terça-feira, 30 de setembro de 2014

Canal do governo no auxílio ao consumidor

Consumidores terão agora um canal do governo na internet para se queixarem de um produto ou serviço e tentar solucionar o problema.

Trata-se do portal 
www.consumidor.gov.br, que foi lançado pelo Ministério da Justiça  .
Por meio dele, os consumidores poderão entrar em contato com a empresa responsável e registrar a reclamação.

Para isso, contudo, é preciso que a companhia tenha firmado acordo com o governo, concordando em participar do projeto. Os consumidores terão de fazer um cadastro no portal, informando dados pessoais como endereço e número de CPF.
"Queremos que seja um site efetivo, e não um muro de lamentações. Será um serviço público com espaço para monitoramento das queixas pelo governo e pelas agências reguladoras", afirma Juliana Pereira, secretária nacional do consumidor do Ministério da Justiça.

PROCON VIRTUAL: GOVERNO PROMETE QUE SITE 

AJUDAR O CONSUMIDOR

O site já pode ser acessado por meio do endereço www.consumidor.gov.br, mas, por enquanto apenas 11 Estados e o Distrito Federal poderão utilizá-lo. A meta do governo é que até o dia 1º de setembro o uso esteja liberado para todo o país.

Por enquanto, 118 empresas já aderiram (veja os setores em quadro ao lado). Elas se comprometeram, assim, a "analisar e investir todos os esforços para solucionar o problema", segundo Pereira.

O prazo estipulado pelo governo para o atendimento das demandas é de dez dias.

O site funcionará como uma espécie de Procon virtual, mas sem o poder de polícia da instituição. Não há previsão de multas ou punições para as companhias que não resolvam a queixa ou não atendam o consumidor dentro do prazo.




A ideia é que o site facilite o contato entre consumidores e empresas e ajude a desafogar os Procons.

"Há uma série de questões do consumidor com as quais o Estado tem de se preocupar e não faz porque está ocupado com a geladeira com defeito ou o atendimento que não ocorreu. As empresas podem e devem solucionar isso. Por que precisa do Estado no meio?", diz Pereira.

Parte das informações registradas no site será pública, como o assunto da queixa e a empresa que recebeu a reclamação. A identidade do usuário e seus dados pessoais serão mantidos sob sigilo.

Para montar o projeto, o Ministério da Justiça entrou em contato inicialmente com as empresas que costumam receber o maior número de reclamações nos Procons, como operadoras de telefonia, bancos e grandes varejistas. A adesão, contudo, foi grande e já há companhias na lista de espera, diz Pereira.

Entre as empresas que já firmaram acordo, estão as redes de varejo Casas Bahia e Magazine Luiza, as operadoras de telefonia Oi, Tim, Claro e Vivo, as operadoras de plano de saúde Amil e Bradesco Saúde e as fabricantes Consul e Samsung.

Penélope Sharmosa

domingo, 21 de setembro de 2014

Especial Shakespeare 1- Macbeth William Shakespeare

capa




Personagens

DUNCAN, rei da Escócia.
MALCOLM, seu filho


DONALBAIN, seu filho.


MACHBETH, General do exército do rei


BANQUO, General do exército do rei.


MACDUFF, Nobre da Escócia.


ROSS, Nobre da Escócia.


MENTEITH, Nobre da Escócia.


ANGUS, Nobre da Escócia.


CAITHNESS, Nobre da Escócia.


FLEANCE, filho de Banquo.


SIWARD, duque de Northumberland, general do exército inglês.
O jovem Siward, seu filho.


SEYTON, oficial ligado a Macbeth.
Menino, filho de Macduff.
Um médico inglês.
Um médico escocês.
Um sargento.
Um porteiro.
Um velho.


Lady Macbeth


Lady Macduff
Criado de quarto de Lady Macbeth.
Hécate e três bruxas.
Nobres, gentis-homens, oficiais, soldados, assassinos, criados e mensageiros. O fantasma de Banquo e outras aparições.



ATO I
Cena I

Lugar deserto. Trovões e relâmpagos. Entram três 

bruxas.

PRIMEIRA BRUXA — Quando estaremos à mão 

com chuva, raio e trovão?

SEGUNDA BRUXA — Depois de calma a baralha e 

vencida esta batalha.

TERCEIRA BRUXA — Hoje mesmo, então, sem 

falha.

PRIMEIRA BRUXA — Onde?


SEGUNDA BRUXA — Da charneca ao pé.

TERCEIRA BRUXA — Para encontrarmos Macbeth

PRIMEIRA BRUXA — Graymalkin, não faltarei.

SEGUNDA BRUXA — Paddock chama.

TERCEIRA BRUXA — Depressa!

TODAS — São iguais o belo e o feio; andemos da 

névoa em meio.

(Saem).
Cena II

Um campo perto de Forres. Alarma dentro. Entram o rei 

Duncan, Malcolm, Donalbain, Lennox e pessoas do 

séquito. Encontram um sargento ferido.

DUNCAN —Quem é esse indivíduo ensangüentado?


Pelo que mostra, pode dizer algo sobre o estado 

recente da revolta.

MALCOLM — É o sargento que, como bom e 

intrépido soldado, me livrou do cativeiro. Salve, 

valente amigo! Ao rei relata quanto sabes da luta 

até ao momento em que saíste dela.

SARGENTO — Duvidoso era o desfecho, como dois 

cansados nadadores que um no outro se 

embaraçam, a arte prejudicando mutuamente. O 

impiedoso Macdonwald, digno em tudo de ser 

mesmo um rebelde — que as inúmeras vilanias do 

mundo em torno dele como enxames esvoaçam — 

suprimentos das ilhas do oeste recebeu de 

quernes e galowglasses; e a fortuna, rindo para 

sua querela amaldiçoada, mostrou-se prostituta 

de um rebelde. Mas tudo isso foi fraco em 

demasia, porque o bravo Macbeth — merece o 

título — desdenhando a fortuna, de aço em 

punho, a fumegar da execução sangrenta, tal 

como o favorito da bravura, soube um caminho 

abrir até postar-se bem na frente do escravo, não 

lhe tendo apertado a mão nem dito nenhum 

adeus, enquanto de alto a baixo não o descoseu e 

em nossos parapeitos pendurou-lhe a cabeça.

DUNCAN — Oh bravo primo! Que digno gentil-

homem!



SARGENTO — Como nascem tempestades 

terríveis e arrebentam pavorosos trovões do 

mesmo lado em que o sol principia a levantar-se: 

da mesma fonte, assim, de onde o socorro parecia 

manar, surgiu o alarma. Presta atenção agora, rei 

da Escócia: mal havia a justiça, redobrada pelo 

valor, forçado os ágeis quernes a confiar nos 

próprios calcanhares, quando o senhor dos 

noruegueses, tendo percebido a vantagem, com 

polidas armas e gente fresca de reforço, 

DUNCAN — E porventura temor não causou isso 

em nossos cabos Banquo e Macbeth?

SARGENTO — Como os pardais às águias ou a 

lebre ao leão. Para dizer o que houve, terei de 

relatar que pareciam canhões com dupla carga 

reforçados. Assim eles redobravam no imigo 

duplos golpes. Se queriam banhar-se em 

fumegantes feridas, se dar fama a um outro 

Gólgota, não sei dizê-lo. Mas temo desmaiar; 

minhas feridas reclamam por socorro.

DUNCAN — Teu relato te orna tão bem como esses 

ferimentos; lídimo sabor de honra eles revelam. 

Ide buscar um cirurgião para ele. 

(Sai o sargento, acompanhado.) (Entra Ross.) Quem 

vem aí?

recomeçou o assalto.

MALCOLM — O muito digno thane de Ross. Nos 

olhos dele, quanta pressa! O olhar assim teria 

quem nos viesse dar notícias de fatos muito 

estranhos.

ROSS — Que Deus proteja o rei.

DUNCAN — Mui digno thane, de onde vens?

ROSS — Grande rei, venho de Fife, onde as 

bandeiras norueguesas zombam do céu e deixam 

fria nossa gente com sua agitação. O soberano 

norueguês em pessoa, com terrível número, 

reforçado pelo thane de Cawdor o traidor desleal e 

pérfido, deu início a um conflito pavoroso, até que 

o forte noivo de Belona, à prova de valor, veio com 

ele defrontar-se em combate singular, espada 

contra espada, braço contra braço rebelde, e fez 

que seu espírito altivo se curvasse. Em conclusão: 

a vitória pendeu do nosso lado.

DUNCAN — Grande felicidade!

ROSS — De tal medo que Sweno, o norueguês, 

paz nos implora. Mas não o deixamos sepultar os 

mortos sem que, antes, em Saint Colme, dez mil 

dólares houvesse pago para nossa caixa.

DUNCAN — Jamais de novo há de trair o thane de 

Cawdor nosso afeto. Sem delongas o condenai à 

morte e com seu título saudai Macbeth.

ROSS — A mim tomo esse encargo.

DUNCAN — Folga Macbeth com o que para ele é 

amargo.

(Saem).


Cena III

A charneca. Trovões. Entram as três bruxas.

PRIMEIRA BRUXA — Onde estiveste, irmã?

SEGUNDA BRUXA — Matando porco.

TERCEIRA BRUXA — E tu, irmã?

PRIMEIRA BRUXA — Cheio o regaço tinha de 

castanhas a mulher de um marujo, e mastigava, 

mascava, mastigava. “Cede-me uma”, lhe disse. 

“Vai-te embora, bruxa!” grita-me a gorda 

comedora 

de babugem. Em caminho de Alepo está o marido, 

como chefe do “Tigre”. Mas como rato cotó numa 

peneira vou só. E roque, roque, roque!

SEGUNDA BRUXA — Vou dar-te um bom vento.

PRIMEIRA BRUXA — Vem a meu contento.

TERCEIRA BRUXA — Com mais um podes contar.

PRIMEIRA BRUXA — Saberei outros achar e os 

portos de mais zunidos e os pontos deles sabidos 

na carta dos marinheiros. Vou deixá-lo como 

enguia, sem que o sono, noite e dia, lhe baixe aos 

olhos um nada. Vai ser vida amaldiçoada. 

Semanas noventa e nove, fraco e magro, nem se 

move; e embora não perca o barco, de tufões não 

será parco. Vê o que eu trouxe!

SEGUNDA BRUXA — Mostra-me! Mostra-me!

PRIMEIRA BRUXA — O dedo de um marinheiro 

que naufragou no roteiro.

(Barulho de tambor, dentro.)


TERCEIRA BRUXA — Tambor! Tambor! Eis 

Macbeth, o vencedor!

TODAS — As três bruxas, mãos unidas, por 

estradas não batidas, por mar e terra se vão. Três 

para ti, três a mim. três para nove no fim. 

Silêncio! 

O encanto está pronto.

(Entram Macbeth e Banquo.)


MACBETH — Nunca vi dia assim, tão feio e belo.

BANQUO — A que distância ainda se encontra 

Forres? Quem são essas criaturas tão mirradas e 

de vestes selvagens, que habitantes não parecem 

da terra e, no entretanto, nela se movem? Acaso 

tendes vida? Sois algo a que perguntas dirijamos? 

Pareceis compreender-me, pois a um tempo levais 

os dedos ósseos a esses lábios encarquilhados. 

Quase vos tomara por mulheres; no entanto 

vossas barbas não me permitem dar-vos esse 

nome.

MACBETH — Respondei, se puderdes: quem sois 

vós?

PRIMEIRA BRUXA — Viva, viva Macbeth! Nós te 

saudamos, thane de Glamis!

SEGUNDA BRUXA — Viva, viva Macbeth! Nós te 

saudamos, thane de Cawdor!

TERCEIRA BRUXA — Viva Macbeth, que há de ser 

rei mais tarde!

BANQUO — Meu bondoso senhor, por que motivo 

vos mostrais assustado, parecendo recear o que 

de ouvir é assim tão belo? Em nome da verdade, 

imaginárias sereis realmente, ou o que mostrais 

por fora? Meu nobre companheiro foi saudado 

com títulos, por vós, de atual valia e grande 

predição de haveres nobres e de real esperança, 

que parece deixá-lo arrebatado. Porém nada me 

dissestes. Se podeis ver a seara do tempo e 

predizer quais as sementes que hão de brotar, 

quais não, falai comigo, que não procuro nem 

receio vosso ódio ou vosso favor.

