu relacionamento da mesma maneira que antes, na casinha da Gamboa. 

Durante tais acontecimentos, Brás Cubas se reencontra com Quincas Borba, que está em uma situação deplorável, tornara-se um mendigo. Quincas acaba roubando o relógio de Brás Cubas neste encontro. Ainda nesse período, ocorre a reconciliação com a família, motivo de alegria para o narrador, que volta a visitar regularmente a irmã Sabina. Ela, como sempre, continua insistindo na idéia de que Brás precisava se casar, um homem em sua posição não podia continuar sem um herdeiro para o nome da família. 

No entanto, o amor de Brás Cubas e Virgília, neste momento, vive seu ponto máximo, já que ambos haviam passado pela possibilidade de separação em virtude da nomeação de Lobo Neves, o que fortaleceu o sentimento que os unia. Além disso, Virgília disse estar grávida. Brás não perde a oportunidade de comentar que aquele era um embrião de "obscura paternidade", imaginava-o como sendo seu filho, dono de um belo futuro, vendo-o ir à escola, tornando-se bacharel e discursando na câmara dos deputados. 

Contudo, Virgília perdeu o filho que estava esperando. Além do mais, o marido recebeu uma carta anônima acusando os dois amantes. A mulher negou veementemente que aquilo pudesse ter qualquer fundo de verdade, mas como Lobo Neves ficara desconfiado, Brás afastou-se da residência do casal, mesmo porque o espaço da Gamboa continuava resguardado. Algum tempo depois, Lobo Neves acabou reatando suas relações com o Ministério, desgastadas devido à sua recusa em aceitar o cargo anterior, conseguindo desta vez uma posição de presidente de província. O narrador brinca com o número do decreto, 31 agora, ressaltando que a simples inversão dos algarismos bastou para que a vida tomasse novo rumo. 

Brás e Virgília mantêm um curto diálogo antes da partida, despedem-se e ele conta que depois que ela viajou sentiu um misto de alívio e saudade em doses iguais. Não houve desespero, nem mesmo dor, o fato trouxe-lhe apenas alguns poucos dias de reclusão em sua casa e uma pequena amostra do que era a viuvez. Morreram seu tio cônego, Ildefonso, e dois primos, pelos quais ele não sofreu. Também nasceu sua segunda sobrinha. Segundo ele, esta era a filosofia das folhas velhas, que caem e morrem, enquanto outras nascem. Ele mesmo agitava-se de quando em quando e recorria às suas cartas de juventude. 

Tal reclusão, entretanto, como qualquer de seus pensamentos mais profundos, passou rapidamente, em especial pelo reaparecimento de Quincas Borba e seu envolvimento com Dona Eulália, chamada familiarmente de  Nhã-Loló. A jovem tinha dezenove anos, era filha de Damasceno, faltava-lhe certa elegância, segundo Brás, mas tinha belos olhos e uma expressão angelical. O narrador conheceu-a ainda quando Virgília estava no Rio de Janeiro e estava grávida. Sabina insistia na idéia de que Nhã-Loló seria uma excelente esposa para o irmão, que se esquivava por aquela época. Entretanto, quando se deu conta, estava praticamente nos braços da jovem e acabaram ficando noivos três meses após a viagem de Virgília. Acontece, porém, que a jovem morreu repentinamente, antes do casamento, fato que nos vem anunciado não pela voz do narrador, mas sim pela apresentação do epitáfio. 

Em relação ao Quincas Borba, ele reaparece após ter recebido uma herança e voltado a ocupar boa posição social. O narrador observa que o amigo está com um comportamento um pouco estranho. Quincas defende uma filosofia criada por ele mesmo, o Humanitismo. Diz o filósofo que o mundo é uma projeção de Humanitas, que seria a substância de todas as coisas existentes, da qual elas emanam e para a qual convergem. Dito de outra maneira, para ele, todos os homens são iguais entre si, já que trazem consigo uma parte da tal substância original e todas suas atitudes têm uma explicação que busca o equilíbrio do mundo, mesmo que por meio da guerra e da violência, já que tudo deve voltar para onde começou. 

Nesse sentido, ainda na visão do filósofo Quincas Borba, mesmo aquilo que nos parece negativo tem uma função essencial. Segundo o seu sistema, a dor e o sexo são excluídos do mundo, enquanto a guerra, a fome e outras formas de violência existem para que o meio possa selecionar aqueles que são mais fortes _ . Os mais fracos não sobrevivem e assim deve ser. Além de tudo, devem sentir-se felizes também, já que estão tomando parte do sistema do Humanitas. Em outros termos, estes mais fracos, mesmo derrotados, estariam servindo, de alguma maneira, ao princípio do qual descendem, que prevê tais injustiças como forma de equilibrar o mundo ou até mesmo de quebrar a monotonia universal. 

Brás Cubas, desde que conhece os princípios do Humanitismo até o final de sua vida, esteve tentando entender melhor tal sistema, sempre relacionando-o a algum acontecimento cotidiano de sua vida, questionando sua validade ou não. Articula, então, uma série de teorias e preocupações filosóficas, presentes inclusive em seu delírio. Ali também o onça mata o novilho, pela sua sobrevivência, o mais forte vence o mais fraco. Segundo o Humanitismo, não há outra saída par a existência, de maneira que mesmo as coisas negativas devem ser vistas como necessárias e justificadas, por fazerem parte do sistema universal, por saírem daquela tal substância básica da qual saímos todos e para a qual voltaremos, segundo Quincas Borba. 

Quincas será uma personagem com quem Brás se encontra muitas vezes a partir desse momento até a sua morte. Quanto à vida diária, depois de algum tempo Brás tornou-se deputado e Lobo Neves voltou ao Rio. Ambos estavam na mesma câmara e Brás ouvia um discurso proferido pelo marido de Virgília. Não sentiu nenhum tipo de remorso e reencontrou a antiga amante num baile em 1855. Observou que continuava muito bonita, ainda que fosse, claro, uma beleza diferente. Os dois conversaram muito, mas sem falar do passado. Brás teve alguns momentos de reflexão e uma certa tristeza. Tinha cinqüenta anos! Mas o Quincas garantiu-lhe que ele não poderia estar preocupado, já que era a idade da ciência e do amadurecimento. Brás decidiu então que participaria de maneira mais ativa das discussões, já que tinha sido sempre um político afastado dos problemas, assim como o era na vida pessoal. Almejava o cargo de ministro, coisa que também não conseguiu e nem mesmo a explicação através de Humanitas que lhe deu Quincas foi capaz de animá-lo. 

Passado algum tempo, Brás recebe uma carta de Virgília pedindo-lhe que vá ver Dona Plácida, que está morrendo na miséria. Ele pensa recusar, mas acaba indo, ajuda à mulher que lhe serviu de alcoviteira durante tanto tempo. Morre Dona Plácida e Brás decide fundar um jornal, que era uma aplicação política do Humanitismo. Era um jornal oposicionista, o que preocupou Cotrim, que rompeu relações com o cunhado. Algum tempo depois, morreu Lobo Neves, Brás Cubas reconciliou-se novamente com o cunhado e filiou-se a uma Ordem Terceira, responsável por ajudar as pessoas necessitadas. Cansou-se depois de alguns meses. Na Ordem Terceira encontrou Marcela, que morreu no mesmo dia em que ele visitava um cortiço no qual encontrou Eugênia, segundo ele, tão coxa como a deixara e ainda mais triste. 

