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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Jean-Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo.


Em sua obra sobre EDUCAÇÃO, o pensador suíço prega o retorno à natureza e o respeito ao desenvolvimento físico e cognitivo da criança.

Rousseau, um dos principais filósofos do Iluminismo. Pintura de Maurice Quentin de La Tour.



































Na história das ideias, o nome do suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) se liga inevitavelmente à Revolução Francesa.
Dos três lemas dos revolucionários - liberdade, igualdade e fraternidade -, apenas o último não foi objeto de exame profundo na obra do filósofo, e os mais apaixonados líderes da revolta contra o regime monárquico francês, como Robespierre, o admiravam com devoção. 
O primeiro tipo de desigualdade, para o filósofo, é natural; o segundo deve ser combatido. A desigualdade nociva teria suprimido gradativamente a liberdade dos indivíduos e em seu lugar restaram artifícios como o culto das aparências e as regras de polidez. 

Ao renunciar à liberdade, o homem, nas palavras de Rousseau, abre mão da própria qualidade que o define como humano. Ele não está apenas impedido de agir, mas privado do instrumento essencial para a realização do espírito.

Para recobrar a liberdade perdida nos descaminhos tomados pela sociedade, o filósofo preconiza um mergulho interior por parte do indivíduo rumo ao autoconhecimento. Mas isso não se dá por meio da razão, e sim da emoção, e traduz-se numa entrega sensorial à natureza.
Bom selvagem

O princípio fundamental de toda a obra de Rousseau, pelo qual ela é definida até os dias atuais, é que o homem é bom por natureza, mas está submetido à influência corruptora da sociedade. Um dos sintomas das falhas da civilização em atingir o bem comum, segundo o pensador, é a desigualdade, (TAMBÉM ARDUAMENTE COMBATIDA POR Vera Lúcia Candau  até a atualidade, tema constante em discussões acerca da EDUCAÇÃO, DA PEDAGOGIA),que pode ser de dois tipos: a que se deve às características individuais de cada ser humano e aquela causada por circunstâncias sociais.


A filosofia de Jean Jacques Rousseu  tem como essência a 
crença de que o homem  é bom naturalmente, embora esteja 

sempre sob o jugo da vida em sociedade, a qual o predispõe à 

depravação. Para ele o homem e o cidadão são condições 

paradoxais na natureza humana, pois é o reflexo das incoerências 

que se instauram na relação do ser humano com o grupo 

social, que inevitavelmente o corrompe.

É assim que o Homem, para Rousseau, se transforma em uma criatura má, a qual só pensa em prejudicar as outras pessoas. Por esta razão o filósofo idealiza o homem em estado selvagem, pois primitivamente ele é generoso. Um dos equívocos cometidos pela sociedade é a prática da desigualdade, seja a individual, seja a provocada pelo próprio contexto social.  Nesta categoria ele engloba desde a presença negativa dos ciúmes no relacionamento afetivo, até a instauração da propriedade privada como base da vida econômica.

Mas Rousseau acredita que há um caminho que pode reconduzir o indivíduo a sua antiga bondade, o qual é teorizado politicamente em sua obra  Contrato Social”, e pedagogicamente em Emílio, outra publicação essencial deste filósofo. Ele crê que a carência de igualdade na personalidade humana é algo que integra sua natureza; já a desigualdade social deve ser eliminada, pois priva o Homem do exercício da liberdade, substituindo esta prática pela devoção aos aspectos exteriores e às normas de etiqueta.

Em sua obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Rousseau discorre sobre a questão da maldade humana.
Para melhor analisar esta característica, ele estabelece três etapas evolutivas na jornada do Homem.

O primeiro estágio refere-se ao homem natural, subjugado pelos instintos e pelas sensações, sujeito ao domínio da Natureza; o segundo diz respeito ao homem selvagem, já impregnado por confrontos morais e imperfeições; segue-se, então, a condição do homem civilizado, marcada por intensos interesses privados, que sufocam sua moralidade.

É neste processo que o indivíduo se converte em um ser egoísta e individualista, convertendo sua bondade natural, gradualmente, em maldade.

O Homem abre mão de sua liberdade e assim se desqualifica enquanto ser humano, pois se vê despojado do principal veículo para a realização espiritual. A solução apontada por Rousseau para esta situação é enveredar pelos caminhos do autoconhecimento, através do campo emotivo da Humanidade.

