Foi um psicólogo bielo-russo, descoberto nos meios acadêmicos ocidentais depois da sua morte, aos
38 anos. Pensador importante foi
pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das
crianças ocorre
em função das interações sociais e condições de vida.
Alguns conceitos
Para Vygotsky, o desenvolvimento mental da criança é um
processo contínuo de aquisição de
controle ativo sobre funções inicialmente
passivas.
Desenvolvimento intelectual e linguístico da criança
relacionado à interiorização do diálogo em fala
interior e pensamento.
Desenvolvimento do agrupamento conceitual das crianças, onde
inicialmente há um amontoado de
conceitos, depois um complexo de conceitos,
pseudoconceitos e, finalmente, conceitos verdadeiros.
A capacidade de impor estruturas superiores no interesse de
ver as coisas de modo mais simples e
profundo é tida como um dos poderosos
instrumentos da inteligência humana. Essa capacidade evita
que, ao contato com
novos conceitos, a criança tenha de reestruturar os conceitos já incorporados.
Para Vygotsky o brinquedo é o mundo imaginário onde a
criança pode realizar seus desejos.
Zona de desenvolvimento proximal – é a “lacuna” entre aquilo
que o indivíduo pode realizar
sozinho e aquilo em que ele vai precisar da ajuda
de alguém.
Vida
Quando Iniciou sua carreira como psicólogo após a Revolução Russa de 1917, Vygotsky já havia
contribuído com vários ensaios para crítica
literária. Em 1924 proferiu uma palestra intitulada
“Consciência como um Objeto
da Psicologia do Comportamento”, causando impacto nas teorias
behavioristas existentes
na época.
Ele buscava uma descrição e uma explicação das funções
psicológicas superiores (pensamento,
lembrança voluntária, raciocínio dedutivo, por exemplo),
contrapondo-se à teoria baseada no
estímulo-resposta. Criticou a teoria de que
os processos mentais adultos estão
latentes na criança,
bastando apenas sua maturação.
Foi um dos primeiros defensores da associação da psicologia
cognitiva experimental com a
neurologia e a fisiologia, ao insistir que as
funções psicológicas são produtos da atividade cerebral.
Materialismo Dialético – simultaneidade entre corpo e
alma. Todo fenômeno tem uma história,
que se modifica quantitativa e
qualitativamente e essa mudança pode explicar a evolução dos
processos psicológicos elementares em processos complexos.
Materialismo histórico – mudanças na sociedade produzem
mudanças no ser humano.
Vygotsky desenvolveu a teoria de que a sociedade
afeta diretamente a evolução dos processos
psicológicos superiores do homem.
Para Vygotsky, os processos mentais devem ser entendidos
historicamente. Foi um dos fundadores
do Instituto de Estudos das Deficiências,
em Moscou. Lecionou e escreveu extensamente sobre
problemas da educação.
Utilizava o termo pedologia (do Gr. pais, paidós, criança + lógos, tratado),
que pode, grosseiramente, ser traduzido por psicologia educacional.
Foi acusado de chauvinista russo, por ter declarado que a
população iletrada da região não
industrializada da Ásia Central, ainda não
tinha a capacidade intelectual da civilização moderna.
Escreveu sobre o método genético-experimental, que é um
experimento que, se adequadamente
concebido, pode dar ao experimentador
condições de saber o curso real do desenvolvimento de uma
determinada função.
Uma técnica usada por Vygotsky era a de introduzir obstáculos e
dificuldades na tarefa a fim de
quebrar o método rotineiro de solução de
problemas. Nesse estudo o mais importante não era o
nível de desempenho, mas os
métodos usados pela criança.
Principais contribuições de Vygotsky
Os resultados experimentais podem ser tanto quantitativos,
quanto qualitativos; Ruptura das barreiras
entre estudo de “campo” e em
“laboratório”.
Método de estudo que procura traçar a história do
desenvolvimento das funções psicológicas,
alinhando-as ao ambiente social,
cultural e econômico de
crescimento do sujeito.
Dois anos após sua morte, o Comitê Central do Partido
Comunista baixou um decreto proibindo
todos os testes psicológicos na União
Soviética e todas as revistas de Psicologia deixaram de ser
publicadas durante
20 anos.
Um grande movimento de
experimentação e fermentação intelectual chegava ao fim.
Algumas publicações de Vygotsky
1915 – A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca. Arquivo
pessoal, manuscrito;
1922 – Sobre os métodos do ensino de literatura nas escolas
secundárias. Relatório à Conferência
Distrital de Metodologia Científica, 07 de
agosto de 1922. Arquivo pessoal, manuscrito;
1923 – A investigação do processo de compreensão de
linguagem utilizando a tradução múltipla de
texto de uma língua para outra.
Arquivo pessoal;
1924 – Problemas de educação de crianças cegas,
surdas-mudas e retardadas. Moscou, SPON NKP
Publicações, 1924;
Métodos de investigação psicológica e reflexológica.