Finalmente, Brás conta que Quincas Borba partiu para Minas Gerais algum tempo antes e, ao voltar, estava louco. E, o mais triste e paradoxal, tinha consciência de sua loucura. O narrador explica que entre a morte do Quincas Borba e a sua aconteceram os episódios narrados no começo do livro, em especial a idéia fixa da criação do emplasto Brás Cubas. Conclui sua longa e entrecortada narrativa através de um capítulo que busca resumir a vida pela negação: não alcançou a celebridade, não foi califa, não se casou, não foi ministro. Entretanto, observa que a negação também pode ser positiva: não padeceu a morte de Dona Plácida ou a demência do Quincas Borba. Assim, alguns leitores até poderiam imaginar que ele saiu quite com a vida. Mas não. A negativa última revela o ceticismo do narrador em relação ao mundo diz que ao não ter tido filhos seu saldo foi positivo, pois assim não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

O Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente
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Resumo do livro:
Auto da Barca do Inferno é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, ma apenas o Anjo absolve. O primeiro a chegar é um Fidalgo, a seguida um agiota, um Parvo (bobo), um sapateiro, um frade, uma cafetina, um judeu, um juiz, um promotor, um enforcado e quatro cavaleiros. Um a um eles aproximam-se do Diabo, carregando o que na vida lhes pesou. Perguntam para onde vai a barca; ao saber que vai para o inferno ficam horrorizados e se dizem merecedores do Céu. Aproximam-se então do Anjo que os condena ao inferno por seus pecados. O Fidalgo, o Onzeneiro (agiota), o Sapateiro, o Frade (e sua amante), a Alcoviteira Brísida Vaz (cafetina e bruxa), o judeu, o Corregedor (juiz), o Procurador (promotor) e o enforcado são todos condenados ao inferno por seus pecados, que achavam pouco ou compensados por visitas a Igreja e esmolas. Apenas o Parvo é absolvido pelo Anjo. Os cavaleiros sequer são acusados, pois deram a vida pela Igreja. O texto do Auto é escrito em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, flua naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu).

Memórias de um Sargento de Milícias

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Resumo do Livro:
Uma obra de transição para o Realismo. O livro conta a história do jovem Leonardo, filho de pais separados que é criado pelo padrinho barbeiro, sendo uma peste tanto criança quanto mais velho. No começo indicado para ser clérigo, sua rejeição a Igreja lhe leva a vadiar. Na companhia do padrinho na casa de D. Maria conhece Luisinha, por quem se apaixona. Luisinha no entanto se casa com um espertalhão de nome José Manoel.
Quando o padrinho morre ele volta a morar com o pai, mas por pouco tempo porque este o expulsa de casa por causa de seus desentendimentos com a madrasta. Vai morar na casa de um amigo dos tempos que era sacristão (o tio queria lhe preparar para a vida clerical) e conhece Vidinha, por quem se apaixona. Após muitas intrigas feitas pelos pretendentes de Vidinha, sai desta casa também e é nomeado pelo major Vidigal, figura policial constante na obra, soldado. Não param por aí suas diabruras e ofensas e sabotagens com o major lhe garantem a cadeia.
A madrinha e a tia de Luisinha intercedem em seu favor e este não é só liberto, mas promovido a sargento. Logo após isto morre José Manoel e reata o namoro com Luisinha. Transferido para as Milícias, casa-se com ela. A obra toda é um verdadeiro marco para a transição para o Realismo: os personagens não são idealizados, o amor não é supervalorizado e idealizado (e muito menos são as volúveis mulheres), o herói está longe de perfeito existe uma certa comicidade incomum nos romances da época.
Resumo do Livro
Em síntese, o enredo de Memórias de um Sargento de Milícias, “tecido, como observa Antônio Soares Amora no já citado Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, com muitas peripécias e intrigas, que não deixam, ainda hoje, de entreter e prender o leitor, pode resumir-se na história da vida de Leonardo, filho de dois imigrantes portugueses, a sabia Maria da Hortaliça e Leonardo, “algibebe” em Lisboa e depois meirinho no Rio do tempo do Rei D. João VI: nascimento do “herói”, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho abandonado mas sempre salvo de dificuldades pelos padrinhos (a parteira e um barbeiro); sua juventude de valdevinos; seus amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal, chefe de polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a proteção da madrinha, tudo tem “conclusão feliz”: promoção a sargento de milícias e casamento com Luisinha”.
Para que se tenha uma idéia mais precisa do conteúdo do livro no que se refere ao enredo, vamos transcrever aqui o resumo elaborado pelo Prof. José Rodrigues Gameiro em estudo sobre Memórias de um Sargento de Milícias, no qual o presente trabalho está apoiado.
A obra é dividida em duas partes: a primeira com vinte e três capítulos e a segunda com vinte e cinco.

Primeira Parte
I – Origem

Nascimento e Batizado. A novela se abre com a frase “Era no tempo do rei”, que situa a estória no século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora com uma patrícia, Maria da Hortaliça, sabia portuguesa. Daí resultou o casamento e... “sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, espemeador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem deixar o peito”.
Esse menino é o Leonardo, futuro “sargento de milícias” e o “herói” do livro.
O capitulo termina com o batizado do garoto, tendo a “Comadre” por madrinha e o. barbeiro ou “Compadre” por padrinho, personagens importantes da estória.
II - Primeiros Infortúnios.

Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o traía com vários homens; dá-lhe uma surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal.
O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega dele.
III - Despedida às Travessuras.

O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, ficou caído pelo garoto, concentrando todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas travessuras.
Depois de muito pensar, resolveu que ele seria padre.
IV - Fortuna.

Leonardo-Pataca apaixonou-se por uma cigana que também o abandona. Para atraí-la novamente, recorre a feitiçarias de um caboclo velho e imundo que morava num mangue. Na última prova, à noite, quando estava nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal...
V - O Vidigal.

Este capítulo descreve o Major - “um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão; tinha o olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada”. Era a polícia e a justiça da época, na cidade.
Depois de obrigar todos que se achavam na casa do caboclo a dançar, até não agüentarem mais, chicoteia-os e leva Leonardo para a “Casa da Guarda”, espécie de depósito de presos. Depois de visto pelos curiosos, é transferido para a cadeia.
VI - Primeira Noite Fora de Casa.

Leonardo filho vai acompanhar uma “Via Sacra” de rua”, muito comum naquela época, e junta-se a outros moleques. Acabam passando a noite num acampamento de ciganos. Descreve-se a festa e a dança do fado. De manhã, Leonardo pede para voltar para casa.
VII - A Comadre.

Era a madrinha de Leonardo - “uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade e benzia de quebranto...”. Gostava de ir à missa e ouvir o cochicho das beatas. Viu a vizinha do barbeiro e logo quis saber do que é que ela falava.
VIII - O Pátio dos Bichos.

Assim era chamada a sala onde ficavam os velhos oficiais a serviço de El-Rei, esperando qualquer ordem.
No meio deles, estava um Tenente-Coronel a quem a Comadre vai pedir para interceder junto a El-Rei para soltar Leonardo-Pataca.
IX - O Arranjei-me do Compadre.

O autor conta-nos como o barbeiro conseguiu arranjar-se na vida, apesar de sua profissão pouco rentável: improvisou-se de médico, ou melhor, “sangrador”, a bordo de um navio que vinha para o Brasil. O Capitão moribundo, entregou-lhe todas as economias para que as levasse à sua filha (do Capitão). Quando chegou a terra, ficou com tudo e nunca procurou a herdeira.
X - Explicações.