PRIMEIRA BRUXA — Salve!

SEGUNDA BRUXA — Salve!

TERCEIRA BRUXA — Salve!

PRIMEIRA BRUXA — Menor do que Macbeth, 

porém maior!

SEGUNDA BRUXA — Não tão feliz, mas muito 

mais feliz!

TERCEIRA BRUXA — Gerarás reis, embora rei não 

sejas! Assim, viva Macbeth e viva Banquo!

PRIMEIRA BRUXA — Viva Banquo e Macbeth! A 

todos, viva!

MACBETH — Um momento, oradoras imperfeitas. 

Falai-me mais um pouco. Pela morte de Sinel eu 

fiquei thane de Glamis. Mas, Cawdor, de que jeito? 

Vive o thane de Cawdor, gentil-homem muito 

próspero; e ser rei ultrapassa os horizontes da 

crença tanto ou mais do que ser Cawdor. Dizei de 

onde tirastes tão insólita notícia e por que causa 

nos fizestes parar nesta charneca desolada, com 

saudações proféticas? Intimo-vos a me falar.


(As bruxas desaparecem.)


BANQUO — A terra tem borbulhas, tal como a 

água. Elas são justamente isso. Mas para onde 

sumiram?

MACBETH — No ar; e tudo quanto nos parecia ser 

corpóreo se fundiu como ao vento nosso anélito. 

Oh! se tivessem demorado um pouco!

BANQUO — Aqui estiveram, mesmo, essas 

criaturas sobre que conversamos, ou teríamos 

comido da raiz malsã que deixa prisioneira a 

razão?

MACBETH — Reis, vossos filhos?

BANQUO — Chegareis a rei.

MACBETH — E assim, thane de Cawdor. Não foi 

isso?

BANQUO — Esse, o tom e as palavras. Quem vem 

vindo?
(Entram Ross e Angus.)

ROSS — Macbeth, com alegria o rei as novas 

recebeu da vitória que obtiveste, e quando ouve 

falar que aventuraste tua pessoa contra esses 

rebeldes, põem-se nele a lutar os elogios e a 

admiração sobre que parte fora justo te reservar, 

qual a ele próprio. Se sobre isso não fala, 

compendiando quanto houve neste dia 

extraordinário, descobre-te na fila dos intrépidos 

noruegueses, impávido ante as formas da morte 

estranhas por ti próprio criadas. Bastos como 

granizo, os mensageiros se sucediam, todos 

portadores de encômios para ti nesta grandiosa 

defesa de seu reino, derramando-lhe aos pés os 

elogios.


ANGUS — Aqui estamos para trazer-te os 

agradecimentos de nosso real senhor e te levarmos 

à sua frente, não para pagar-te.


ROSS — E como arras de uma honra de mais 

vulto, por ele devo te chamar de thane de Cawdor. 

Salve, pois, mui digno thane, por essa promoção, 

pois teu é o título.

BANQUO — Como! Falou o diabo, então, verdade?

MACBETH — Vive o thane de Cawdor; qual a 

causa de me vestirdes com a roupagem de outrem?

ANGUS — O que foi thane ainda está com vida: 

mas sob pesado juízo a vida se acha que ele 

malbaratou. Ou mantivesse combinação com os 

próprios noruegueses, ou por meios secretos os 

rebeldes procurasse auxiliar, ou dos dois lados se 

empenhasse na ruína de sua pátria, não sei dizê-

lo; mas o certo é que altas traições, já confessadas 

e provadas, o fizeram cair.

MACBETH (à parte) — Glamis e thane de Cawdor...


O maior virá a seu tempo. (A Ross e Angus.

Agradeço o trabalho. (A Banquo.) Esperançado não 

ficais de que venham vossos filhos a ser reis, uma 

vez que as que de thane de Cawdor me chamaram, 

não menores coisas lhes prometeram?

BANQUO — Uma grande confiança na promessa 

poderia vos inflamar para chegar ao trono, mais 

que thane de Cawdor. Mas é estranho; por vezes, 

para nos perdermos, contam-nos os agentes das 

trevas alguns fatos verídicos, seduzem-nos com 

coisas inocentes, porém de pouca monta, para nos 

arrastar a conseqüências incalculáveis. Primo, 

uma palavrinha, por obséquio.

MACBETH (à parte) — Duas verdades foram ditas, 

prólogo feliz do ato elevado, cujo tema é 

simplesmente real. — Muito obrigado. senhores. 

(À parte.) Essa solicitação tão sobrenatural pode 

ser boa, como pode ser má... Se não for boa, por 

que me deu as arras de bom êxito, relatando a 

verdade? Sou o thane de Cawdor. Sendo boa, por 

que causa ceder à sugestão, cuja figura pavorosa 

os cabelos me arrepia, fazendo que me bata nas 

costelas o coração tão firme, contra as normas da 

natureza? O medo que sentimos é menos de temer 

que as mais terríveis mas fictícias criações. Meu 

pensamento no qual o crime por enquanto é 

apenas um fantasma, a tal ponto o pobre reino de 

minha alma sacode, que esmagada se torna a vida 

pela fantasia, sem que haja nada além do que não 

é.

BANQUO — Como ficou absorto nosso amigo!

MACBETH (à parte) — Se o acaso quer que eu seja 

rei, o acaso me poderá coroar sem que eu me 

mexa.

BANQUO — As honras mais recentes caem nele 

como em nós roupa nova, que somente com o uso 

vêm a se ajeitar no corpo.

MACBETH (à parte) — Venha o que vier, que a 

hora da alegria chega depois do mais cansado dia.

BANQUO — Digno Macbeth, por vós é que 

esperamos.

MACBETH — Desculpai-me; mas meu pesado 

cérebro se ocupava com coisas esquecidas. Vosso 

trabalhos, dignos cavalheiros, gravados ficam 

onde diariamente virar eu possa as folhas para lê-

los. Procuremos o rei. (A Banquo.) Pensai no que 

houve, que mais tarde, depois de refletirmos, com 

o coração aberto falaremos.

BANQUO — Pois não.

MACBETH — Por hoje basta. Amigos, vamos!

(Saem.)



Cena IV

Forres. Um quarto no palácio. Fanfarra. Entram 

Duncan, Malcolm, Donalbain, Lennox e pessoas do 

séqüito.

DUNCAN — Cawdor já foi executado? Os homens 

incumbidos do feito já voltaram?

MALCOLM — Meu suserano, ainda não vieram; 

mas falei com alguém que o viu morrer, que me 

disse haver ele confessado francamente as 

traições, pedido a Vossa Grandeza lhe perdoasse e 

revelado grande arrependimento. Nada em vida 

tanto o ornou como o modo de deixá-la. Morreu tal 

como se estudado houvesse como na hora da 

morte desfazer-se do mais precioso bem, como se 

fosse de somenos valor.

DUNCAN — Não existe arte que ensine a ler no 

rosto as feições da alma. Era um fidalgo em quem 

depositava absoluta confiança. (Entram Macbeth, 

Banquo, Ross e Angus.) Ó digno primo! Neste 

instante pesava-me o pecado de minha ingratidão. 

Tão na dianteira te achas agora, que as mais 

lestes asas da recompensa se revelam tardas 

demais para alcançar-te. Quem me dera que teus 

méritos fossem mais modestos, porque estivesse 

em mim a conta certa dos agradecimentos e da 

paga! Só me resta dizer-te que mereces mais, 

muito mais do que as mais ricas messes.


MACBETH — O serviço e a lealdade que vos devo 


por si mesmos se pagam, competindo tão-somente 

a Vossa Honra contar sempre com nossa 

obrigação, consistindo esta em bem servir o trono, 

o Estado, os filhos e os servidores, que só fazem 

quanto devem fazendo tudo quanto podem com 

relação a vosso amor e glória.


DUNCAN — Sê bem-vindo. A plantar-te comecei; 

hei de esforçar-me, assim, para que alcances 

crescimento completo. Nobre Banquo, que menos 

não fizeste e cujos feitos ficar não devem menos 

conhecidos: permite que te abrace e aperte muito 

de encontro ao coração.

BANQUO — Se em tal terreno eu me der bem, 

vossa será a colheita.

DUNCAN — As minhas abundantes alegrias, 

ébrias de plenitude, ora procuram ocultar-se nas 

togas da tristeza. Filhos, parentes, thanes, e vós 

outros que vos achais mais próximos: sabei que 

reforçar queremos nosso Estado em nosso 

primogênito Malcolm a quem nomeamos 

doravante príncipe de Cumberlândia. Mas não há 

de essa honra a ele somente ornar. Não; como 

estrelas, títulos brilharão de alta nobreza sobre 

quem merecer. (A Macbeth.) Daqui sigamos para 

Inverness, a fim de que se dobrem minhas 

obrigações para convosco.

MACBETH — Trabalho será o ócio que em proveito 

vosso não for usado. Eu mesmo quero ser o 

aposentador de Vossa Alteza, para que jubilosos 

os ouvidos deixe de minha esposa com a notícia de 

que em breve estareis em nossa casa. Assim, 

despeço-me.

DUNCAN — Meu digno Cawdor!

MACBETH (à parte) — Já príncipe de 

Cumberlândia! É escolho que ao mar me joga, se 

eu não abrir o olho. Estrelas, escondei a luz 

jucunda, para que a escuridão não veja funda de 

meus negros anseios! Que na frente da mão o olho 

se feche prestesmente; mas que se concretize o 

que, acabado, faça o olho estremecer de 

horrorizado. (Sai.)


DUNCAN — É certo, digno Banquo; é mui valente. 

Dos elogios dele me alimento; são para mim 

banquete. Acompanhemo-lo. O zelo dele vai na 

nossa frente para nos preparar o acolhimento. Não 

há parente igual.


(Fanfarras. Saem.)


Cena V

Inverness. Castelo de Macbeth. Entra lady 

Macbeth, lendo uma carta.

LADY MACBETH — “Elas me encontraram no dia 

da vitória e pude verificar, pela mais exata 

confirmação, que são dotadas de saber mais do 

que humano. Quando eu ardia em desejos de 

continuar a interrogá-las, desfizeram-se em ar, no 

qual se dissiparam. Enquanto eu me encontrava 

tomado de estupor com o que acontecera, 

chegaram mensageiros do rei, que me 

cumprimentaram a uma voz como “Thane de 

Cawdor”, título com que, antes, me haviam 

saudado as irmãs feiticeiras, referindo-se ao meu 

futuro por este modo: “Salve! Ainda virás a ser 

rei!”. Pareceu-me bem comunicar-te o que se 

passou, companheira querida de minha grandeza, 

para que não viesses a perder a parte que te cabe 

dessa felicidade, com ignorares o futuro que te 

está prometido. Guarda isto no coração e adeus.”

Glamis já és e Cawdor, e em futuro virás a ser o 

que te prometeram. Temo, porém, a tua natureza 

cheia de leite da bondade humana, que entrar não 

te consente pela estrada que vai direito à meta. 

Desejaras ser grande, e não te encontras 

destituído, de todo, de ambição; porém careces da 

inerente maldade. O que desejas com fervor, 

desejaras santamente; não queres jogo ilícito, ruas 

queres ganhar mal. Desejaras, grande Glamis, 

possuir o que te grita: “Desse modo precisarás 

fazer, para que o tenhas!” Mas antes medo tens de 

fazer isso do que desejas que não fique feito. Vem 

para cá, para que meus espíritos nos ouvidos te 

deite e com a ousadia de minha língua chicoteie 

quantos obstác'los te separam do áureo círculo 

com que o destino e o auxílio metafísico como que 

desde já te coroaram. (Entra um mensageiro.

Quais são as novidades?

MENSAGEIRO — Hoje à noite o rei chegará aqui.

LADY MACBETH — Como! Estás louco? Acaso teu 

senhor não está com ele? Não deixaria de 

instruções mandar-me, para os preparativos.

MENSAGEIRO — Com licença. mas é verdade. Vai 

chegar o thane. Um dos meus camaradas a 

dianteira dele tomou, de estafa quase morto, mal 

lhe restando o fôlego preciso para dar o recado.