Relatório apresentado no Encontro Nacional de
Psiconeurologia, Leningrado, 2 de
janeiro de 1924. In: Problemas da Psicologia contemporânea, II,
26- 46,
Leningrado. Casa de Publicações do Governo, 1926;
Os princípios de educação de crianças com defeitos físicos,
1924, nº. 1, pp. 112-20;
1925 – Os princípios de educação social de crianças
surdas-mudas. Arquivo pessoal, manuscrito, 26
pp.
Prefácio de Além do princípio do prazer de S.
Freud. Moscou, Problemas Contemporâneos, 1925
(em colaboração com A.R. Luria).
O consciente como problema da psicologia experimental. In Psicologia
e marxismo, I. 175-98.
Moscou-Leningrado. Casa de Publicações do Governo, 1925;
Suas maiores contribuições estão nas reflexões sobre o
desenvolvimento infantil e sua relação com a
aprendizagem em meio social, e
também o desenvolvimento do pensamento e da linguagem.
Nos aprofundando um pouco mais nas idéias de Vygotsky…
Desenvolvimento e Aprendizagem: a Zona de Desenvolvimento
Proximal
Na chamada perspectiva sócio-interacionista,
sócio-cultural ousócio-histórica, abordada por
L. Vygotsky, a relação
entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser
humano
viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso
quer dizer
que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo.
Entenderemos melhor essa
relação ao discutir a Zona de Desenvolvimento proximal.
Os conceitos sócio-interacionistas sobre desenvolvimento e
aprendizagem se fazem sempre
presentes, impelindo-nos à reflexão sobre tais
processos. Como lidar com o desenvolvimento natural
da criança e estimulá-lo
através da aprendizagem? Como esta pode ser efetuada de modo a contribuir para
o desenvolvimento global da criança?
Em Vygotsky, ao contrário de Piaget,
o desenvolvimento – principalmente o psicológico/mental (que
é promovido pela
convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações
orgânicas)
– depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de
internalização de conceitos,
que são promovidos pela aprendizagem social,
principalmente aquela planejada no meio escolar.
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato
biológico da espécie para realizar
uma tarefa se o indivíduo não participa de
ambientes e práticas específicas que propiciem esta
aprendizagem. Não podemos
pensar que a criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta
não tem, por si
só, instrumentos para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento, que
dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida
como ser pensante, capaz de
vincular sua ação à representação de mundo que
constitui sua cultura, sendo a escola um
espaço e um tempo onde este processo é
vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem
envolve diretamente a
interação entre sujeitos.
Essa interação e sua relação com a imbricação entre os
processos de ensino e aprendizagem podem
ser melhor compreendidos quando nos
remetemos ao conceito de ZDP.
Para Vygotsky (1996), Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP), é a distância entre o nível de
desenvolvimento real, ou seja,
determinado pela capacidade de resolver problemas
independentemente, e o nível
de desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de
solucionar problemas
com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens que
ocorrem na
ZDP que fazem com que a criança se desenvolva ainda mais, ou seja,
desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento,por isso
dizemos
que, para Vygotsky, tais processos são indissociáveis.
É justamente nesta zona de desenvolvimento proximal que a
aprendizagem vai ocorrer. A
função de um educador escolar, por exemplo, seria, então, a de favorecer esta
aprendizagem,
servindo de mediador entre a criança e o mundo. Como foi
destacado anteriormente, é no
âmago das interações no interior do coletivo, das
relações com o outro, que a criança terá
condições de construir suas próprias
estruturas psicológicas (Creche Fiocruz, 2004). É assim
que as crianças,
possuindo habilidades parciais, as desenvolvem com a ajuda de parceiros
mais
habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem de parciais a totais.
Temos que trabalhar,
portanto, com a estimativa das potencialidades da criança,
potencialidades estas que, para tornarem-
se desenvolvimento efetivo, exigem que
o processo de aprendizagem, os mediadores e as
ferramentas estejam distribuídas
em um ambiente adequado (Vasconcellos e Valsiner, 1995).
Temos portanto uma interação entre desenvolvimento e
aprendizagem, que se dá da seguinte
maneira: em um contexto cultural, com
aparato biológico básico interagir, o indivíduo se desenvolve
movido por
mecanismos de aprendizagem provocados por mediadores.
Para Vygotsky, o processo de aprendizagem deve ser olhado por
uma ótica prospectiva, ou
seja, não se deve focalizar o que a criança
aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo. Em
nossas práticas
pedagógicas, sempre procuramos prever em que tal ou qual aprendizado
poderá ser útil àquela criança, não somente no momento em que é ministrado, mas para além
dele. É um processo de transformação constante na trajetória das crianças.
As
implicações desta relação entre ensino e aprendizagem para o ensino escolar
estão no fato de que
este ensino deve se concentrar no que a criança está
aprendendo, e não no que já aprendeu. Vygotksy
firma está hipótese no seu
conceito de zona de desenvolvimento proximal(ZDP).
Pensamento e Linguagem:
Existem
duas grandes vertentes na Psicologia que explicam a aquisição da linguagem: uma
delas
defende que a linguagem já nasce conosco; outra, que é aprendida no meio.