O Tenente-Coronel interessara-se pelo Leonardo porque, de certa forma, ele o havia livrado de certa obrigação: seu filho, um desmiolado, é que havia infelicitado a tal de Mariazinha, a Maria da Hortaliça, ex-mulher de Leonardo. Por isso empenha-se e, por meio de um outro amigo, consegue que El-Rei solte Leonardo.
XI - Progresso e Atraso.

Este capítulo é dedicado às dificuldades que o padrinho encontra para ensinar as primeiras letras ao afilhado e às implicâncias da vizinha. A seguir vem um bate-boca entre os dois, com o menino arremedando a velha, e com grande satisfação para o barbeiro que se julga “vingado”.
XII - Entrada para a Escola.

É uma descrição das escolas da época. Aborda a importância da palmatória e nos conta como o novo e endiabrado aluno leva bolos de manhã e à tarde.
XIII - Mudança de Vida.

Depois de muito esforço e paciência, o padrinho convence ao afilhado de voltar para a escola, mas ele foge habitualmente e faz amizade com o coroinha da Igreja. Pede ao padrinho, e este acede, para também ser coroinha. Pensava assim o barbeiro que seria meio caminho andado para se tomar padre. Como coroinha, aproveitou-se dessa função para jogar fumaça de incenso na cara da vizinha e derramar-lhe cera na mantilha. Vingava-se assim dela.
XIV - Nova Vingança e Seu Resultado.

Neste capitulo, aparece o “Padre Mestre de Cerimônias”, que, embora de um exterior austero, mantinha relações com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo-Pataca e fora causa de sua função. No dia da festa da Igreja da Sé, o Mestre de Cerimônia prepara-se orgulhosamente para proferir seu sermão.
O menino Leonardo, encarregado de avisar-lhe a hora do sermão, informa-lhe que será às 10 horas, quando na verdade devia ser às 9.
Um capuchinho italiano, para cooperar, e porque o pregador não chegava, começou a homilia.
Depois de algum tempo, chega o Mestre, furioso, e corre para o púlpito também. Após um bate-papo com o religioso, toma o lugar dele e continua o sermão. O resultado foi o sacristão ser despedido.
XV - Estralada.

Leonardo-Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é que lhe tirara a cigana e que este iria ao aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major Vidigal, que prende todo mundo, inclusive o Padre, e os leva para a “Casa da Guarda”.
XVI - Sucesso do Plano.

O Mestre de Cerimônias, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana, voltando para Leonardo, que recebe as censuras da Comadre.
Segunda parte
I - A Comadre em Exercício.

Aqui, o autor narra o nascimento da filha de Leonardo-Pataca e de Chiquinha. A Comadre faz o parto, e o autor aproveita para fazer interessante descrição dos costumes da época.
II - Trama.

A Comadre, numa aliança com o sobrinho e o Compadre contra José Manuel, inventa para D. Maria que este fora o raptor da moça na porta da Igreja (um caso policial da época).
III - Derrota.

José Manuel põe-se em campo para saber quem é seu adversário e quem tinha feito a intriga perante D. Maria.
IV - O Mestre de Reza.

Os mestres de reza da época eram geralmente cegos que ensinavam às crianças as primeiras rezas e o catecismo. Faziam-no á base da palmatória. O Mestre de Reza encarregou-se de descobrir, para José Manuel, quem era o intrigante.
V - Transtorno.

O Compadre morre e deixa Leonardo como seu herdeiro. Segue-se a cerimônia de luto e o enterro. Leonardo volta para a casa do pai. A Comadre, que também mora com a filha, faz agora as vezes do Compadre. Leonardo não se entende com a madrasta, Chiquinha.
VI - Pior Transtorno.

Leonardo, ao voltar da casa de Luisinha, aborrecido por não a ter visto, briga com Chiquinha. O pai intervém de espada, e Leonardo foge de casa.
A Comadre censura os dois e vai procurar o afilhado, enquanto os vizinhos comentam as ocorrências...
VII - Remédio dos Males.

Ao fugir de casa, Leonardo encontra o antigo colega, o Sacristão da Sé, num pique-nique em companhia de moças e rapazes, o qual o convida para ficar; ele aceita e enche-se de amores por Vidinha, cantora de modinhas, que tocava viola.
“Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de altura regular. ombros largos, peito alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes alvíssimos. a fala era um pouco descansada, doce e afinada.”
VIII - Novos Amores.

Este capitulo faz a descrição da nova família que acolhe Leonardo. Era composta de duas irmãs viúvas, uma com três filhos e a outra com três filhas. Passavam dos quarenta anos e eram muito gordas e parecidas. Os três filhos da primeira tinham mais de 20 anos e eram empregados no trem. As moças, mais ou menos da idade dos rapazes, eram bonitas, cada uma a seu modo. Uma delas era Vidinha.
IX - José Manuel Triunfa.

A Comadre procurou Leonardo por toda parte e, não o encontrando, foi à casa de D. Maria, que a repreendeu por “ter cometido um grande...”
Ela logo entendeu e percebeu que José Manuel estava regenerado aos olhos de D. Maria; e também chegou à conclusão de que o cego Mestre de Reza é que tinha desvendado tudo.
A Comadre desculpa-se e toma conhecimento do interesse de José Manuel por Luisinha.
X - O Agregado.

Leonardo fica agregado na nova família, como era costume naquela época. Dois irmãos pretendentes a Vidinha unem-se contra Leonardo, que estava gostando dela.
Vidinha e as Velhas tomam o partido de Leonardo. Houve briga e confusões.
Leonardo decidiu sair da casa, mas as velhas não consentem. Chega a Comadre.
XI - Malsinação.

Depois de conferências entre as velhas e a Comadre, Leonardo fica, para alegria de Vidinha.
Os primos vencidos, combinam um modo de vingar-se
.
Fizeram uma patuscada semelhante à que haviam feito quando conheceram Leonardo e avisaram o Major Vidigal... Este chega no meio da farra e prende Leonardo.
XII - Triunfo Completo de José Manuel.

José Manuel ganha uma causa forense para D. Maria e, com isso, consegue o consentimento para casar-se com Luisinha, que Leonardo já havia esquecido; ela aceita com indiferença o novo pretendente. Há festa e casamento em carruagens - “destroços da arca de Noé”.
XIII - Escápula.

A caminho da prisão, Leonardo procura um jeito de fugir. O Major adivinha o pensamento do moço e presta atenção a todos os seus movimentos. Entretanto, na hora em que surgiu um pequeno tumulto na rua, e o Major desviou a atenção do prisioneiro, Leonardo escapuliu e foi para a casa de Vidinha.
O Major, pasmado com o acontecido, procura-o por toda parte, com os granadeiros.
XIV - O Vidigal Desapontado.

Vidigal, com o orgulho ferido, sobretudo devido às zombarias do povo, jurou vingar-se. A Comadre, entretanto, que não sabia da fuga, procura o Major e, ajoelhada a seus pés, chora e suplica pelo afilhado.
Os granadeiros riam dela cada vez que gritava - solte, solte!
XV - Caldo Entornado.