LADY MACBETH — Cuidem dele com carinho; traz 

grandes novidades. (Sai o mensageiro.) Rouco está 

o próprio corvo que crocita a chegada fatídica de 

Duncan à minha fortaleza. Vinde, espíritos que os 

pensamentos espreitais de morte, tirai-me o sexo, 

cheia me deixando, da cabeça até aos pés, da mais 

terrível crueldade! Espessai-me todo o sangue; 

obstruí os acessos da consciência, porque batida 

alguma compungida da natureza sacudir não 

venha minha hórrida vontade, promovendo acordo 

entre ela e o ato. Ao feminino peito baixai-me, e fel 

bebei por leite, auxiliares do crime, de onde as 

vossas substâncias incorpóreas sempre se acham 

à espreita de desgraças deste mundo.

Vem, noite espessa, e embuça-te no manto dos 

vapores do inferno mais sombrios, porque as 

feridas meu punhal agudo não veja que fizer, nem 

o céu possa espreitar através do escuro manto e 

gritar: “Pára! Pára!” (Entra Macbeth.) Grande 

Glamis, digno Cawdor, maior do que ambos, 

ainda, pela futura saudação. Tua carta além me 

pôs deste presente néscio, sentindo eu futuro 

neste instante.

MACBETH — Duncan, meu caro amor, chega esta 

noite.

LADY MACBETH — E quando vai embora?

MACBETH — Amanhã mesmo, segundo pensa.

LADY MACBETH — O sol, oh! nunca, nunca verá 

esse amanhã. Vosso rosto, meu thane, é um livro 

aberto em que podemos ler coisas estranhas. Para 

o mundo enganardes, a aparência tomai do 

mundo; tende boas-vindas nas mãos, nos olhos e 

na própria língua; a todos parecei flor inocente, 

mas sede a serpe que na flor se esconde. 

Cuidemos do hóspede que chega, sendo que a 

meu cargo deveis deixar o grande negócio desta 

noite, que nos há de legar dias e noites de alegria, 

de mando soberano e de valia.

MACBETH — Depois conversaremos.

LADY MACBETH — Só te digo que a voz mudar é 

revelar perigo. Deixa o resto comigo.

(Saem.)





Cena VI

O mesmo. Diante do castelo. Oboés e tochas. 

Entram Duncan, Malcolm, Donalbain, Banquo, 

Lennox, Macduff, Ross, Angus e pessoas do séquito.

DUNCAN — É bela a posição deste castelo. O ar 

afaga os sentidos delicados por maneira agradável 

e serena. Os hóspedes do estio, as andorinhas, dos 

templos familiares, bem demonstram com seus 

ninhos mimosos que o celeste hálito aqui cativa 

com o perfume. Não há sacada, friso, arcobotante, 

ou favorável canto em que esses pássaros não 


suspendam seu leito e o berço fértil. Onde eles 


gostam de viver, notei-o, o ar é mui delicado. 


(Entra ady Macbeth.)


 Vede! Vede! Nossa hospedeira ilustre! O amor que 

segue nossos passos, por vezes nos perturba. Mas, 


sendo amor, agradecemos sempre. Com isso vos 

ensino a dirigir-nos um “Deus vos recompense” 

pelos muitos trabalhos que vos damos, e a os 

incômodos ainda agradecer-nos.

LADY MACBETH — Fossem duplos nossos 

trabalhos, sob qualquer aspecto, e depois 

redobrados, ainda foram coisinhas sem valor, se 

comparados com as honrarias grandes e 

profundas com que sobrecarrega nossa casa vossa 

alta majestade. Pelos velhos benefícios e as honras 

mais recentes que lhe acrescentastes, confessamo-

nos como vossos devotos.

DUNCAN — E onde o thane de Cawdor se meteu? 

No encalço dele corremos até aqui, pensando 

mesmo que de aposentador lhe serviríamos. Mas 

ele monta muito bem, e o grande afeto que nos 

vota, agudo como suas esporas, à sua própria 

casa o trouxe antes de nós. Formosa e digna 

hospedeira, esta noite ficaremos aqui como vosso 

hóspede.

LADY MACBETH — A existência tiveram sempre 

os servos, eles próprios e seus haveres todos como 

simples depósito ao dispor de Vossa Alteza, pronto 

a ser devolvido.

DUNCAN — A mão vos tomo; para o meu 

hospedeiro conduzi-me. Temos-lhe grande amor e 

mostrar-lhe-emos provas ainda mais de nossa 

graça. Permiti-me, hospedeira.

(Saem.)



Cena VII

O mesmo. Um quarto no castelo. Oboés e tochas. Um 
trinchante atravessa o palco com diversos criados, 

que carregam pratos e acessórios da mesa. Depois entra Macbeth.

MACBETH — Se feito fosse quanto fosse feito, 

seria bom fazermo-lo de pronto. Se o assassínio 

enredasse as conseqüências e alcançasse, com o 

fim, êxito pleno; se este golpe aqui fosse tudo, e 

tudo terminasse aqui em baixo, aqui somente, 

neste banco de areia da existência, a vida de após 

morte arriscaríamos. Mas é aqui mesmo nosso 

julgamento em semelhantes casos; só fazemos 

ensinar as sentenças sanguinárias que, uma vez 

aprendidas, em tormento se viram do inventor. 

Essa justiça serena e equilibrada a nossos lábios 

apresenta o conteúdo envenenado da taça que nós 

mesmos preparáramos. Ele está aqui sob dupla 

salvaguarda. De início, sou parente dele e súdito, 

duas razões de força contra esse ato; depois, sou o 

hospedeiro, que devera fechar a porta a seus 

assaltadores, não levantar contra ele minha faca. 

Esse Duncan, por fim, tem revelado tão brandas 

qualidades de regente, seu alto ofício tem 

exercitado por maneira tão pura que suas claras 

virtudes hão de reclamar, sem dúvida, contra o 

crime infernal de sua morte. E a piedade, tal como 

um recém-nado despido, cavalgando a 

tempestade, ou querubim celeste que montasse 

nos corcéis invisíveis das rajadas, há de atirar 

esse ato inominável contra os olhos de todas as 

pessoas, até que o vento as lágrimas afoguem. 

Esporas não possuo, para os flancos picar do meu 

projeto, mas somente a empolada ambição que, 

ultrapassando no salto a sela, vai cair sobre 

outrem. (Entra lady Macbeth.) Que há de novo?

LADY MACBETH — Já está no fim da ceia. Por 

que saístes?

MACBETH — Perguntou por mim?

LADY MACBETH — Pois ainda me fazeis essa 

pergunta?

MACBETH — Não iremos mais longe neste 

assunto. Muitas honras me fez ultimamente, 

havendo eu conquistado áureo conceito junto de 

toda gente, que desejo mostrar com o novo brilho, 

não de lado jogar sem mais nem menos.

LADY MACBETH — Encontra-se embriagada a 

esperança que até há pouco vos revestia? 

Adormeceu, decerto, desde então e acordou agora, 

pálida e verde a contemplar o que ela própria 

começara tão bem? Desde este instante para mim 

teu amor vale isso mesmo. Tens medo de nos atos 

e coragem mostrar-te igual ao que és em teus 

anelos? Queres vir a possuir o que avalias como 

ornamento máximo da vida, mas qual poltrão viver 

em tua estima, deixando que um “Não ouso” vá no 

rasto de um “Desejara”, como o pobre gato de que 

fala o provérbio?

MACBETH — Paz, te peço. Ouso fazer tudo o que 

faz um homem; quem fizer mais, é que deixou de 

sê-lo.

LADY MACBETH — Que animal foi, então, que 

teve a idéia de me participar esse projeto? Quando 

ousastes fazê-lo éreis um homem, e querendo ser 

mais do que então éreis tanto mais homem a ficar 

viríeis. Lugar e tempo então não concordavam; no 

entanto desejáveis ajeitá-los; e ora que se 

acomodam por si mesmos, essa boa vontade vos 

abate! Já amamentei e sei como é inefável amar a 

criança que meu leite mama; mas no momento em 

que me olhasse, rindo, o seio lhe tirara da 

boquinha desdentada e a cabeça lhe partira, se 

tivesse jurado, como o havíeis em relação a isso.

MACBETH — Se falharmos...

LADY MACBETH — Falharmos? Bastará 

aparafusardes vossa

coragem até o ponto máximo, para que não 

falhemos. Quando

Duncan se puser a dormir — e a rude viagem de 

hoje o convidará

para isso mesmo — ambos os camareiros de tal 

modo dominarei

com vinho, que a memória, essa guarda do 

cérebro, fumaça tão-

somente será e o receptáculo da razão, alambique. 

E quando os

corpos nesse sono de porco se encontrarem, como 

se mortos fossem, que de coisas não faremos em 

Duncan indefeso, que culpas não imputaremos a 

esses servidores-esponjas, porque fiquem

responsáveis por nosso grande crime?

MACBETH — Só deves dar à luz a filhos homens, 

pois teu vigor indômito só pode filhos homens 

nutrir. Será aceitável, quando de sangue 

besuntado houvermos os dois homens que 

dormem no seu quarto, e seus próprios punhais 

também usado, que foram eles os autores disso?

LADY MACBETH — Quem ousará pensar de outra  
maneira, quando rugirmos nossa dor e os altos    

clamores rimbombarem sobre o morto?

MACBETH — Preparado me encontro e deixo 

tensos todos os nervos para esse ato horrível. 

Vamos! Recomponhamo-nos primeiro; coração 

falso e rosto lisonjeiro.

(Saem.)



ATO II
Cena I


Inverness. Pátio no interior do castelo. Entram 

Banquo e Fleance, precedidos de um criado com 

uma tocha.

BANQUO — Quanto da noite já será, menino?

FLEANCE — Não ouvi bater horas, mas a lua já se 

escondeu.

BANQUO — Ela se esconde às doze.

FLEANCE — Penso, senhor, que será mais do que 

isso.
BANQUO — Toma aqui minha espada. Há 

economia no céu; todas as luzes se apagaram. 

Fica também com isto. Em mim se exerce uma 

pressão pesada como chumbo. No entretanto, 

quisera não dormir. Detende em mim, poderes 

criadores, os pensamentos maus que a natureza 

permite aos que repousam. 

(Entra Macbeth, acompanhado de criado, com uma tocha.)

Quem vem lá?

MACBETH — Um amigo.

BANQUO — Como, senhor! Ainda estais de pé? O 

rei já foi deitar-se; revelava insólita alegria, tendo 

enchido de grossos cabedais vossos celeiros. 

Saúda vossa esposa, oferecendo-lhe este 

diamante, como à mais bondosa das hospedeiras. 

Foi-se para o quarto com um contentamento sem 

limites.

MACBETH — Tomada de surpresa, nossa boa 

vontade se mostrou serva da falta. Se não, teria 

inteira liberdade.

BANQUO — Tudo vai bem. Sonhei na última noite 

com as três irmãs fatais. Muito verídicas com 

relação a vós se revelaram.

MACBETH — Não penso nelas; no entretanto, 

quando tivermos alguma hora favorável 

dedicaremos a isso umas palavras, se o tempo vos 

sobrar.

BANQUO — Com todo o gosto.

MACBETH — Se no tempo oportuno concordardes 

com meu modo de ver, ganhareis honra.

BANQUO — Se não vier a perdê-la no propósito de 

fazê-la aumentar, puro deixando-me o coração e 

límpida a obediência, ouvir-vos-ei de grado.

MACBETH — Bom repouso até esse dia.

BANQUO — Muito agradecido, meu senhor; iguais 

votos vos dirijo.

(Saem Banquo e Fleance.)

