quinta-feira, 29 de setembro de 2011

LIVRO- RESUMO -Macunaíma - Ensaio (Mário de Andrade)

MACUNAÍMA - COLONIZADO X COLONIZADOR



A obra Macunaíma reúne uma visão da cultura brasileira, lendas, mitos, 

provérbios e crendices. A luta entre colonizado e colonizador.


O anti-herói negro Macunaíma, é o produto do índio misturado aos escravos 

negros.


O herói imperfeito, cujos defeitos ofuscam as qualidades é o homem brasileiro, cuja cultura imposta, afastou-o das origens.


Macunaíma nascido numa tribo amazônica, é um menino diferente, desde muito 

pequeno é mentiroso, fala palavrões e pratica muitas safadezas.


Em sua meninice já apresenta uma série de desvios de comportamento, 

principalmente em relação às mulheres das quais se aproxima.


Já no primeiro capítulo da narrativa, Macunaíma, ainda menino, mantém um 

relacionamento com Sofará, mulher de seu irmão Jiguê.


A sexualidade do herói desperta cedo, há uma libido incontrolável capaz de 

ultrapassar os limites dos laços de parentesco.


Este estudo, sobre a obra Macunaíma, tem como propósito analisar os hábitos e 

costumes da sociedade indígena no período colonial brasileiro e as regras 

impostas pelo colonizador.


Quando os portugueses aqui chegaram com o objetivo de colonizar o Brasil, os 

poucos brancos, negros e índios que aqui viviam, conviviam em uma sociedade 

que tinha suas próprias regras.


Os hábitos e costumes desses primeiros habitantes do Brasil foram descritos em Cartas e Tratados por muitos historiadores.

Gabriel Soares de Souza, no Tratado Descritivo do Brasil (1587), na Declaração 

das Grandezas da Bahia, faz uma análise minuciosa da terra e do povo que aqui vivia:
São os tupinambás tão luxuriosos que não há pecado que não cometam; ao 

quais sendo de muito pouca idade têm conta com mulheres, e bem mulheres; 

porque as velhas, já desestimadas dos que são homens, grangeiam estes 

meninos, fazendo-lhes mimos e regalos, ensinam-lhes a fazer o que eles não 

sabem, e não os deixam de dia, nem de noite. É esse gentio tão luxurioso que 

poucas vezes tem respeito às irmãs e tias, e porque este pecado é contra seus 

costumes, dormem com elas pelos matos, e alguns com suas próprias filhas; e 

não se contentam com uma mulher, mas têm muitas, como já fica dito pelo 

que morrem muitos esfaldados.?

(Literatura Comentada, Cronistas e Viajantes, Pg,88)


O herói Macunaíma nos remete à luxúria de que fala Gabriel S. de Souza,k pois, 

em plena meninice se envolve com a esposa do irmão Jiguê.


A total ausência de limites morais e a naturalidade com que ocorre o 

envolvimento de Macunaíma com cunhada estão, de certa forma, dentro dos 

padrões da sociedade da época. A precocidade da libido, a sexualidade 

exacerbada também eram características dos povos indígenas brasileiros.


O casamento, por exemplo, praticamente não havia. Pelo menos da forma 

como entendiam os colonizadores europeus. Homens e mulheres viviam em 

concubinato, amasiados, ou sob diversas variantes da vida em comum.

Mesmo essas relações liberais apresentavam poucas regras. As mulheres, como 

Sofará, Iquiri, Ci e própria mãe de Macunaíma, não mantinham relações 

estáveis. Elas certamente escolhiam um companheiro único, mas 

freqüentemente eles partiam a trabalho ou em busca de aventuras, deixando 

mulher e filhos.


A exemplo de Macunaíma, cujo pai é ignorado, os filhos eram criados pela mãe, 

tias ou avós, numa espécie de maternidade informal.

O historiador Fernão Cardim, no Tratado do Clima e Terra do Brasil, discorre 


sobre o casamento dos índios tupinambás: ?Entre eles há casamentos, porém 

há muita dúvida se são verdadeiros, assim por terem muitas mulheres, como 

pelas deixarem facilmente por qualquer arrufo, ou outra desgraça, que entre 

eles aconteça.? (literatura Comentada ? Cronistas e Viajantes ? Pg .54)


Jiguê devolve Sofará ao pai e, em seguida junta outra companheira, Iquiri, com 

a qual Macunaíma também se envolve.

Macunaíma, já na maturidade, se apropria da esposa do irmão e todos passam 

conviver em harmonia e muita naturalidade.

Os índios tinham suas regras sociais, com direitos e deveres ditados pela 

própria comunidade, regras que o colonizador português não compreendia.

A ligação mais forte e duradoura de Macunaíma se dá com Ci, com quem tem 


um filho. Mesmo após a morte do filho e da mulher Ci, Macunaíma, se recorda 

com tristeza da perda da esposa.

A virgindade obrigatória até o casamento não era exigida, mas a fertilidade era 


muito importante, tanto que a mulher precisava provar ao homem, que era fértil.


O advento da maternidade explica o relacionamento intenso entre Macunaíma e 

Ci.

Desde então o herói se lança em busca da muiraquitã, e pelo caminho tem 


inúmeras outras aventuras, conhece e se relaciona com outras mulheres, 

sempre sem compromisso. Exerce sua luxúria livre de tabus ou limites morais.


O conflito entre os colonizadores portugueses e a sociedade inicial do Brasil, fez 

com que fosse instituído o casamento.

Estabeleceu-se a cultura do ?certo? e do ?errado?, onde a paixão não 

combinava com casamento. Amor era um sentimento que se devotava 

exclusivamente e Deus: ao marido a mulher devia obediência, reverência e 

temor. A cultura européia imposta vai mudando a sociedade indígena.


Observa-se na obra Macunaíma, os hábitos e costumes dos índios brasileiros 

durante o Brasil-colônia, que vão sendo transfigurados pelos valores da cultura 

européia.


As relações conjugais sem regras estabelecidas.O papel da mulher, o amor, a 

sexualidade e ausência de tabus, vão sendo aculturados por novas regras e valores.



Mário de Andrade nos mostra um Brasil selvagem e sem limites que pouco a pouco foi transformado pelo colonizador.


A imposição da cultura européia e de seus valores, submetendo o Brasil a uma 

identidade confusa. Valores primitivos convivendo com os que são absorvidos do colonizador.


Macunaíma é, portanto, o herói brasileiro resultante do conflito entre colonizado e colonizador, cuja fusão de culturas, resulta uma confusa identidade.


http://simonnemachado.blogspot.com.br/


Professora  Psicopedagoga Simonne Machado

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Professora Simone Calixto