Tendo sabido da fuga de Leonardo, a Comadre dirigiu-se à casa das velhas e pregou um sermão ao afilhado, concitando-o a que abandonasse a vadiagem e procurasse um emprego. Ela mesma consegue para ele uma ocupação na “Ucharia Real”.
O Major não gostou disso porque assim não poderia prendê-la Ucharia, morava um tal de Toma-Largura, assim chamado pela sua estampa grotesca, em companhia de uma mulher bonita Leonardo começa a demorar cada vez mais no trabalho e a esquecer Vidinha.
Um dia, Toma-Largura surpreendeu-o tomando sopa com sua mulher e corre atrás dele escorraçando-o de casa. No dia seguinte, Leonardo é despedido do emprego.
XVI - Ciúmes.

Vidinha, extremamente ciumenta, quando soube do acontecido, foi tomar satisfação com a mulher do Toma-Largura, depois de gritar, chorar e ameaçar.
Leonardo vai atrás e se encontra com o Major Vidigal, que o prende.
XVII - Fogo de Palha.

Vidinha começa a xingar Toma-Largura e a mulher. Como não houvesse reação dos dois, ficou desconcertada, tomou a mantilha e saiu. Toma-Largura, encantado com Vidinha, resolveu conquistar nem que fosse uma diminuta parcela de seu amor, porque assim se vingaria de Leonardo e satisfaria seu desejo de conquista amorosa. Desse modo, acompanhou a moça para saber onde ela morava.
XVIII - Represálias.

Quando Vidinha chegou a casa, deram também por falta de Leonardo. Mandam-no procurar por toda parte e nada. Suspeitam do Major, mas não o encontram na Casa da Guarda.
A Comadre, avisada, põe-se em campo à procura do afilhado, mas também não o encontra. A família que hospedava Leonardo começou a odiá-lo, julgando que ele se havia ocultado propositalmente.
Enquanto isso, o Toma-Largura começa a rodear a casa de Vidinha para cumprimentá-la. Mal imagina ele o que lhes estão preparando...
Recebido em casa, resolvem comemorar a aproximação com uma patuscada nos “Cajueiros”, no mesmo lugar onde Leonardo conhecera a família. E claro que o Toma-Largura lá estava. E como gosta de beber, acabou provocando uma grande confusão na festa. Inesperadamente chega o Vidigal com um grupo de granadeiros e dá ordem a um deles para levar o Toma-Largura preso. Este granadeiro era Leonardo.
XIX - O Granadeiro.

Depois de preso, o Toma-Largura foi abandonado na calçada porque estava completamente bêbado e sem condições de andar. A seguir, o autor conta como Leonardo fora transformado em granadeiro: depois de preso foi escondido por Vidigal e levado para sentar praça no Regimento Novo. A seguir, foi requisitado para ajudar o Major nas tarefas policiais. Era a maneira de o Vidigal se vingar.
Leonardo mostrou-se bom de serviço, mas participou de uma “diabrura” quando, em missão, representou Vidigal, defunto, numa cena para ridicularizá-lo.
XX - Novas Diabruras.

O Major decide prender Teotônio, um grande animador de festas, onde tocava e cantava modinhas e mostrava outras habilidades, como banqueiro de jogo.
Teotônio, na festa de batizado do filho de Leonardo-Pataca com a filha da Comadre, fez caretas e mímicas imitando o Major, que estava presente, para risada geral do público. O Major sai correndo e incumbe Leonardo de prender Teotônio.
Leonardo, muito bem recebido na casa, revela a missão de que estava incumbido e, de comum acordo com Teotônio, concebe um plano para lograr o Major.
XXI - Descoberta.

Leonardo foi cumprimentado por um amigo indiscreto, na frente do Major, pela façanha, e este o prende imediatamente.
Enquanto isso, o José Manuel, depois da lua-de-mel com Luisinha, começou a mostrar que não era lá grande coisa. Isso fez com que D. Maria se aliasse à Comadre para soltar Leonardo.
XXII - Empenhos.

Depois de uma tentativa frustrada junto ao Major, a Comadre pede os préstimos de D. Maria que, por sua vez, recorre a Maria Regalada. Chamava-se assim por ser muito alegre, ria-se de tudo. Morava na Prainha, e, quando mais nova, era uma “mocetona de truz”. Já era conhecida do Major, com quem há tempos tivera encontros amorosos.
XXIII - As Três em Comissâo.

As três vão ao Major pedir-lhe para soltar Leonardo. Ele mostra-se inicialmente inflexível como o cargo e o lugar exigiam. Como as três rompessem em prantos, ele não se conteve e chorou também, feito um bobo. Depois recompôs-se e ficou novamente durão.
Entretanto, Maria Regalada cochichou-lhe qualquer coisa ao ouvido, e ele logo promete não somente soltar Leonardo como alguma coisa mais.
XXIV - A Morte é Juiz.

José Manuel, com a ação que lhe moveu a sogra, tem um ataque de apoplexia e morre.
Leonardo, libertado, chega à noitinha e a primeira coisa que procura é Luisinha. Tinha sido promovido a sargento. A admiração um pelo outro é recíproca.
XXV - Conclusão Feliz.

Depois do luto, Leonardo e Luisinha recomeçam o namoro. Os dois querem casar-se, mas há uma dificuldade: Leonardo era soldado, e soldado não podia casar. Levaram o problema ao Major, que vivia com Maria Regalada. Esse fora o preço pela soltura do Leonardo.
Por influência da mulher, o Vidigal logo arranjou um jeito: dar baixa em Leonardo como tropa de linha e nomeá-lo “Sargento de Milícias”.
Leonardo pai entrega ao filho a herança que lhe deixara o padrinho barbeiro. Leonardo e Luisinha casam-se. E agora aparece “o reverso da medalha”:
“Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto .final.”
Personagens:
Leonardo: filho de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça; protagonista, é o anti-herói, porém possui gestos generosos;
Leonardo Pataca: um meirinho muito sentimental;
Major Vidigal: temido por todos, fazendo com que se cumpra as leis e executando as sentenças por conta própria;
Maria das hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa);
Maria Regalada: ex-amante do Major Vidigal;
Luisinha: afilhada de Maria Regalada, primeiro amor de Leonardo, era feia e pálida;
Vidinha: o oposto de Luisinha, a nova paixão de Leonardo após o casamento de Luisinha;
Cigana: desperta paixão em Leonardo Pataca (o pai);
José Manuel: um mau caráter, um caçador de dotes;
Tomás da Sé: amigo de Leonardo;
Organização Estrutural
1) A novela está dividida em duas partes bem distintas: a primeira com 23 capítulos e a segunda com 25.

2) Os episódios são quase autônomos, só ligados pela presença de Leonardo, dando à obra uma estrutura mais de novela que de romance, como já ficou observado.

3) O leitor acompanha o crescimento do herói com sua infância rica em travessuras, a adolescência com as primeiras ilusões amorosas e aventuras, e o adulto, que, com o senso de responsabilidade, que essa idade exige, vai-se enquadrando na sociedade, o que culmina com o casamento.

4) Para Mário de Andrade, trata-se de uma novela picaresca de influência hispânica.
Manuel Bandeira, em uma de suas crônicas, conta que o grande escritor espanhol Francisco Ayala leu a novela e, de tão encantado, traduziu-a para o espanhol e escreveu no prefácio a palavra que melhor lhe pareceu qualificá-la: obra-prima, acrescentando que As Memórias se inserem na linhagem dos romances picarescos. E olhe que Ayala é da terra da ficção picaresca. Ninguém, pois, melhor qualificado para conferir a láurea.
Não obstante, o nosso pícaro tem características próprias, que o afastam do modelo espanhol, como ressalta o critico Antônio Cândido, m “Dialética da Malandragem”: “Digamos então que Leonardo não é um pícaro saído da tradição espanhola, mas sim o primeiro grande malandro que entra na novelística brasileira, vindo de uma tradição folclórica e correspondendo, mais do que se costuma dizer, a certa atmosfera cómica e popularesca de seu tempo, no Brasil.