MACBETH — Vai dizer à senhora que me faça 

sinal com o sino, quando estiver pronta minha 

bebida. Depois disso, deita-te. (Sai o criado.) Será 

um punhal que vejo em minha frente com o cabo a 

oferecer-se-me? Peguemo-lo. Não te apanhei 

ainda; no entretanto, vejo-te sempre. Não serás 

sensível, visão funesta, ao tato como à vista? Ou 

de um punhal não passas, simplesmente, do 

pensamento, uma criação fictícia, procedente do 

cérebro escaldante? Percebo-te, no entanto, e tão 

palpável como este que ora empunho. Mostras-me 

a estrada que seguir eu devo e o instrumento que 

usar serei forçado. Se meus olhos joguete não se 

mostram de meus outros sentidos, sobrepujam 

todos eles. Ainda te percebo, manchado o cabo e a 

lâmina de gotas de sangue que antes não estava 

neles. Não existe tal coisa; é o sanguinário projeto 

que a meus olhos toma forma. Em metade do 

mundo, neste instante, parece estar sem vida a 

natureza; os sonhos maus iludem sob as 

pálpebras o sono bem velado; feiticeiras o rito 

exercem singular da pálida Hécate; o esquálido 

assassino, posto de alerta pela sua sentinela, o 

lobo, cujo uivar lhe serve de horas, com passo de 

ladrão e o andar furtivo de Tarquínio, da meta se 

aproxima, tal qual fantasma. Ó terra forte e sólida, 

não ouças o barulho de meus passos, seja qual for 

a direção que tomem, porque as próprias 

pedrinhas não propalem para onde eu vou e 

dissipar não façam o horror desta hora que tão 

bem lhe fica. Eu ameaço; ele vive; congelada pelo 

meu sopro a ação se torna em nada. (O sino soa.

Já vou; está feito. O sino me convida. Duncan, 

não ouças; é um chamado eterno que para o céu 

te leva ou para o inferno. (Sai.)



Cena II

O mesmo. Entra lady Macbeth.


LADY MACBETH — O que os embebedou me deu 

coragem: fogo me deu o que os deixou extintos. 

Ouvi! Silêncio! É o pio da coruja, sentinela fatal 

que augura a mais sinistra noite. Vai dar o golpe; 

porta se acha aberta; o ressonar dos guardas 

embriagados zomba do ofício deles. Pus mistura 

na bebida de todos, de tal forma que a morte e a 

natureza neles lutam sobre se vão morrer ou ficar 

vivos.

MACBETH (dentro) — Quem está aí? Olá!

LADY MACBETH — Que pena! Temo, que 

acordassem e nada esteja feito. O que nos 

atrapalha é a tentativa, somente, não a ação. 

Ouvi! 

De jeito deixei os punhais deles; não podiam ficar 

despercebidos. Se não fosse parecer-se no sono 

com meu pai, eu própria o realizara. — Meu 

marido!

(Entra Macbeth.)

MACBETH — Realizei o ato. Ouviste algum 

barulho?

LADY MACBETH — O pio, apenas, da coruja, e o 

grito do grilo. Não falastes?

MACBETH — Quando?

LADY MACBETH — Agora.

MACBETH — Quando eu descia?

LADY MACBETH — Sim.

MACBETH — Escuta um pouco. Quem é que está 

naquele quarto ao lado?

LADY MACBETH — Donalbain.

MACBETH (Contemplando as mãos) — Oh, que 

vista lastimável!

LADY MACBETH — É um pensamento néscio 

dizer isso: “Que vista lastimável!”

MACBETH — Um, no sono, sorriu, e o outro 

gritou: “Ai! Assassínio!” E, com isso, acordaram. 

Escutando-os, me detive. Mas eles murmuraram 

orações, tão-somente, e dispuseram-se a dormir 

outra vez.

LADY MACBETH — No mesmo quarto se acham 

dois.


MACBETH — Um gritou: “Deus nos ampare!” E 

“Amém” disse o outro, como se tivessem percebido 

as mãos sujas do carrasco. Ao escutar-lhe o 

temor, não pude dizer “Amém”, quando eles 

murmuraram “Deus nos ampare”.

LADY MACBETH — Não será prudente pensar 

tanto sobre isso.

MACBETH — Por que causa não pude, então, 

dizer “Amém?” De bênção tinha necessidade mui 

premente; mas na garganta o “Amém” ficou 

pegado.

LADY MACBETH — Essas coisas não devem ser 

pensadas dessa maneira. É de deixar-nos loucos.

MACBETH — Uma voz pareceu-me ouvir, aos 

gritos de: “Não durmais! Macbeth matou o sono!” o 

meigo sono, o sono que desata a emaranhada teia 

dos cuidados, que é o sepulcro da vida cotidiana, 

banho das lides dolorosas, bálsamo dos corações 

feridos, a outra forma da grande natureza, o mais 

possante pábulo do banquete da existência.

LADY MACBETH — Que pretendeis dizer?

MACBETH — Por toda a casa continuava a gritar: 

“Basta de sono! Não durmais! Glamis destruiu o 

sono! Por isso Cawdor já dormir não pode, 

Macbeth dormir não pode!”

LADY MACBETH — Quem gritava por esse modo? 

Ora, meu digno thane, relaxais vossas nobres 

energias considerando as coisas por maneira tão 

doentia. Arranjai um pouco de água, para das 

mãos tirardes todas essas testemunhas 

manchadas. Por que causa trouxestes os punhais 

de onde se achavam? Precisam ficar lá. Tomai a 

pô-los em seus lugares e sujai de sangue os 

criados que ainda dormem.

MACBETH — Não; não volto. Tenho pavor só de 

pensar no feito; voltar a contemplá-lo me é 

impossível.

LADY MACBETH — Oh! que vontade fraca! Dai-me 

as armas. Os mortos e os que dormem são 

pinturas, nada mais. É somente o olho da criança 

que tem medo do diabo desenhado. Se estiver a 

sangrar, deixarei tintos com isso o rosto de seus 

próprios criados, pois é preciso que pareça que 

eles o crime cometeram.

(Sai. Pancadas dentro.)


MACBETH — Onde batem? Que se passa comigo, 

para um simples ruído apavorar-me? E aquelas 

mãos, ai! que os olhos me arrancam? Todo o 

oceano do potente Netuno poderia de tanto sangue 

a mão deixar-me limpa? Não; antes minha mão 

faria púrpura do mar universal, tornando rubro o 

que em si mesmo é verde.


(Volta lady Macbeth.)

LADY MACBETH — De vossa cor as mãos agora 

tenho; mas de possuir ficara envergonhada um 

coração tão branco. (Pancadas dentro.) Ouvi! 

Novas batidas. Ide logo vestir vosso roupão; se nos 

chamarem, 

não devemos mostrar que não dormimos. Não 

deveis entregar-vos a essas cismas tão 

miseravelmente.

MACBETH — Conhecer o que fiz... Melhor me fora 

se não me conhecesse. (Pancadas dentro.

Acordam Duncan batendo desse modo. Ah! se 

acordasses!

(Saem.)


Cena III

O mesmo. Pancadas dentro. Entra o porteiro.


PORTEIRO — Isso, sim, é que é bater! Quem fosse 

porteiro no inferno não faria outra coisa senão 

virar a chave. (Pancadas dentro.) Bate, bate, bate! 

Quem está aí, em nome de Belzebu? Eis que chega 

um lavrador que se enforcou, na expectativa de 

uma boa colheita. Chegais na hora. Trazei boa 

carga de lenços, por isso que tereis de suar aqui a 

valer. (Pancadas dentro.) Bate, bate, bate! Quem 

está aí, em nome do outro diabo? Por minha fé, é 

um sujeito de língua equívoca, que poderia jurar 

em qualquer um dos pratos da balança, contra o 

outro prato, que cometeu bastantes traições por 

amor de Deus, mas não pôde equivocar o céu. Oh! 

entrai, meu equivocador! (Pancadas dentro.) Bate, 

bate, bate! Quem está ai? Por minha fé, é um 

alfaiate inglês que vem para cá por ter roubado 

uns calções franceses. Entrai, senhor alfaiate! 

Aqui podereis aquecer à vontade vosso ferro de 

engomar. (Pancadas dentro.) Bate, bate! Não há 

sossego de jeito nenhum. Quem sois? Mas, para 

inferno, este lugar é muito frio. Não continuarei 

nele por mais tempo como porteiro do diabo. 

Tinha pensado em deixar entrar gente de todas as 

profissões, que vai para os fogos eternos pela 

estrada semeada de rosas. (Pancadas dentro.) Um 

momento! Um momento! Por obséquio, não vos 

esqueçais do porteiro. (Abre o portão.)

(Entram Macduff e Lennox.)

MACDUFF — Fostes, amigo, vos deitar tão tarde 

para demorar tanto a levantar-vos?

PORTEIRO — Em verdade, senhor, ficamos a 

beber até ao segundo canto do galo, e a bebida, 

senhor, é um grande provocador de três coisas.

MACDUFF — Quais são as três coisas que a 

bebida provoca especial mente?

PORTEIRO — Ora, senhor, nariz vermelho, sono e 

urinas. A lascívia, senhor, ela provoca e deixa sem 

efeito; provoca o desejo, mas impede a execução. 

Por isso pode-se dizer que a bebida usa de 

subterfúgios com a lascívia: ela a cria e a destrói; 

anima-a e desencoraja-a; fá-la ficar de pé e depois 

a obriga a não ficar de pé. Em resumo: leva-a a 

dormir com muita lábia e, lançando-lhe o 

desmentido, abandona-a a si mesma.

MACDUFF — Penso que a bebida te lançou o 

desmentido esta noite.

PORTEIRO — Foi isso mesmo, senhor, que ela fez 

comigo, pela garganta a dentro. Mas eu lhe dei o 

troco do desmentido; porque sendo, como penso 

ser, mais forte do que ela, embora por vezes ela 

me quisesse passar rasteira, acabei por jogá-la ao 

solo.

MACDUFF — Teu senhor já se levantou? (Entra 

Macbeth.) O barulho acordou-o. Ei-lo que chega.

LENNOX — Nobre senhor, bom dia.

MACBETH — Para todos também bom dia.

MACDUFF — O rei, mui digno thane, já terá 

acordado?

MACBETH — Não, ainda.

MACDUFF — Pediu-me que o chamasse bem 

cedinho. Por pouco perdi a hora.

MACBETH — Vou levar-vos até onde ele se 

encontra.

MACDUFF — Sei que alegre vos deixa esse 

trabalho. Porém sempre será trabalho.

MACBETH — O trabalho agradável é remédio da 

canseira. Eis a porta.

MACDUFF — A liberdade vou tomar de bater, pois 

a incumbência que recebi foi essa. (Sai.)

LENNOX — O rei parte hoje?

MACBETH — Parte; assim decidiu.

LENNOX — A noite toda foi desassossegada. Onde 

dormimos o vento derrubou a chaminé. Dizem que 

no ar se ouviram muitos prantos, gritos de morte 

estranhos, profecias, em terríveis acentos, de 

horrorosas devastações, confusos acidentes, 

ninhada destes tempos ominosos. Durante toda a 

noite a ave das trevas não deixou de piar. Dizem 

que a terra teve febre e tremeu.

MACBETH — Foi uma noite muito rude, em 

verdade.

LENNOX — Minha jovem memória não se lembra 

de outra igual.

(Volta Macduff.)

MACDUFF — Horror, horror, horror! Não pode a 

língua, não pode o coração nem conceber-te nem 

dar-te nome algum.

MACBETH e LENNOX — Que aconteceu?

MACDUFF — A destruição concluiu sua obra-

prima. Arrombou o sacrílego assassínio o templo 

ungido do Senhor, e a vida roubou do próprio 

altar.

MACBETH — Como dissestes? A vida?

LENNOX — Pretendeis dizer que é a vida de Sua 

Majestade?

MACDUFF — Ide até o quarto e a vista destruí 

ante outra Górgona. Quero ficar calado. Ide vós 

mesmos, para depois falardes. (Saem Macbeth e 

Lennox.) Despertai! Despertai! Traição e morte! 

Malcolm, Banquo, Donalbain, depressa, sacudi 

esse sono de penugem, simulacro da morte, e 

vinde a própria morte encarar. De pé! A imagem 

vede do grande julgamento. Malcolm! Banquo! 

Vinde como das tumbas, como espíritos, para ver 

este horror. Tocai o sino!

(Soa o sino.)

(Entra lady Macbeth.)

LADY MACBETH — Que aconteceu aqui, para 

que, tão medonha, uma trombeta desperte os 

moradores desta casa, para parlamentar? Falai! 

Falai!

MACDUFF — Ó gentil dama, não deveis ouvir-me 

no que tenho a dizer. Esse relato, repetido ao 

ouvido de uma dama, produziria a morte. (Entra 

Banquo.) Ó Banquo! Banquo! assassinado foi 

nosso 

real amo.

LADY MACBETH — Ai! como? Em nossa casa?

BANQUO — Oh! muito cruel, pouco importa onde 

fosse. Caro Duff, desmente-te a ti próprio, por 

obséquio, e dize que houve engano.