Na esfera da EDUCAÇÃO, exposta no Emílio, ele teoriza filosoficamente sobre o Homem. Sua principal inquietação, neste ponto, é saber se educa o indivíduo ou o cidadão, já que, para ele, estas duas facetas não podem conviver no mesmo ser, por serem completamente opostas.

Rousseau defende a formação do homem natural no seu lar, junto aos familiares, por constituir um ser integral voltado para si mesmo, que vive de forma absoluta.
Já o cidadão deve ser educado no circuito público proporcionado pelo Estado, pois é tão somente uma parte do todo, e por esta razão engendra uma vida relativa.

O aprendizado social, segundo o filósofo, não produz nem o homem, nem o cidadão, mas sim um híbrido de ambos. Aliar os dois implica investir no saber do ser humano em seu estágio natural – por exemplo, a criança –, e o cidadão só terá existência a partir desta condição, a qual tem como fonte a Natureza e como fio condutor a trajetória individual.

Dependência das coisas Rousseau via o jovem como um ser integral, e não uma pessoa incompleta, e intuiu na infância várias fases de desenvolvimento, sobretudo cognitivo. Foi, portanto, um precursor da pedagogia de Maria Montessori (1870-1952) e John Dewey (1859-1952). "Rousseau sistematizou toda uma nova concepção de educação, depois chamada de ESCOLA NOVA’ e que reúne vários pedagogos dos séculos XIX e XX.


Para Rousseau, a criança devia ser educada sobretudo em liberdade e viver cada fase da infância na plenitude de seus sentidos - mesmo porque, segundo seu entendimento, até os 12 anos o ser humano é praticamente só sentidos, emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma

Liberdade não significa a realização de seus impulsos e desejos, mas uma dependência das coisas (em oposição à dependência da vontade dos adultos). "Vosso filho nada deve obter porque pede, mas porque precisa, nem fazer nada por obediência, mas por necessidade", escreveu o filósofo em Emílio. 

Um dos objetivos do livro era criticar a educação elitista de seu tempo, que tinha nos padres jesuítas os expoentes.

Rousseau condenava em bloco os métodos de ensino utilizados até ali, por se escorarem basicamente na repetição e memorização de conteúdos, e pregava sua substituição pela experiência direta por parte dos alunos, a quem caberia conduzir pelo próprio interesse o aprendizad.(*MAIS UM PENSAMENTO ANÁLOGO AO DE Friedrich Froebel).


Mais do que instruir, no entanto, a educação deveria, para Rousseau, se preocupar com a formação moral e política.
Método natural e educação negativa

Rousseau dividiu a vida do jovem - em seu livro Emílio - em cinco fases:
lactância (até 2 anos),
infância (de 2 a 12),
adolescência (de 12 a 15),
mocidade (de 15 a 20)
e início da idade adulta (de 20 a 25).

Para a pedagogia, interessam particularmente os três primeiros períodos, para os quais Rousseau desenvolve sua ideia de educação como um processo subordinado à vida, isto é, à evolução natural do discípulo, e por isso chamado de método natural.

O objetivo do mestre é interferir o menos possível no desenvolvimento próprio do jovem, em especial até os 12 anos, quando, segundo Rousseau, ele ainda não pode contar com a razão.

O filósofo chamou o procedimento de educação negativa, que consiste, em suas palavras, não em ensinar a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro. Desse modo, quando adulto, o ex-aluno saberá se defender sozinho de tais perigos.
Rousseau pregava a experiência direta, a simplicidade e a intuição em lugar da erudição - embora, mesmo assim, tenha se encarregado do verbete sobre música na obra conjunta dos filósofos das luzes. Também o misticismo os opunha: Rousseau rejeitava o racionalismo ateu e recomendava a religião natural, pela qual cada um deve buscar Deus em si mesmo e na natureza.

Com o tempo, as relações entre Rousseau e seus contemporâneos chegou ao conflito aberto. Os seguidores mais fiéis de Rousseau seriam os artistas filiados ao Romantismo. Por meio deles, suas ideias influenciaram profundamente o espírito da época. No Brasil, por exemplo, José de Alencar escorou seus romances indigenistas no mito rousseauniano do bom selvagem. (* o homem nasce naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe)




Professora  Psicopedagoga Simonne Machado