Vejamos os principais
autores de cada uma das partes:
Proposta ambientalista: “do nada ao tudo através da
experiência”
Skinner: possibilidade de explicar a linguagem e qualquer
comportamento humano complexo pelos
mesmos princípios estudados em laboratório.
A proposta inatista forte:
Chomsky: o bebê nasce com todo o aparato. Nada é aprendido no
ambiente; é apenas disparado por
ele. A criança apenas vai se moldando às
especificidades da sua língua.
A proposta interacionista:
Piaget:
o mecanismo interacionista — a linguagem faz parte de uma função mais ampla,
que é a
capacidade de representar a realidade através de significados que se
distinguem de significantes.
Vygotsky: raízes genéticas do
pensamento e da linguagem – linguagem é considerada como
instrumento mais
complexo para viabilizar a comunicação, a vida em sociedade. Sem
linguagem, o
ser humano não é social, nem histórico, nem cultural.
Bruner: Psicologia cultural – defende a visão cultural do
desenvolvimento da linguagem e coloca a
interação social no centro de sua
atenção sobre o processo de aquisição.
Cole: Sociocultural – para que a criança adquira mais do que
rudimentos de linguagem, ela deve não
apenas ouvir ou ver linguagem, mas também
participar de atividades que a linguagem ajuda a criar e
manter.
Segundo Vygotsky…
As funções da
linguagem
A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função
inicial é a comunicação, expressão e
compreensão. Essa função comunicativa está
estreitamente combinada com o pensamento. A
comunicação é uma espécie de função
básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo,
organiza o
pensamento.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três
fases: a linguagem social, que seria esta
que tem por função denominar e comunicar,
e seria a primeira linguagem que surge. Depois
teríamos a linguagem egocêntrica
e a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento.
A linguagem
egocêntrica
A progressão da fala
social para a fala interna, ou seja, o processamento de perguntas e
respostas
dentro de nós mesmos – o que estaria bem próximo ao pensamento, representa
a
transição da função comunicativa para a função intelectual. Nesta transição,
surge a chamada fala
egocêntrica. Trata-se da fala que a criança emite para si
mesmo, em voz baixa, enquanto está
concentrado em alguma atividade. Esta fala,
além de acompanhar a atividade infantil, é um
instrumento para pensar em
sentido estrito, isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a
atividade na qual a criança está entretida (Ribeiro, 2005).
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa
mesma, e não uma linguagem social, com
funções de comunicação e interação. Esse “falar sozinho” é essencial porque
ajuda a organizar
melhor as ideias e planejar melhor as ações. É como se a
criança precisasse falar para resolver um
problema que, nós adultos,
resolveríamos apenas no plano do pensamento / raciocínio.
Uma contribuição importante de Vygotsky e seus colaboradores,
descrita no livro Pensamento e
Linguagem (1998), do mesmo autor, é o fato de
que, por volta dos dois anos de idade, o
desenvolvimento do pensamento e da
linguagem – que até então eram estudados em separado – se
fundem, criando uma
nova forma de comportamento.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir o
intelecto e os pensamentos começam a
oralizar-se – a fase da fala egocêntrica –
é marcado pela curiosidade da criança pelas palavras, por
perguntas acerca de
todas as coisas novas (“o que é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário.
O declínio da vocalização
egocêntrica é sinal de que a criança progressivamente abstrai o som,
adquirindo
capacidade de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las. Aí estamos
entrando na
fase do discurso interior. Se, durante a fase da fala
egocêntrica houver alguma deficiência de
elementos e processos de interação
social, qualquer fator que aumente o isolamento da criança,
iremos perceber que
seu discurso egocêntrico aumentará subitamente. Isso é importante para o
cotidiano dos educadores, em que eles podem detectar possíveis deficiências no
processo de
socialização da criança. (Ribeiro, 2005)
Discurso interior e pensamento
O discurso interior é
uma fase posterior à fala egocêntrica. É quando as palavras passam a ser
pensadas, sem que necessariamente sejam faladas. É um pensamento em
palavras. Já o
pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que
tem por função criar conexões e
resolver problemas, o que não é,
necessariamente, feito em palavras. É algo feito de ideias, que
muitas vezes
nem conseguimos verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as palavras
certas para exprimir um pensamento.
O pensamento não
coincide de forma exata com os significados das palavras. O pensamento vai
além, porque capta as relações entre as palavras de uma forma mais complexa e
completa que a
gramática faz na linguagem escrita e falada. Para a expressão
verbal do pensamento, às vezes é
preciso um esforço grande para concentrar todo
o conteúdo de uma reflexão em uma frase ou em um
discurso. Portanto, podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra;
realiza-se
nela, a medida em que é a linguagem que permite a transmissão do seu
pensamento para outra
pessoa (Vygotsky, 1998)
Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o último
plano analisável da linguagem. Podemos
encontrar um último plano interior: a
motivação do pensamento, a esfera motivacional de nossa
consciência, que
abrange nossas inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos
afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na nossa fala e no nosso
pensamento.
(Vygotsky
1998)
http://simonnemachado.blogspot.com.br/
Professora Psicopedagoga Simonne Machado