(Voltam Macbeth e Lennox.)

MACBETH — Se eu tivesse morrido uma hora, 

apenas, antes de isto se dar, teria tido uma vida 

abençoada. Doravante nada mais há de sério no 

universo. Tudo é farandolagem; a honra e a glória 

já não existem. Esgotado se acha o vinho da 

existência, só restando simples borra no fundo 

desta adega com que possa jactar-se.

(Entram Malcolm e Donalbain.)

DONALBAIN — Que foi que aconteceu?

MACBETH — Como! Estais vivos e não sabeis o 

que houve? A fonte, a origem, o princípio secou de 

vosso sangue, a própria origem já parou de todo.

MACDUFF — Vosso real pai se encontra 

assassinado.

MALCOLM — Oh! E por quem?

LENNOX — Ao que parece, foram seus próprios 

camareiros que o mataram. De sangue o rosto e as 

mãos tinham manchados, como os punhais que 

sem bainha achamos sobre seus travesseiros. De 

olhar fixo se achavam, como alheados. Não deviam 

ter-lhes confiado a vida de ninguém.

MACBETH — Agora me arrependo de os ter morto 

na minha indignação.

MACDUFF — Por que o fizestes?

MACBETH — Quem sábio pode ser e estupefacto, 

moderado e furioso, leal e neutro na mesma hora? 

Ninguém. A diligência do meu amor violento 

deixou longe a razão vagarosa. Neste ponto se 

achava Duncan, com sua cute branca acairelada 

pelo sangue de ouro; as feridas abertas pareciam 

brechas da natureza, adrede feitas para a entrada 

da ruína vastadora; além, os assassinos, 

embebidos da cor da profissão, monstruosamente 

recobertas de sangue as próprias armas... Quem 

poderia reprimir-se, tendo coração para amar e, 

nele, o brio de tornar conhecidos seus pendores?

LADY MACBETH — Oh! Tirai-me daqui!

MACDUFF — Vede a senhora.

MALCOLM — (à parte, a Donalbain) — Por que 

ficamos mudos, se este caso de perto nos atinge 

mais que a todos?

DONALBAIN (à parte, a Malcolm) — Por que falar 

aqui, onde o destino, a espiar de algum buraco, 

poderia lançar-se sobre nós? Fujamos; nossas 

lágrimas não estão bem preparadas.

MALCOLM (à parte, a Donalbain) — Nem nossa 

grande dor para a vingança.

BANQUO — Socorrei a senhora. (Lady Macbeth é 

levada para fora.) E após agasalharmos a 

fraqueza, muito sensível a este tempo frio, 

reunamo-nos a fim de interrogarmos esta obra 

enormemente sanguinária, para com mais vagar a 

conhecermos. A dúvida e o receio nos abalam. Na 

grande mão de Deus ora me encontro, disposto a 

combater as não sabidas intenções da malícia 

criminosa.

MACDUFF — Como eu.

TODOS — Como nós todos.

MACBETH — Com presteza viril nos aprontemos 

para em pouco nos reunirmos na sala.

TODOS — Bem pensado.

(Saem todos, com exceção de Malcolm e Donalbain.)

MALCOLM — Que pretendeis fazer? Não nos 

unamos com essa gente. É muito fácil para o 

homem fingido aparentar tristeza. Irei para a 

Inglaterra.

DONALBAIN — E eu para a Irlanda. Separados, 

assim, nossos destinos cuidarão de nós dois com 

maior zelo. Os sorrisos aqui punhais escondem. 

Quanto mais perto o sangue dos parentes, maior é 

a afinidade sanguinária.

MALCOLM — A mortífera flecha disparada ainda 

não caiu; nosso caminho mas seguro é evitar-lhe a 

trajetória. A cavalo, portanto, sem perdermos 

tempo com despedidas delicadas. Saiamos de 

mansinho. Condenável não pode ser o roubo da 

prudência, quando não há nem rasto de demência.

(Saem.)



Cena IV


O mesmo. Do lado de fora do castelo. Entram Ross 

um velho.

O VELHO — Posso lembrar-me bem de setenta 

anos; nesse espaço de tempo vi terríveis horas e 

coisas por demais estranhas; mas esta noite triste 

deixa longe tudo quanto até agora eu conhecia.

ROSS — Ó meu bom pai! O céu, como estás 

vendo, indignado com o jogo dos humanos, 

comina ameaças ao sanguíneo palco. Pelo relógio, 

é dia; no entretanto, atrasa a lâmpada ambulante 

a noite caliginosa. E tão potente a noite? É a 

vergonha do dia que permite que a treva cubra o 

rosto, assim, da terra, a que beijar devera a luz 

radiosa?

O VELHO — É contra a natureza, tal como o ato 

que aqui foi perpetrado. Na passada terça-feira 

um falcão que se gloriava no remígio habitual, 

preado e morto foi por uma coruja caça-ratos.

ROSS — E os cavalos de Duncan — fato estranho 

por demais, porém certo — tão velozes e formosos, 

ornatos de sua raça, tornaram-se selvagens, as 

cocheiras arrebentaram, contra as ordens todas, 

puseram-se a correr, como querendo guerrear a 

humanidade.

O VELHO — Dizem que eles se devoraram 

mutuamente.

ROSS — É certo; para perplexidade destes olhos, 

que tudo presenciaram. Aí vem vindo o bondoso 

Macduff. (Entra Macduff) Então, senhor, como vai 

indo o mundo?

MACDUFF — Então não vedes?

ROSS — Já se conhece o autor desse atentado 

mais do que sanguinário?

MACDUFF — Os camareiros apunhalados por 

Macbeth.

ROSS — Oh dia! E acaso a que vantagens 

aspiravam?

MACDUFF — Estavam subornados; os dois filhos 

do rei, Malcolm e Donalbain, fugiram, o que faz 

cair neles a suspeita.

ROSS — Sempre contrário à natureza! Ó fútil 

ambição que destróis as próprias fontes de tua 

vida! Assim, é bem possível que Macbeth suba ao 

trono.

MACDUFF — Proclamado já foi, tendo ido agora 

para Scone, a fim de ser coroado.

ROSS — E que fizeram do cadáver de Duncan?

MACDUFF — Foi levado para Kolmekill, sacra 

sepultura de seus antepassados e guarida de seus 

restos mortais.

ROSS — Ireis a Scone?

MACDUFF — Não, primo; vou a Fife.

ROSS — Pois eu vou.

MACDUFF — Que tenhais festa alegre e sem 

fadiga, não vindo a lastimar a roupa antiga.

ROSS — Adeus, pai.

O VELHO — Deus vos proteja e a quantos sabem 

arte de trazer o inimigo à boa parte.

(Saem.)



ATO III
Cena I

Forres. Um quarto no palácio. Entra Banquo.


BANQUO — Tens tudo agora: és rei, Cawdor e 

Glamis, como as bruxas proféticas disseram. Mas 

temo que roubado ao jogo houvésseis. Mas foi dito 

também que não havia de ficar isso em tua 

descendência e que viria a ser raiz e tronco de 

numerosos reis. Se falam certo, como se deu, 

Macbeth, a teu respeito, por que — se tudo quanto 

te auguraram se tornou realidade — não hão de 

elas ser-me o mesmo que oráculo, deixando-me 

também esperançado? Mas, silêncio!

(Fanfarra. Entram Macbeth, como rei; lady 

Macbeth, como rainha; Lennox, Ross, nobres, 

damas e pessoas do séqüito.)

— Eis nosso convidado principal.

LADY MACBETH — Se olvidado ele houvesse sido, 

fora como um vazio em nossa grande festa, vindo 

tudo a falhar.

MACBETH — Uma solene ceia, senhor, daremos 

esta noite, esperando que nela tomeis parte.

BANQUO — Bastará que mo ordene Vossa Alteza, 

a quem me liga minha obediência, para sempre, 

por laços inquebráveis.

MACBETH — Viajareis esta tarde?

BANQUO — Sim, milorde.

MACBETH — Se não, pedira vossos bons 

conselhos — que de peso são sempre e proveitosos 

— para a reunião que vamos ter agora. Nesse 

caso, amanhã vos ouviremos. Ides longe?

BANQUO — O suficiente, meu senhor, apenas 

para o tempo ocupar de agora à ceia. Se não se 

esforçar muito meu cavalo, à noite poderei pedir 

de empréstimo uma ou duas de suas horas foscas.

MACBETH — Vinde sem falta para nossa festa.

BANQUO — Não faltarei, milorde.

MACBETH — Notícia já tivemos de que nossos 

sanguinários parentes se passaram para a 

Inglaterra e Irlanda, e que ainda negam o 

parricídio cruel, enchendo as ouças de todos com 

estranhas fantasias. Mas sobre isso, amanhã, já 

que teremos de tratar de um negócio de 

importância relativo ao Estado. Levais Fleance?

BANQUO — Sim, meu senhor; o tempo nos 

reclama.

MACBETH — Desejo-vos cavalos de pés firmes e 

bem velozes, e ao costado deles vos recomendo. 

Adeus. (Sai Banquo.) Todos agora o tempo gastem 

como lhes parecer melhor, até às sete horas. 

Porque depois nos seja a sociedade muito mais 

agradável, até à ceia iremos ficar só. Até esse 

instante, que Deus seja convosco. (Saem todos, 

com exceção de Macbeth e um criado.) Olá, maroto, 

uma palavra! Aguardam nossas ordens aqueles 

indivíduos?

CRIADO — Sim, milorde, no portão do palácio.

MACBETH — Ide buscá-los. (Sai o criado.) Ser rei 

assim, é nada; é necessário sê-lo com segurança. 

É muito grande nosso medo de Banquo; em sua 

postura soberana domina qualquer coisa que deve 

ser temido. E corajoso como poucos e à têmpera 

indomável do espírito une uma sabedoria que faz 

valor no alvo acertar sempre. Tirante ele, não há 

pessoa alguma de quem eu tenha medo, e junto 

dele meu gênio se intimida, como dizem que com o 

de Marco Antônio acontecia, quando junto de 

César. Dirigiu-se corajoso às irmãs, interpelando-

as quando o nome de rei elas me deram, forçando-

as a falar-lhe a seu respeito, ao que elas, quais 

videntes, o saudaram como pai de uma série de 

monarcas. Na cabeça puseram-me a coroa sem 

frutos e nas mãos o cetro estéril, para que mo 

arrebate um punho estranho, pois para herdeiro 

nenhum filho tenho. Se for assim, para a 

posteridade de Banquo, tão-somente, sujei a alma; 

matei para eles o gracioso Duncan; por causa 

deles ódio pus no vaso da minha paz, havendo 

entregue a minha jóia eterna ao comum inimigo 

do homem, para fazê-los reis, para dos filhos de 

Banquo fazer reis! Antes que venha isso a se dar, 

que à liça baixe o fado, para o combate eterno. 

Quem vem lá? (Entra o criado, com dois 

assassinos.) Fica na porta e espera até que eu 

chame. (Sai o criado.) Não foi ontem que juntos 

conversamos?

PRIMEIRO ASSASSINO — Sim, com vossa licença, 

majestade.

MACBETH — Muito bem; refletistes no que eu 

disse? Sabeis, pois, que foi ele quem, até hoje, vos 

tem deixado em posição precária, o que pensáveis 

que era culpa minha. Tudo isso vos expus à farta 

em nossa última conferência; apresentei-vos as 

provas da maneira por que tendes sido 

prejudicados e burlados, os instrumentos, quem 

os manejava, e tudo o mais, que proclamar faria 

até mesmo meia alma ou tipo idiota: “Eis o que 

Banquo fez!”


PRIMEIRO ASSASSINO — Sim, explicastes-nos.


MACBETH — Sim; mas fiz mais ainda, o que é o 

objeto desta nossa segunda conferência. 

Porventura a paciência predomina tanto em vós, 

que deixeis passar tudo isso? Tão religiosos sois, 

que poderíeis rezar pela prosperidade deste bom 

homem e dos seus, sendo verdade que sua mão 

pesada à sepultura vos fez vergar e para todo o 

sempre vos arruinou a casa?

PRIMEIRO ASSASSINO — Somos homens, meu 

suserano.