5) Freqüentemente identificadas por suas profissões e caracteres fisicos, as personagens se enquadram na categoria de planas, não apresentando, portanto, traços psicológicos densos e profundos. O protagonista da estória (Leonardo), que foge completamente aos padrões de herói romântico, é igualmente uma personagem plana, sem traços psicológicos profundos que marquem a sua personalidade.
Assim, pois, predomina sempre o sentido visual e não a percepção psicológica. Os personagens distinguem-se pelo físico de absoluta nitidez, não falam, e algumas figuras ficam mudas quase todo o tempo, como acontece com Luisinha e o próprio Leonardo.

6) Na construção da obra, muitas vezes há falhas que se explicam devido ao fato de o livro ter sido escrito em meio à algazarra de uma república de estudantes, como testemunha o biógrafo de Manuel Antônio, Marques Rebelo:

a) A amante de Leonardo pai, na primeira parte, figura como sobrinha da parteira; na segunda, aparece como filha desta.
b) Por outro lado, os primos de Vidinha inicialmente eram três e no final só aparecem dois.
c) A moça cujo rapto foi atribuído a José Manuel aparece como filha de uma viúva, mas, pouco depois, o mesmo José Manuel foi salvo graças ao pai da rapariga.
d) Ao contrário do que ocorre nas obras de “memórias”, aqui a narrativa não é feita em primeira pessoa como acontece geralmente com esse gênero literário, mas em terceira pessoa; talvez porque não se trata realmente de um livro de memórias.
e) Para Paulo Rónai, que traduziu a obra para o francês, o título deveria ser: “Como se Faz um Sargento de Milícias , pois, segundo confessa, teve tentação de colocar, como titulo, na tradução francesa -“Comment on devi ent un Sargent de la Mi/ice ‘. Já para Olívio Montenegro, o título poderia ser: “Cenas da Vida Carioca”.
Estilo de Época
Tendo surgido em pleno Romantismo, Memórias de um Sargento de Milícias apresenta uma narrativa desembaraçada, com conversações colhidas ao vivo e uma multidão de personagens vivos, extraídos da gente do povo, primando pela originalidade.

Entretanto, podem-se detectar, na obra, aspectos que traem não só o Romantismo como o Realismo:

1) Não parece ser muito apropriado considerar o livro como obra precursora do Realismo no Brasil, embora seu autor haja revelado conhecer a “Comédia Humana”, de Balzac, e ter recebido influências dela.

Falta-lhe, sem dúvida, a intenção realista, apesar da presença de muitos elementos denunciadores desse estilo de época, como ressalta José Verissimo: “o autor pratica, no romance brasileiro, o que já é licito chamar obra psicológica e de meio: a descrição pontual, a representação realista das coisas, mas fugindo às cruezas.

2) Ao contrário do que ocorre no Romantismo, o cenário não é o dos palácios reais com festas e diversões ao gosto dos nobres, nem a natureza; são as ruas cheias de gente, por onde desfilam meirinhos, parteiras, devotas, granadeiros, sacristães, vadios, brancos, pardos e pretos: gente do povo, de todas as raças e profissões. Povo sem nome, simplesmente designado por mestre de reza, parteira, barbeiro, toma largura, etc. Assim, existe, no livro, uma preocupação documental bem ao gosto realista.

3)-Além disso, destacam-se na obra o sentimento anti-religioso e anticlericalista, o horror aos padres e o desprezo pelas beatas, a caricatura e a ironia, que são ingredientes sabidamente caracterizadores do estilo realista:

O Divino Espírito Santo
E um grande folião,
Amigo de muita carne.
Muito vinho e muito pão.

A cena do clérigo, mestre de cerimônias, no quarto de uma cigana prostituta, em noite de festa e nos trajes em que o autor o coloca é digna de mestres do Realismo, como Eça de Queiroz, por exemplo.

Por outro lado, a presença do Romantismo também é notória na obra:

1) A busca do passado, que é uma fixação comum no estilo romântico, serve de ponto de partida para o autor, como se vê na abertura do livro: “Era no tempo do rei”.
Conforme ressalta Paulo Rónai, “orgulha-se o autor de não participar dos exageros românticos, mas, saudoso do passado, explica o interesse pelos tempos antigos com a alegação de querer mostrar que os costumes de outrora não eram superiores aos de seu tempo. Só mero pretexto: ele só não admitia os excessos dos ultra-românticos.”

2) Como é freqüente no Romantismo, que tem, ao lado de uma certa tendência para finais tétricos, propensão para as conclusões açucaradas, todos os capítulos e a própria novela terminam num “happy end ‘, ou final feliz.

3) A despreocupação com a correção gramatical e o aproveitamento da fala e de expressões populares mostram bem a tendência para a liberalização da expressão, que é outra conquista do Romantismo, forjada na esteira do liberalismo da época, como revelam os exemplos abaixo:
A vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu. como se costuma dizer, as estribeiras,...”

"Quando amanheceu, acordou sarapantado...."
"— Olá, Leonardo! Por que carga d ‘água vieste parar a estas alturas? Pensei que te tinha já o diabo lambido os ossos, pois depois daquele maldito dia em que nos vimos em pancadaria, por causa do mestre-de-cerimônias, nunca mais te pus a vista em cima.”
"— Escorropicha essa garrafa que ai resta, disse-lhe o amigo...
Fui para casa de meu pai... e de repente, hoje mesmo. brigo lá com a cuja dele...”
Na onda dessa liberalização, há verdadeiras incorreções gramaticais, conforme atestam estes exemplos:
"Naquela família haviam três primos.”
Nas causas de sua imensa alçada não haviam testemunhas...”
"...ele expôs-me certas coisas... e que eu enfim não quis dar crédito.”
"... Fazia o mestre em voz alta o pelo-sinal. pausada e vagarosamente, no que o acompanhava em coro todos os discípulos.”

4) Como é comum no Romantismo, algumas situações são criadas artificialmente. Revela-o sobretudo o fato de Leonardo transformado em granadeiro e posteriormente em Sargento de Milícias.
Assim, embora apresente características que lembram os estilos realista e romântico, Memórias de um Sargento de Milícias se destaca por sua originalidade, afastando-se dos padrões da época, como observou Mário de Andrade, que considerava essa novela uma obra isolada.
Linguagem
1) A linguagem utilizada pelo autor em toda a novela, embora de cunho popular e com bastantes incorreções, tem muito do linguajar tipicamente português, o que revela, sem dúvida, a marcante presença da gente lusitana em nossa terra no “tempo do rei”:
"Não quero cá saber de nada...”
"— Pois estoure, com trezentos diabos!”
"... h
de ser um clérigo de truz.”
"... regulando-se a ouvir modinhas...”
"— E a noiva?.., respondia a outra: arrenego também da lambisgoia...
E outras expressões como tira-te lá, tranco-te essa boca a socos; mais pequena, com a cuja dele, etc.

2) Outras vezes prima por usar construções bem clássicas:
"... o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente ./ora de um dos bolsos, o cabo de uma tremenda palmatória,..."
Coimbra era a sua idéia fixa, e nada /ha arrancava da cabeça."
"... e quando tiver 12 ou 14 anos há de me entrar para a escola.
"... e isto era natural a um bom português, que o era ele.”