MACBETH — Sim, passais por homens no 

catálogo, como os perdigueiros, os galgos e os 

mastins, alãos e gosos, molossos, braços, dogues e 

rafeiros também de cães, por junto, são 

chamados; mas distingue o registo o vagaroso, o 

veloz, o guardião, o de bom faro, cada um 

conforme as próprias qualidades que lhe haja 

dado a liberal natura e que um título à parte lhes 

granjeia na lista em que se encontram 

conglobados. Com os homens dá-se o mesmo. 

Assim, se tendes um lugar no registo, não sendo 

ele o mais mesquinho e vil da humanidade, falai, 

que então vos confiarei ao peito certo assunto, de 

cujo cumprimento resultará ficar vosso inimigo 

surpreso para sempre e vós mais presos à nossa 

gratidão e nosso afeto, pois também se ressente 

nosso estado da vida dele, e só se refará se vier a 

falecer.

SEGUNDO ASSASSINO — Meu suserano, sou um 

indivíduo que os maldosos golpes do mundo e 

seus embates irritado de tal modo deixaram, que 

faria não importa o que for para vexá-lo.

PRIMEIRO ASSASSINO — E eu sou outro tão 

lasso de desastres, tão amassado pelo vil destino, 

que a vida arriscaria em qualquer lance, para de 

vez perdê-la ou endireitá-la.

MACBETH — Sabeis que Banquo foi vosso inimigo.

SEGUNDO ASSASSINO — É certo, meu senhor.

MACBETH — E meu é ainda, em conflito a tal 

ponto sanguinário, que os minutos de toda a sua 

vida ferem de perto o coração da minha. É bem 

verdade que eu podia, às claras, varrê-lo para 

longe, reportando-me tão-só ao meu querer. Mas 

me contenho por causa de comuns amigos, cuja 

afeição não desejo ver perdida. Terei de lastimar, 

assim, a morte de quem eu derrubei. Esse o 

motivo de recorrer agora a vosso auxílio, pois me 

forçam razões de muito peso a evitar que se 

vulgue esse negócio.

SEGUNDO ASSASSINO — Senhor, faremos 

quanto nos mandardes.

PRIMEIRO ASSASSINO — Embora nossas vidas...

MACBETH — A coragem transparece de vós. 

Dentro de uma hora, no máximo, hei de vos 

mostrar o ponto em que deveis ficar e a par vos 

ponho da ocasião mais propícia para a coisa, do 

momento adequado, pois que tudo precisará ser 

feito ainda esta noite, a uma certa distância do 

palácio, sem que vos esqueçais de que preciso 

ficar sem mancha nisso. Juntamente com ele — 

para que o trabalho saia sem o menor senão — 

Fleance, seu filho, que com ele também saiu de 

viagem e cujo afastamento não me importa menos 

do que o do pai, compartir deve também dessa 

hora negra. Tomai vossas resoluções à parte; já 

vos sigo.

SEGUNDO ASSASSINO — Já resolvemos, meu 

senhor.

MACBETH — Em pouco vos chamarei; ficai dentro 

de casa. (Saem os assassinos.) Está feito. Se há 

ponto em que se acoite, Banquo, tua alma no céu, 

será esta noite. (Sai.)



Cena II

O mesmo. Outro quarto no palácio. Entram Lady 

Macbeth e um criado.


LADY MACBETH — Banquo deixou o pátio?

CRIADO — Deixou, senhora; mas retorna à noite.

LADY MACBETH — Vai, dize ao rei que eu quero 

ter com ele uma conversa rápida.

CRIADO — Isso mesmo, senhora, lhe direi. (Sai.)

LADY MACBETH — Tudo é perdido, quando o 

desejo fica repartido. Toca ao morto decerto 

melhor sorte que a de alegrar-se assim quem lhe 

deu morte. (Entra Macbeth.) Então, marido, por 

que só ficardes, tendo por companhia as fantasias 

mais desconsoladoras e ocupando-vos com 

pensamentos que já deveriam ter morrido com 

quem se relacionam? O que não tem remédio, não 

devera ser pensado sequer. O que está feito, não 

está por fazer.

MACBETH — Nós só talhamos a serpe, sem matá-

la. Em pouco tempo se refará e volta a ser o que 

era, ficando o nosso miserável ódio de novo 

exposto ao seu antigo dente. Que a estalar 

venham todas as junturas das coisas e a gemer 

ambos os mundos, antes de termos de tomar os 

nossos alimentos com medo e de dormirmos na 

aflição desses sonhos pavorosos que nos têm 

abalado as noites todas. Muito melhor nos fora 

estar com o morto que, para nossa própria paz, 

mandamos para o seio da paz, do que vivermos no 

banco de tormento de nossa alma, numa angústia 

sem fim. Duncan descansa no sepulcro; tranqüilo 

dorme, agora, depois das convulsões febris da 

vida. 

A traição lhe fez tudo o que podia; a perfídia 

doméstica, o veneno, o aço, a invasão de fora, 

nada pode, doravante, atingi-lo.

LADY MACBETH — Caro esposo, saiamos. 

Alisai esse olhar crespo; sede claro e jovial com 

todos hoje.

MACBETH — Sê-lo-ei, amor; o mesmo vos desejo. 

A Banquo dedicai todas as vossas atenções, 

distinguindo-o dentre todos com palavras e 

olhares. Pouco firme é nossa situação, enquanto 

for preciso lavar nossas honras nessa corrente 

aduladora e as feições empregarmos como 

máscara do coração, que os traços lhe disfarce.

LADY MACBETH — Precisais deixar isso.

MACBETH — Oh! tenho o espírito cheio de 

escorpiões, querida esposa! Sabeis que vivem 

Banquo e seu Fleance.

LADY MACBETH — Mas eterna não é neles a 

cópia da natureza.


MACBETH — É o que consola a gente; são 


vulneráveis. Fica, pois, alegre. Antes de completar 


o vôo em torno do convento o morcego e Hécate 



negra ter ordenado que o besouro córneo com seu 

zumbido surdo dê o toque sonolento da noite, será feito algo aqui de memória pavorosa.
LADY MACBETH — O que é que vai ser feito?
MACBETH — Não macules tua inocência com saberes isso, minha pombinha, até saudares o ato. Vem, noite cega, tapa os olhos ternos do dia compassivo, e com sangrentas mãos e invisíveis rasga o grande pacto que me deixa tão pálido! Escurece; para a mata sombria voa a gralha. Vacila o claro agente, de fraqueza; mas a noite se atira para a presa. Admiras-te; mas fica sossegada, que o mal reforça a ação mal começada. Por favor, acompanha-me.
(Saem.)



Cena III

O mesmo. Um parque com uma estrada que vai ter 

ao palácio. Entram três assassinos.

PRIMEIRO ASSASSINO — Quem te disse que 

viesses ter conosco?

SEGUNDO ASSASSINO — Não há razão de 

desconfiarmos, porque ele se acha a par de tudo 

quanto nos incumbiram, repetindo ponto por 

ponto as instruções.

PRIMEIRO ASSASSINO — Fica conosco. Ainda 

brilham no poente algumas riscas da luz solar. É a 

hora em que o viajante retardado esporeia a 

montaria para alcançar o desejado albergue, e de 

nós se aproxima o que esperamos.

TERCEIRO ASSASSINO — Silêncio! Ouço cavalos.

BANQUO (dentro) — Uma luz, Aí! Tragam-nos luz! 

Olá!

SEGUNDO ASSASSINO — É ele, não há dúvida. 

Os outros convidados já se encontram no pátio.

PRIMEIRO ASSASSINO — Seu cavalo fez um 

desvio.

TERCEIRO ASSASSINO — Quase de uma milha. 

Mas, como todos, ele comumente vai a pé deste 

ponto até o palácio. 


SEGUNDO ASSASSINO — Uma luz! Uma luz!

TERCEIRO ASSASSINO — É ele.

PRIMEIRO ASSASSINO — É agora

(Entram Banquo e Pleance, com uma tocha.)

BANQUO — Vai chover hoje à noite.

PRIMEIRO ASSASSINO — Então que caia. (Atiram-

se sobre Banquo.)

BANQUO — Oh! traição! Foge, foge, bom Fleance! 

Podes vingar-me. Foge! Que bandido! (Morre.)

TERCEIRO ASSASSINO — Quem apagou a luz?

PRIMEIRO ASSASSINO — Não era o certo?

TERCEIRO ASSASSINO — Um, somente, caiu, o 

filho foi-se.

SEGUNDO ASSASSINO — Metade, então, 

perdemos do trabalho.

PRIMEIRO ASSASSINO — Bem; mas vamos contar 

quanto foi feito.

(Saem.)



Cena IV

Um salão do palácio. Mesa posta para banquete. 

Entram Macbeth, lady Macbeth, Ross, Lennox, 

nobres e pessoas do séqüito.

MACBETH — Conheceis vossos postos; assentai-

vos. E de uma vez por todas: sois bem-vindos de 

todo coração.

NOBRES — Agradecemos a Vossa Majestade.

MACBETH — Desejamos misturar-nos em vossa 

companhia, na qualidade de hóspede modesto. 

Nossa hospedeira fica no seu posto; mas no 

momento certo lhe daremos as boas-vindas.

LADY MACBETH — Dai-a em meu nome, caro 

marido, a todos os amigos; pois diz-me o coração 

que são bem-vindos.

(O primeiro assassino aparece à porta.)

MACBETH — Vê, todos eles agradecimentos de 

coração te enviam. Os dois lados estão iguais; 

sentar-me-ei no centro. Ficai alegres; logo 

beberemos uma rodada. (Aproxima-se da porta.

Sangue tens no rosto.

ASSASSINO — Nesse caso, é de Banquo.

MACBETH — Antes por fora de ti que dentro dele. 

Liquidados?

ASSASSINO — A garganta, senhor, tem ele aberta. 

Fiz-lhe isso.

MACBETH — És o melhor dos cortadores de 

garganta. Porém será tão hábil quem tiver feito a 

Fleance a mesma coisa.

ASSASSINO — Meu muito real senhor, Fleance 

escapou.

MACBETH — Volta-me, então, o acesso. Não fora 

isso, e eu estaria bom, firme qual rocha, inteiro 

como o mármore, tão largo, tão vasto e universal 

como o ar ambiente. Mas agora estou preso, 

barricado, metido num curral, atado ao poste do 

medo das angústias insolentes. Mas Banquo está 

seguro?

ASSASSINO — Sim, milorde; no fundo de uma 

vala, tendo vinte feridas na cabeça, das quais uma 

qualquer já fora mais que suficiente.

MACBETH — Obrigado por isso. A velha serpe já 

se encontra vencida; o vermezinho que conseguiu 

fugir tem natureza para mais tarde produzir 

veneno, mas carece de dentes por enquanto. Vai-

te logo; amanhã conversaremos.

(Sai o assassino.)

LADY MACBETH — Meu real senhor, não animais 

os hóspedes. Fica estragada a festa, quando 

muitas e muitas vezes, enquanto ela dura, não 

afirmamos quanto nos é grata. Para comer, têm 

todos suas casas; o tempero melhor em casa 

alheia é sempre a cortesia, parecendo sem ela as 

reuniões lugar deserto.

MACBETH — Galante conselheira! Que à alegria 

da mesa a digestão venha associar-se. À saúde 

das duas!

LENNOX — Vossa Alteza não quererá sentar-se?

(Entra o fantasma de Banquo e se senta no lugar 

de Macbeth.)

MACBETH — Nosso teto abrigaria agora as honras 

todas da nação, se a pessoa primorosa de Banquo 

aqui estivesse, a quem desejo antes ter de ralhar 

por faltazinha que lastimar qualquer desastre 

grave.

ROSS — Sua ausência, senhor, manchou a 

promessa por ele feita. Queira Vossa Graça 

distinguir-nos com vossa real presença.

MACBETH — A mesa está completa.


LENNOX — Aqui, milorde, há um lugar reservado.

MACBETH — Onde?

LENNOX — Aqui mesmo, meu bom senhor. Que é 

que vos abala dessa maneira?

MACBETH — Qual de vós fez isso?

NOBRES — Fez quê, meu bom senhor?

MACBETH — Dizer não podes que fui eu que fiz 

isso. Não sacudas para mim teu cabelo 

ensangüentado.

ROSS — Levantai-vos, senhores; Sua Alteza está 

passando mal.