3) A ironia e o gosto pela gozação acompanham a obra do começo ao fim.
"A carruagem era um formidável, um monstruoso maquinismo de couro, balançando-se pesadamente sobre quatro desmesuradas rodas. Não parecia coisa muito nova; e com mais de dez anos de vida poderia muito bem entrar no número dos restos infelizes do terremoto, de que fala o poeta.
Luisinha, conduzida por D. Maria, que lhe ia servir de madrinha, embarcou num dos destroços da arca de Noé. a que chamamos carruagem; "
Entre os honestos cidadãos que nisto se ocupavam, havia, na época desta história um certo Chico-Juca. afamadíssimo e temível.”
Eis aqui como se explica o arranjei-me, e como se explicam muitos outros que vão ai pelo mundo.

O Cortiço - Aluísio de Azevedo

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Resumo do Livro:
Um homem qualquer, trabalhador e muito economizador adquire fortuna, amiga-se a uma negra de um cego e sente cada vez mais sede de riqueza. Arranja confusões com um novo vizinho(Miranda) ao disputar palmos de terra. Chega a roubar para construir o que tanto almejava: um cortiço com casinhas e tinas para lavadeiras. Prosperou em seu projeto. João invejava seu vizinho. Veio morar na casa de Miranda, Henrique, acadêmico de medicina, a fim de terminar os estudos. Nessa casa, além de escravos e sua família morava um senhor parasita (Botelho, ex-empregado). D. Estela (esposa de Miranda) andava se "escovando" com o Henrique, porém acabaram sendo flagrados pelo velho Botelho.
O cotidiano da vida no cortiço ia de acordo com a rotina e a realidade de seus moradores, onde lavadeiras eram o tipo mais comum. Jerônimo (português, alto, 35 a 40 anos), foi conversar com João oferecendo-lhe serviços para a sua pedreira. Com custo, depois de prosearem bastante, João aceitou a proposta, com a condição dele morar no cortiço e comprar em sua venda. A mudança de Jerônimo e Piedade se sucedeu sob comentários e cochichos das lavadeiras. Após alguns meses eles foram conquistando a total confiança de todos, por serem sinceros , sérios e respeitáveis. Tinham vida simples e sua filhinha estudava num internato. No domingo todos vestem a melhor roupa e se reúnem para jantar, dançar, festejar, tudo muito a vontade. Depois de três meses Rita Baiana volta. Nessas reuniões sobressaia o "Choro", muito bem representado pela Baiana e seu amante Firmo.
Toda aquela agilidade na dança deixara Jerônimo admirado ao ponto de perder a noite em claro pensando na mulata. Pombinha tirava esses dias para escrever cartas. Henrique entretia-se a olhar Leocádia, que em troca de um coelho satisfez sua vontade física(transa), quando foram pegos por Bruno(seu marido), que bateu na mesma e despejou-a de sua casa depois de fazer um baita escândalo. Jerônimo mudou seus costumes, brigava com sua e a cada dia mais se afeiçoava pela mulata Rita. Firmo sentia-se enciumado. Florinda engravidou de Domingos (caixeiro da venda de João Romão), o mesmo foi obrigado a casar-se ou fornecer dotes.
Foi aquele rebuliço em todo cortiço, nada mais falavam além disso, Florinda viu-se obrigada a fugir de casa. Léonie(prostituta alto nível) aparece emperiquitada com sua afilhada Juju, todos admiravam quanta riqueza, mas nem por isso deixaram sua amizade de lado. Léonie era muito amiga de Pombinha. Na casa de Miranda era uma festa só! Ele havia sido agraciado com o título de Barão do Freixal pelo governo português. João indagava-se, por não ter desfrutado os prazeres da vida, ficando só a economizar. Diante de tal injúria, com muito mau humor implicava com tudo e todos do cortiço. Fez despejar na rua todos os pertences de Marciana. Acusou-a de vagabunda, acabando ela na cadeia.
A festa do Miranda esquentava e João recebeu convite para ir lá, o que o deixou ainda mais injuriado. O forró no cortiço começou, porém briga feia se travou entre Jerônimo e Firmo. Barricada impedia a polícia entrar, o incêndio no 12 fez subir grande desespero, era um corre-corre, polícia, acidentados (Jerônimo levou uma navalhada) e para finalizar caiu uma baita chuva.João foi chamado a depor, muitos do cortiço o seguiram até a delegacia, como em mutirão. Rita incansavelmente cuidava do enfermo Jerônimo dia e noite.
No cortiço nada se dizia a respeito dos culpados e vítimas. Piedade não se agüentava chorando muito descontente e desesperada por seu marido acidentado. Firmo não mais entrava por lá, ameaçado por João Romão de ser entregue a polícia. Pombinha amanheceu indisposta decorrente da visita feita no dia anterior à Léonie. Esta, como era de seu costume, atrancou Pombinha em beijos e afagos, pois era além de prostituta, lésbica. Isso deixara a menina traumatizada, que por força e insistência de sua mãe, saiu a dar voltas atrás do cortiço, onde cochilou, sonhou e ao acordar virou mulher.
A festa se fez por D. Isabel, ao saber de tão esperada notícia. Estava Pombinha a preparar seu enxoval quando Bruno chegou e lhe pediu que escrevesse uma carta a Leocádia. Ele chorava... Ela, ao ver a reação de submissão dele, desfrutava sua nova sensação de posse do domínio feminino. Imaginava furtivamente a vida de todos, pois sua escrivania servia de confessionário. Via em seu viver que tudo aquilo continuaria, pois não haviam homens dignos que merecessem seu amor e respeito. Pombinha, mesmo incerta, casa-se com o Costa, foi grande a comoção no cortiço. Surgiu um novo cortiço ali perto, o "Cabeça de Gato". A rivalidade com o cortiço de João Romão foi criada. Firmo hospedou-se lá, tendo ainda mais motivos contra Jerônimo. João, satisfeito com sua segurança sobre os hóspedes, investia agora em seu visual e cultura, com roupas, danças, leituras e uma amizade com Miranda e o velho Botelho.
Ele e o velho estavam tramando coisa com a filha do Barão. Fez-se um jantar no qual João foi todo emperiquitado. João naquele momento de auge em sua vida, via-se numa situação em que necessitava livrar-se da negra, chegou a pensar em sua morte. Sem nem mesmo repousar após sua alta do hospital, Jerônimo foi conversar com Zé Carlos e Pataca a respeito do extermínio do Firmo. O dia corria, João proseava com Zulmira na janela da casa de Miranda, sentindo-se familiarizado. Jerônimo foi realizar seu plano encontrando-se com os outros dois no Garnisé (bar em frente ao cemitério).
Pataca entrou no bar, encontrou por acaso com Florinda, que se ajeitara na vida e dera-lhe notícia que sua mãe parara num hospício. Firmo aparece e Pataca o faz sair até a praia com pretexto de Rita estar lá. Muito chapado seguiu-o. Lá os três treteiros espancaram-lhe e lançaram-lhe ao mar. Chovia muito e ao ir para casa, Jerônimo desiste e se dirige à casa da Rita. O encontro foi efervescente por ambas as partes. Tudo estava resolvido, fugiriam no dia seguinte. Piedade, ao passar das horas, mais desesperada ficava. Ao amanhecer do dia chorava aos prantos e no cortiço nada mais se ouvia senão comentários sobre o sumiço do Jerônimo.
A morte de Firmo já rolava solta no cortiço. Rita encontrava-se com Jerônimo. Ele, sonhando começar vida nova, escreve logo ao vendeiro despedindo-se do emprego, e à mulher constando-lhe do acontecido e prometendo-lhe somente pagar o colégio da garota. Piedade e Rita se atracaram no momento em que a mulata saía de mudança, o cortiço todo e mais pessoas que surgiram, entraram na briga. Foi um tremendo alvoroço, acabara sendo uma disputa nacional (Portugueses x Brasileiros).
Nem a polícia teve coragem de entrar sem reforço. Os Cabeças de Gato também entraram na briga. Travou-se a guerra, a luta dos capoeiristas rivais aumentava progressivamente quando o incêndio no 88 desatou, ensangüentando o ar. A causa foi a mesma anterior, por um desejo maquiavélico, a velha considerada bruxa incendiou sua casa, onde morreu queimada e soterrada, rindo ébria de satisfação. Com todo alvoroço, surgia água de todos os lados e só se pôs fim na situação quando os bombeiros, vistos como heróis, chegaram. O velho Libório (mendigo hospedado num canto do cortiço) ia fugindo em meio a confusão, mas João o seguiu.
Estava o velho com oito garrafas cheias de notas de vários valores, essas que João roubou e fugiu, deixando-o arder em brasas. Morrera naquele incêndio a Bruxa, o Libório e a filhinha da Augusta além de muitos feridos. Para João o incêndio era visto como lucro, pois o cortiço estava no seguro, fazendo ele planos de expansão baseado no dinheiro do velho mendigo. Por conseqüências do incêndio Bruno foi parar no hospital, onde Leocádia foi visitá-lo ocorrendo assim a reconciliação de ambos. As reformas expandiram-se até o armazém e as mudanças no estilo de João também alcançavam um nível social cada vez mais alto.
Com amizade fortificada junto ao Miranda e sua família, pediu a mão de Zulmira em casamento. Bertoleza, arrasada e acabada daquela vida, esperava dele somente abrigo em sua velhice, nada mais.Jerônimo abrasileirou-se de vez. Com todos costumes baianos deleitava-se a viver feliz com a mulata Rita. Piedade desolada de tristeza habituara-se a beber e começou a receber visitas aos domingos de sua filhinha (9 anos), que logo cativou todo o cortiço, crismada por todos como "Senhorinha". Acabados por desgraças da vida, Jerônimo e Piedade não mais guardavam rancor um do outro, ambos se estimavam e em comum possuíam somente a filha a cuidar. Jerônimo arrependia-se , mas não voltaria atrás. Deu-se a beber também.
O cortiço não parecia mais o mesmo, agora calçado, iluminado e arrumado todo por igual. O sobrado do vendeiro também não ficara para trás nas reformas. Quem se destacou foi Albino (lavadeiro homossexual) com a arrumação de sua casa. A vida transcorria, novos moradores chegavam. Já não se lia sob a luz vermelha na porta do cortiço "Estalagem de São Romão", mas sim "Avenida São Romão". Já não se fazia o "Choradinho" e a "Cana-verde", a moda agora era o forrobodó em casa, e justo num desses em casa de das Dores, Piedade enchera a cara e Pataca é que lhe fizera companhia querendo agarrá-la depois de ouvir seus lamentos, mas a caninha surtiu efeito (vômito) e nada se sucedeu.
João Romão não pregara os olhos a pensar no que fazer para dar um fim na crioula Bertoleza. Agostinho (filho da Augusta) sofrera acidente na pedreira, ficara totalmente estraçalhado. Foi aquele desespero no cortiço. Botelho foi falar a João logo cedo. Bertoleza ao ouvir, pôs-se respeito diante da situação e exigiu seus direitos, discutiram o assunto e nada resolveram. João se irritara e tivera a idéia de mandá-la de volta ao dono propondo esse serviço ao velho Botelho, que aliás recebia dele remuneração por tudo que lhe prestava. Em volta do desassossego e mau estar de João e Bertoleza o armazém prosperava de vento em poupa aumentando o nível dos clientes e das mercadorias.