LADY MACBETH — Ficai, amigos; meu marido é 

assim mesmo desde criança. Sentai-vos, por 

obséquio; o acesso passa. Se atenção lhe 

prestardes, insistente, podereis ofendê-lo, 

contribuindo para agravar o mal. Comei, portanto, 

sem olhardes para ele. — Não sois homem?

MACBETH — Sim, corajoso, que se atreveria a 

encarar o que espanta o próprio diabo.

LADY MACBETH — Que matéria admirável! É o 

produto do medo, apenas; é o punhal aéreo que — 

dissestes — a Duncan vos levara. Esse olhar 

espantado, esses tremores que o verdadeiro medo 

parodiam, muito bem estariam numa história que 

uma mulher contasse ao pé do fogo com a 

aprovação da avó. Envergonhai-vos! Por que 

tantas caretas? Feita a conta, só olhais uma 

cadeira.

MACBETH — Vede ali, por favor! Olhai! Olhai! Que 

me dissestes? Ora, que me importa. Se sacudir 

consegues a cabeça, é que podes falar. Se as 

sepulturas e as carneiras os mortos nos reenviam 

que nelas enterramos, das entranhas dos abutres 

faremos nossos túmulos.

(O fantasma desaparece.)

LADY MACBETH — Quê! Desvirilizou-vos a 

loucura?

MACBETH — Tão certo como achar-me aqui, eu o 

vi.

LADY MACBETH — Fora, fora! Que opróbrio!

MACBETH — Derramado muito sangue já foi, nos 

velhos tempos, antes que a humana lei limpado 

houvesse o mundo dos pagãos, sim, e até mesmo 

depois têm sido perpetrados crimes terríveis de se 

ouvir. Já houve tempo em que, saltado o cérebro, 

morria de vez alguém e... tudo estava feito. Mas os 

mortos, agora, se levantam com vinte fatais golpes 

na cabeça e de nossas cadeiras nos empurram. E 

mais estranho do que o próprio crime.

LADY MACBETH — Vossos nobres amigos, caro 

esposo, já sentem vossa a ausência.

MACBETH — É que o esquecera... Caros amigos, 

não fiqueis pasmados. pois sofro há muito de uma 

doença estranha, que nada significa para quantos 

me conhecem de perto. Vinde; a todos, amizade e 

saúde. Vou sentar-me. Dai-me vinho. Bem cheio; 

beber quero à saúde e à alegria dos presentes e à 

do nosso querido amigo Banquo, que não está 

conosco. Oh! se estivesse! A todos! Ao ausente! 

Tudo a todos!

TODOS — Com lealdade homenagem vos 

prestamos.

(Volta ao fantasma.)

MACBETH — Fora, fora de minha vista! Esconda-

te a terra! Os ossos tens sem vida alguma; 

enregelado o sangue. Não tens vista nesses olhos 

que tanto resplandecem.

LADY MACBETH — Não vejais, nobres pares, em 

tudo isso senão algo habitual. Não é outra coisa. 

Apenas nos estraga a festa de hoje.

MACBETH — O que o homem ousa eu ouso. Tal 

qual híspido urso da Rússia vem para o meu lado, 

rinoceronte encouraçado, tigre da Hircânia. 

Assume qualquer forma, menos essa; nenhuma os 

nervos firmes conseguirá abalar-me. Ou torna à 

vida e, de espada na mão, me lança um repto para 

um lugar deserto. Acontecendo que a tremer eu 

me mostre, de menino me acoima ou rapariga. 

Pavorosa sombra, fora daqui! Caricatura fingida, 

fora! fora! (O fantasma desaparece.) Bem, agora 

que sumiste, me sinto outra vez homem. Por 

obséquio, sentai-vos.

LADY MACBETH — Expulsastes a alegria, 

estragastes o convívio com esse desarranjo mais 

que insólito.

MACBETH — Podem dar-se tais coisas e envolver-


nos como nuvem de Outono, sem que o espanto 


mais alto nos provoque? Assim, fazeis-me duvidar 


de mim próprio, quando vejo que encarais tais 


visões, sem que das faces se vos altere o natural 

rosado, enquanto eu fico pálido de medo.

ROSS — Que visões, meu senhor?

LADY MACBETH — Não, por obséquio, não lhe 

faleis. Está piorando muito. As perguntas o 

deixam mais furioso. Boa noite para todos. A saída 

não vos preocupe a ordem. Ide logo, sem outras 

cerimônias.

LENNOX — Boa noite; muitas melhoras para Sua 

Alteza.

LADY MACBETH — Uma noite tranqüila para 

todos (Saem os nobres e as pessoas do séqüito.)

MACBETH — Afirmam todos que isso chama 

sangue; o sangue chama sangue. As pedras 

podem mover-se, já foi visto, e falar a árvore. Os 

áugures e ocultas relações já conseguiram pela 

voz das gralhas, pegas e corvos descobrir os 

crimes de sangue mais ocultos. Em que ponto se 

encontra a noite?

LADY MACBETH — A competir com o dia, sem 

que se saiba qual vantagens tenha.

MACBETH — Que dizes de Macduff ter recusado 

nosso invite solene?

LADY MACBETH — Acaso enviastes-lhe, senhor, 

algum recado?

MACBETH — Casualmente soube disso; mas vou 

mandar-lhe um próprio. Não há ninguém em cuja 

casa eu deixe de ter algum espia. Amanhã mesmo, 

bem cedinho, vou ver as irmãs bruxas. Terão de 

falar mais alguma coisa, pois estou decidido a 

saber tudo pelos piores meios. Para minha 

salvação tudo tem de abrir caminho. A tal ponto 

atolado estou no sangue que, esteja onde estiver, 

tão imprudente será recuar como seguir à frente. 

Tenho em mente uma idéia pervertida, que urge 

concretizar numa investida.

LADY MACBETH — Careceis do que à vida é grato: 

sono.

MACBETH — Vamos dormir; minha ilusão 

selvagem é muito nova; falta-lhe coragem. Somos 

moços demais.

(Saem.)




Cena V

A charneca. Trovão. Entram as três bruxas, que 

encontram Hécate.

PRIMEIRA BRUXA — Hécate, que houve? Pareceis 

zangada.

HÉCATE — Causa não tenho, feiticeiras? Qual a 

razão, bisbilhoteiras, de ser Macbeth neste negócio 

de morte e enigmas vosso sócio, enquanto eu, 

dona de vós todas, que apresto sempre as negras 

bodas, não fui chamada a tomar parte no brilho e 

glória de nossa arte? E o que é pior: quanto 

fizestes a tudo vos mostrando prestes, foi para um 

tipo truculento de mui grosseiro acabamento. que 

não vos tem nenhuma estima e só de egoísmo em 

tudo prima. Mas emendai-vos; e defronte do fundo 

charco do Aqueronte amanhã cedo ide encontrar-

me, que ele em estado está de alarme, e para lá, 

quase sem tino, irá saber de seu destino. Vasos e 

encantos tende à mão; de tudo basta provisão. 

Para o ar me vou; na noite escura farei bem cedo 

uma ação dura. De uma grande obra a fantasia 

será completa enquanto é dia. Ora uma gota 

espessa e crua dos cornos pende ali da lua. Vou 

apanhá-la antes que caia, pois, destilada, de 

atalaia gênios porá de tanto alcance que, por sua 

força, ele se lance na destruição, à morte e ao fado 

a resistir qual renegado, pondo a esperança acima 

em tudo da própria graça e o medo agudo. Para os 

mortais a segurança é o imigo mor, que jamais 

cansa. (Canção dentro: “Vinde, vinde,” etc.

Chamam-me; é meu espírito travesso que me 

aguarda das nuvens num cabeço. (Sai.)

PRIMEIRA BRUXA — Apressemo-nos; ela volta 

logo.

(Saem.)



Cena VI

Forres. Um quarto no palácio. Entram Lennox e 

outro nobre.

LENNOX — Meu discurso anterior só mui de leve 

tocou em vossos pensamentos, sendo-vos agora 

facultado interpretá-lo como vos aprouver. Direi 

somente que tudo se passou por modo estranho. 


Por Macbeth foi chorado o meigo Duncan. Que 

pena! Estava morto. Muito tarde saiu de casa o 

nosso bravo Banquo, que, podereis dizer, se assim 

quiserdes, Fleance matou, pois Fleance fugiu logo. 

É perigoso passear de noite. A quem não ocorreu o 

pensamento de quão monstruoso foi haver 

Malcolm e Donalbain o pai assassinado? Que ação 

maldita! E como entristecido deixou Macbeth! Pois 

ele, na mesma hora, arrebatado de um furor 

piedoso, em pedaços não fez os dois facínoras, 

servos do sono e escravos da bebida? Não foi 

nobre tudo isso? E foi prudente. Pais qualquer 

coração se tornaria por demais irritado, quando os 

homens negar ouvisse o fato. Assim, vos digo, 

soube fazer a coisa, como penso que se ele vier a 

ter sob chave os filhos de Duncan — o que nunca, 

Deus louvado, chegará a conseguir — hão de ver 

ambos o que é matar o pai. E o mesmo, Fleance. 

Mas, silêncio! Por causa de palavras um tanto 

livres e por ter faltado à festa do tirano, soube há 

pouco que em desgraça Macduff agora vive. Caro 

senhor, dizer-me poderíeis em que lugar ele 

encontrou abrigo?

NOBRE — Na corte da Inglaterra vive o filho de 

Duncan, cuja herança verdadeira o tirano retém, e 

é recebido pelo piedoso Eduardo com tal graça que 

a má vontade da fortuna em nada do alto respeito 

merecido o priva. Para lá foi Macduff, a fim de ao 

santo rei suplicar auxílio, no sentido de estimular 

Northumberland e o bravo Siward, e assim, com a 

ajuda desses nobres — confirmando lá do alto 

Deus tudo isso — possamos restituir a nossas 

mesas os alimentos, sono a nossas noites, livrar 

nossos festejos e banquetes das facas 

sanguinárias, homenagens da lei prestar e receber 

as honras a que temos direito, coisas essas que 

nos faltam de todo. Essa notícia exasperou o rei de 

tal maneira que aprontando se está para uma 

guerra.

LENNOX — Mandou ele a Macduff algum recado?

NOBRE — Mandou; porém o mensageiro turvo 

com um resoluto “Eu não, senhor!” as costas 

voltou-me decidido, resmungando, como quem diz: 

“Haveis de arrepender-vos do tempo que me impõe 

essa resposta”.


LENNOX — Que isso o ensine a ser cauto, 

conservando-se a distância que possa aconselhá-

lo sua sabedoria. Se um santo anjo fosse à 

Inglaterra e desse o seu recado antes de ele 

chegar, para que pronta bênção se espalhe logo 

em nossa pátria que geme ao peso dessa mão 

maldita!

NOBRE — Mandaria com ele minhas preces.

(Saem.)


                                   ATO IV
Cena I

Uma caverna. No meio, um caldeirão a ferver. 

Trovão. Entram as três bruxas.

PRIMEIRA BRUXA — Gato malhado já miou três 

vezes.

SEGUNDA BRUXA — Três e mais uma já 

guinchou o ouriço.

TERCEIRA BRUXA — A harpia já gritou: “É hora! 

É hora!”

PRIMEIRA BRUXA — Atirai no caldeirão 

entranhas em podridão. Os sapos das pedras frias 

que durante trinta e um dias suaram seu bom 

bocado, jogai no pote encantado.

TODAS — Mais dores para a barrela. mais fogo 

para a panela.


SEGUNDA BRUXA — Lombo de cobra novinha 

atirai no pote asinha, pé de sapo e lagartixa, de 

cão a língua que espicha, pêlos brandos de 

morcego, asa de bufo-sossego, de lagarto a perna 

fina, acúleo de colubrina jogai na sopa do mal 

nesta mistura infernal.

TODAS — Mais dores para a barrela, mais fogo 

para a panela.

TERCEIRA BRUXA — Três escamas de dragão, 

com bucho de tubarão que os mareantes intimida; 

cicuta à noite colhida, bofes de um judeu 

malvado, ramo de teixo tirado em noite de muito 

escuro; beiço de tártaro, o duro nariz de turco, o 

dedinho de uma criança sem linho que matado a 

mãe houvesse sem dizer nenhuma prece. Deixai 

bem forte a mistura; juntai do tigre a fressura, 

porque nosso caldeirão tenha caldo em profusão.