Sua Avenida agora era freqüentada por gente de porte mais fino como alfaiates, operários, artistas, etc. Florinda ainda de luto por sua mãe Marciana, estava envolvida agora com um despachante. A Machona (Augusta) quebrara o gênio depois da morte de Agostinho. Neném arrumara pretendente. Alexandre fora promovido à sargento. Pombinha juntara-se à Léonie e atirara-se ao mundo. De tanto desgosto, D. Isabel (mãe de Pombinha) morrera em uma casa de saúde. Piedade recebia ajuda da Pombinha para sobreviver, pois estimava Senhorinha, apesar de saber que o fim da pobre garotinha seria como o seu.
Mesmo assim Piedade foi despejada indo refugiar-se no Cabeça de Gato, que tornara-se claramente um verdadeiro cortiço fluminense. Ocorreu um encontro em uma confeitaria na Rua do Ouvidor, entre a família do Miranda, o Botelho e o João Romão que puseram-se a prosear. Na volta, seguindo em direção ao Largo São Francisco, João e Botelho optaram em ficar na cidade a conversar sobre o fim que se daria a crioula. Estava tudo certo, seu dono iria buscá-la junto á polícia. Quando isso sucedeu-se, ao ver-se sem saída, impetuosa a fugir, com a mesma faca que descamava e limpava peixes para o João, Bertoleza rasgou seu ventre fora a fora. Naquele mesmo instante João Romão recebera um diploma de sócio benemérito da comissão abolicionista.

A Cidade e as Serras - Eça de Queirós


Resumo do livro:
Retrata a trajetória de Jacinto, um cidadão fanático pela vida urbana: vivia em Paris num palacete com os últimos produtos da modernidade: luz elétrica, elevadores... Num certo momento, porém, é tomado por unm tédio mortal. Convida seu amigo José Fernandes, para ir a Portugal visitar a Quinta de Tormes. A paisagem serrana deslumbrou o parisense, que estava convertido ao bucolismo: casa-se com Joaninha, tem filhos, promove reformas no campo construindo casas de alvenaria para abrigar 100 famílias de empregados, posto médico e escola. Manda vir luz elétrica para todos. Finalmente se aquieta usufruindo da civilização apenas o que ela tem de melhor e faz do campo seu definitivo lar.

Vidas Secas - Graciliano Ramos

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Resumo do Livro:
A obra se classifica entre o conto e o romance e fala do drama do retirante diante da seca implacável e da extrema pobreza que leva a um relacionamento seco e doloroso entre as personagens, quase um monólogo. Os participantes da história são: Fabiano o chefe da família, homem rude e quase incapaz de expressar seu pensamento com palavras; Sinhá Vitória, sua mulher com um nível intelectual um pouco superior ao do marido que a admira por isto; O menino mais novo, quer realizar algo notável para ser igual ao pai e despertar a admiração do irmão e da Baleia, a cadela; O menino mais velho, sente curiosidade pela palavra "inferno" e procura se esclarecer com a mãe, já que o pai é incapaz; A cadela, Baleia, e o papagaio completam o grupo de retirantes, na história; Representando a sociedade local, na história, estão o soldado amarelo, corrupto e arbitrário, impõe-se ao indefeso Fabiano que o respeita por ser representante do governo; Tomás da Bolandeira, dono da fazenda, onde a família se abrigou durante uma tempestade, e homem poderoso da região que impõe sua vontade. O livro tem l3 capítulos, até certo ponto autônomos, ligando-se por alguns temas.
I - Mudança
Este capítulo é o inicio da retirada, com as personagens citadas acima. Supõe uma narrativa anterior: "Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos." Tocados pela seca chegam a uma fazenda abandonada e fazem uma fogueira. A cachorra traz um preá: "Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo," Fala da terra seca e do sofrimento. A comunicação é rara e ocorre quando o pai ralha com o filho e esse procedimento é uma constante no livro. Há uma intenção do autor de não dar nome aos meninos, para evidenciar a vida sem sentido e sem sonhos do retirante. "Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira duma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto."
II - Fabiano
"Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro. Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara - se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado." Contente dizia a si mesmo: "Você é um bicho, Fabiano." Mostra o homem embrutecido, mas capaz de auto-análise. Tem consciência de suas limitações e admira quem sabe se expressar. "Admirava as palavras compridas da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas."
III - Cadeia
Na feira da cidade o soldado convida Fabiano para jogar baralho e depois desentende-se com ele e o prende arbitrariamente. A figura do soldado amarelo simboliza o governo e, com isto, o autor quer passar a idéia de que não é só a seca que faz do retirante um bicho, mas também as arbitrariedades cometidas pela autoridade. Ao fim do capítulo ele toma consciência de que está irremediavelmente vencido e sem ilusões com relação á sorte de seus filhos. "Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo."
IV - Sinhá Vitória
Enquanto o marido aspira um dia saber expressar-se convenientemente, a mulher deseja apenas possuir uma cama de couro igual a do seu Tomás da bolandeira, fazendeiro poderoso que é uma referência. Ela recorda a viagem, a morte do papagaio, o medo da seca. A presença do marido lhe dá segurança.
V - O Menino Mais Novo
Quer ser igual ao pai que domou uma égua e tenta montar no bode caindo e sendo motivo de chacota de irmão e da Baleia. O sonho do menino é uma forma de resistência ao embrutecimento, tal como a mãe que sonha com a cama de lastro de couro.
VI - O Menino Mais Velho
As aspirações da família são cada vez mais modestas. Tudo que o menino mais velho desejava era uma amizade e a da Baleia já servia bem: "O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-se para não magoa-lo, sofria a carícia excessiva."
VII - Inverno
É a descrição de uma noite chuvosa e os temores e devaneios que a chuva desperta na família. Eles sabiam que a chuva que inundava tudo passaria e a seca tomaria conta de suas vidas novamente.
VIII - A Festa
É um dos capítulos mais tristes. É natal e a família vai à festa na cidade. Fabiano compara-se com as pessoas e se sente inferior. Depois da missa quer ir às barracas de jogo mas a mulher é contra porque ele bebe e fica valente. Acaba pegando no sono na calçada e em seus sonhos os soldados amarelos praticam arbitrariedades. A família toda sente a distância que os separa dos demais seres. Sinhá Vitória refugia-se no devaneio, imaginando-se com a cama de lastro de couro.
IX - Baleia
É um capítulo trágico. O autor faz uma humanização da cadela Baleia. Ela parece doente e será sacrificada. Desconfiada, tenta esconder-se. Não entende porque estão querendo fazer isso com ela. Já ferida ela espera a morte e sonha com uma vida melhor. Na história, a Baleia e sinhá Vitória são as personagens que conseguem expressar melhor os seus anseios.
X - Contas
Fabiano tem de vender ao patrão bezerros e cabritos que ganhou trabalhando e reclama que as contas não batem com as de sua mulher. Revolta-se e depois aceita o fato com resignação. Lembra que já fora vítima antes de um fiscal da prefeitura. O pai e o avô viveram assim. Estava no sangue e não pretendia mais nada.
XI - O Soldado Amarelo
É uma descrição dessa personagem. Ele aparece como é socialmente e não como é profissionalmente. A sua força vem da instituição que representa. Mais fraco fisicamente, arbitrário e corrupto, acovarda-se ao encontrar-se à mercê de Fabiano na caatinga. Fabiano vacila na sua intenção de vingança e orienta o soldado perdido. A figura da autoridade constituída é muito forte no inconsciente de Fabiano.
XII - O Mundo Coberto de Penas
O sertão iria pegar fogo. A seca estava voltando, anunciada pelas aves de arribação. A mulher adverte que as aves bebem a água dos outros animais. Fabiano admira-se da inteligência da mulher e procura matar algumas que servirão de alimento. Faz um apanhado da suas desgraças. O sentimento de culpa por matar a Baleia não o deixa. "Chegou-se á sua casa, com medo, ia escurecendo e àquela hora ele sentia sempre uns vagos tremores. Ultimamente vivia esmorecido, mofino, porque as desgraças eram muitas. Precisava consultar Sinhá Vitória, combinar a viagem, livrar-se das arribações, explicar-se, convencer-se de que não praticara uma injustiça matando a cachorra. Necessário abandonar aqueles lugares amaldiçoados. Sinhá Vitória pensaria como ele."
XIII - Fuga
A esposa junta-se ao marido e sonham juntos. Sinhá Vitória é mais otimista e consegue passar um pouco de paz e esperança. O livro termina com uma mistura de sonho, frustração e descrença. Fabiano mata um bezerro, salga a carne e partem de madrugada. "E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos."

Capitães de Areia - Jorge Amado

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Autor: Jorge Amado

Resumo do livro:
Os Capitães da Areia são um grupo de meninos de rua. O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, via uma seqüência de pseudo-reportagens, explica-se que os Capitães da Areia são um grupo de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador. Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo. O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caçam como os adultos antes do tempo que são. A primeira parte em si, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes).

Pedro Bala, o líder, de longos cabelos loiros e uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, e depois descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve; Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro; Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso; Gato, que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva; Sem-Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de verdade); João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando; Querido-de-Deus, um capoeirista que é só amigo do grupo; e Pirulito, que em grande fervor religioso. O ápice da primeira parte vem em duas partes: quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou na cidade, e exercem sua meninez; e quando a varíola ataca a cidade e acaba matando um deles, mesmo com Padre José Pedro tentando ajudá-los e se encrencando por isso. A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la a força, ela se torna como mãe e irmã para todos.

(O homossexualismo é comum no grupo, mesmo que em dado momento Pedro Bala tente impêdi-lo de continuar, e todos eles costumam "derrubar negrinhas" na orla.) Mas Professor e Pedro bala se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por Pedro Bala. Quando Pedro e ela são capturados (ela em pouco tempo passa a roubar como um dos meninos), eles são muito castigados, respectivamente no Reformatório e no Orfanato. Quando escapam, muito enfraquecidos, se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo do fim para os principais membros do grupo. "Canção da Bahia, Canção da Liberdade", a terceira parte, vai nos mostrando a desintegração dos líderes. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia; Professor parte para o RJ para se tornar um pintor de sucesso, entristecido coma morte de Dora; Gato se torna uma malandro de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por ilhéus; Pirulito se torna frade; Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido-de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e finalmente os Capitães da Areia ajudam numa greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque.

Assim Pedro Bala deixa de ser o líder dos Capitães da Areia e se torna um líder revolucionário comunista. Este livro foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e responsáveis pelos males. Os Capitães de Areia são heróicos, "Robin Hood"'s que tiram dos ricos e guardam para si (os pobres). O Comunismo é mostrado como algo bom, e o Padre José Pedro tem dúvidas quanto a posição da Igreja quanto ao assunto. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transforma em personagens únicos e corajosos, corajosos Capitães da Areia de Salvador.

Boa sorte a todos

Professora Simone Calixto