TODAS — Mais dores para a barrela, mais fogo 

para a panela.

SEGUNDA BRUXA — Esfriai com sangue de mico 

que o encanto ficará rico.

(Entra Hécate.)

HÉCATE — Muito bem feito; seu quinhão todas 

por isto ainda terão. Agora como elfos e fadas 

cantai à volta, de mãos dadas, para que o encanto 

se complete.

(Música e a canção “Espíritos negros” etc.)

SEGUNDA BRUXA — Meu dedão está coçando. 

Vem algum patife andando. Ferrolhos, fora! 

Estamos na hora.

(Entra Macbeth)


MACBETH — Que fazeis, misteriosas e sombrias 

bruxas de meia-noite?

TODAS — Algo sem nome.

MACBETH — Conjuro-vos por vosso próprio ofício, 

seja qual for sua origem: respondei-me. Mesmo 

que os ventos a soltar viésseis, jogando-os contra 

as torres das igrejas; mesmo que as ondas 

escumantes venham a destruir os navios e a tragá-

los; ainda que o trigo verde caia todo e as árvores 

se vejam derrubadas; embora o cimo dos castelos 

caia na cabeça dos guardas, e as pirâmides e os 

palácios os picos altanados nivelem com suas 

bases; muito embora venha a desmoronar todo o 

tesouro dos germes da natura, de tal modo que a 

própria destruição se mostre farta: respondei às 

perguntas que vos faço.

PRIMEIRA BRUXA — Fala.

SEGUNDA BRUXA — Pergunta.

TERCEIRA BRUXA — Vamos responder-te.

PRIMEIRA BRUXA — Que preferes: ouvir de 

nossas bocas ou da de nossos mestres?

MACBETH — Invocai-os; desejo vê-los.

PRIMEIRA BRUXA — Sangue de porca, então, 

nesse fogo atira, que comesse seus nove filhos, 

gordura de uma corda bem segura, de que 

pendesse, enforcado, um suicida amaldiçoado.

TODAS — Mostra agora que és ousado.

(Trovão. Primeira aparição: uma cabeça, armada de 

capacete.)

MACBETH — Ouve-me, força ignota...

PRIMEIRA BRUXA — Não prossigas. Sabe o que 

pensas. Ouve e nada digas.

PRIMEIRA APARIÇÃO — Macbeth, Macbeth, 

Macbeth! Toma cuidado com Macduff, acautela-te 

com o thane de Fife! Desobriga-me; é o bastante.

(Desce.)

MACBETH — Quem quer que sejas, fico-te 

obrigado pela boa advertência. Isso concorda com 

meus receios. Mais uma palavra...

PRIMEIRA BRUXA — Não aceita injunções. Eis 

que vem outro ainda mais forte que ele.

(Trovões. Segunda aparição: uma criança 

ensangüentada.)

SEGUNDA APARIÇÃO — Macbeth, Macbeth, 

Macbeth!

MACBETH — Se três ouvidos tivesse, te ouviria.

SEGUNDA APARIÇÃO — Sanguinário sê sempre, 

ousado e resoluto, e aprende a rir do homem, 

porque ninguém nascido de mulher poderá, em 

nenhum tempo, fazer mal a Macbeth.

MACBETH — Então, Macduff, podes viver. Por que 

de ti recear-me? Contudo, quero a segurança em 

dobro segurar, e penhor obter do fado. Vivo não 

ficarás, para que eu possa dizer que mente o medo 

de alma pálida e, apesar dos trovões, dormir 

tranqüilo. (Trovão. Terceira aparição: uma criança 

coroada, com uma árvore na mão.) Quem é que 

surge como descendente de um soberano e na 

infantil cabeça traz o fecho e diadema do 

comando?

TODAS — Escuta só; não fales.

TERCEIRA APARIÇÃO — Veste a força do leão, sê 

orgulhoso e não te importes com quem quer que 

resmungue ou se rebele, ou contra ti conspire, 

pois vencido não há de ser Macbeth, enquanto o 

grande bosque de Birnam não subir contra ele ao 

alto Dunsinane. (Desce.)

MACBETH — Jamais isso poderá dar-se, pois 

quem tem poderes para a floresta armar e dizer à 

árvore que liberte a raiz fixa na terra? Ótimo 

indício! Belo! Não eleves, rebelião, a cabeça sem 

que o bosque de Birnam se levante, e assim o 

nosso grande Macbeth há de chegar ao termo da 

natureza até ao alento extremo, segundo o mortal 

uso. Mas agita-me o coração esta fatal pergunta: 

Dizei-me — se vossa arte chega a tanto — 

alcançarão um dia os descendentes de Banquo o 

trono e o cetro deste reino?

TODAS — Não queiras saber mais.

MACBETH — Não; é preciso satisfazer-me. Se não 

me fizerdes esta vontade, apenas, que uma eterna 

maldição vos destrua. Saber quero. Par que este 

caldeirão está afundando? E que barulho é esse?

PRIMEIRA BRUXA — Vê!

SEGUNDA BRUXA — Vê! 

TERCEIRA BRUXA — Vê!

TODAS — Mostrai-vos como visão, angustiai-lhe o 

coração, aparecendo qual sombra, para sumir pela 

alfombra.

(Aparece uma seqüência de oito reis, tendo o último 

um espelho na mão; segue-o o fantasma de 

Banquo.)

MACBETH — Pareces muito o espírito de Banquo. 

Desce! Tua coroa cauteriza-me os olhos; teus 

cabelos — tu, uma outra fronte de ouro cingida — 

se parecem com os do primeiro, tal como o terceiro 

que se lhe segue. Bruxas repugnantes, por que me 

mostrais isto? Outro! É o quarto! Olhos, estarrecei. 

Como! esta linha se estenderá até ao fim do 

mundo? Mais um, ainda? o sétimo? Não quero ver 

mais nada; porém eis que surge o último com um 

espelho na mão, que muitos outros, ainda, me 

revelam. Uns distingo com duplo globo e cetro 

triplicado. Pavorosa visão! Agora vejo que é 

verdade, pois Banquo, recoberto de sangue, me 

sorri e mos indica, como se filhos dele fossem 

todos. (As visões desaparecem.) Como! É assim!

PRIMEIRA BRUXA — É assim mesmo. Mas por 

que Macbeth treme do que vê? Manas, ele 

desvaria; infundamos-lhe alegria, revelando de 

nossa arte a mais sedutora parte. No ar porei 

muitos encantos. enchendo-o de sons e cantos, 

enquanto vós a rodada deixareis bem acabada, 

para que este rei potente conosco fique contente.

(Música. As bruxas dançam, desaparecendo 

depois, com Hécate.)


MACBETH — Onde estão? Já se foram? Que 

maldita se torne sempre esta hora perniciosa no 

calendário. — Entrai! Quem está aí?

(Entra Lennox.)

LENNOX — Que quer Vossa Grandeza?

MACBETH — Acaso vistes as irmãs feiticeiras?

LENNOX — Não, milorde.

MACBETH — Infectado seja o ar em que cavalgam 

e maldito quem quer que lhes dê crédito. Há 

pouco ouvi barulho de cavalo. Chegou alguém?

LENNOX — Sim; dois ou três correios, milorde, 

que a notícia vos trouxeram de que Macduff fugiu 

para a Inglaterra.

MACBETH — Para a Inglaterra!

LENNOX — Sim, senhor bondoso.

MACBETH — Ó tempo! antecipaste-te a meus atos 

assustadores! Nunca alcançaremos a intenção 

fugitiva, se com ela não fizemos seguir o ato 

expedito. Doravante ser-me-ão os primogênitos do 

coração também os primogênitos do braço. E 

agora mesmo, porque fiquem coroadas as ações 

com os pensamentos, em prática ponhamos essa 

idéia. Vou surpreender o burgo de Macduff, de Fife 

apoderar-me, sua esposa passar à espada, os 

filhos e, assim, todas as almas desgraçadas de sua 

raça. Ameaças não farei qual um demente; dobra-

se o ferro enquanto ele está quente. Basta de 

aparições. É os tais senhores, onde se encontram? 

Conduzi-me a eles.

(Saem.)



Cena II

Fife. Castelo de Macduff. Entram lady Macduff, seu 

filho e Ross.

LADY MACDUFF — Que fez, para exilar-se assim 

de súbito?

ROSS — Precisais ser paciente, nobre dama.

LADY MACDUFF — Ele o não foi. Loucura foi a 

fuga; quando não pelos atos, pelo medo nos 

mostramos traidores.

ROSS — Não sabemos se o medo há nisso parte 

ou só prudência.

LADY MACDUFF — Prudência? Abandonar a 

esposa e os filhos, a casa, as dignidades, numa 

parte de onde ele mesmo foge? Não nos ama; não 

possui coração. A carricinha — dos passarinhos o 

de menor porte — em defesa da prole no seu 

ninho briga com a coruja. O medo é tudo, nada o 

amor, e a prudência é coisa alguma numa fuga 

assim fora de propósito.

ROSS — Querida prima, sede moderada, por 

obséquio, pois vosso esposo é sábio, nobre, 

sensato e, mais do que nós todos, conhece as 

injunções do nosso tempo. Não me atrevo a falar 

mais claramente, mas cruel é o tempo em que 

traidores somos sem o sabermos, quando ouvimos 

boatos sobre o que receamos, sem sabermos o que 

nos faz ter medo, desgarrados vamos num mar 

violento e tempestuoso, sem direção alguma. Bem, 

despeço-me. Dentro de pouco aqui estarei 

de volta. 

As coisas, quando o ponto pior atingem, ou aí 

param, ou de novo sobem para onde antes 

estavam. Lindo primo, que Deus vos abençoe.

LADY MACDUFF — Ainda tem pai; no entanto, é 

como se já não tivesse.

ROSS — Revelo-me insensato; se mais tempo 

ficasse aqui, podia desgraçar-me, sobre prejudicar-

vos. Bem, despeço-me definitivamente.

(Sai.)

LADY MACDUFF — Olá, menino, vosso pai está 

morto. Que destino tereis agora? Como vivereis?

O FILHO — Como os pássaros, mãe.

LADY MACDUFF — Como! De vermes e de 

mosquitos?

O FILHO — Não; do que encontrar, foi o que eu 

quis dizer; como eles fazem.

LADY MACDUFF — Pobre bichinho! Nunca terás 

medo de laço, máquina e armadilha.

O FILHO — Medo por quê? Não foi tudo isso feito 

para os pássaros pobres. Ainda vive meu paizinho, 

apesar do que dissestes.

LADY MACDUFF — Não, morreu. Como vais fazer 

agora para arranjar um pai?

O FILHO — De que maneira fareis, também, para 

arranjar marido?

LADY MACDUFF — Ora, em qualquer mercado 

compro vinte.

O FILHO — Então os comprareis para vendê-los?

LADY MACDUFF — Falas com muito espírito e, de 

fato, bastante para a idade.

O FILHO — Mãe, meu pai foi um traidor?

LADY MACDUFF — Sim, é o que ele foi.

O FILHO — Que é um traidor?

LADY MACDUFF — Ora, é toda pessoa que jura e 

mente.

O FILHO — Todos os que fazem isso são traidores?

LADY MACDUFF — Quem quer que assim 

proceda, é traidor e merece ser enforcado.

O FILHO — E precisam ser enforcadas todas as 

pessoas que juram e mentem?

LADY MACDUFF — Todas.

O FILHO — E quem é que as enforca?

LADY MACDUFF — Ora, os homens de bem.

O FILHO — Então os mentirosos e os que juram 

não passarão de grande tolos, pois há mentirosos 

jurados bastantes para darem nos homens de 

bem e para os enforcarem.

LADY MACDUFF — Que Deus te ajude agora, 

macaquinho. Mas, como farás para arranjar outro 

pai?

O FILHO — Se ele tivesse morrido, haveríeis de 

chorar a morte dele. Se o não fizésseis, seria sinal 

certo de que eu logo iria ter novo pai.

LADY MACDUFF — Pobre tagarela, como sabes 

falar!

(Entra um mensageiro.)

MENSAGEIRO — Formosa dama, Deus vos 

abençoe. Não sabeis quem eu sou, conquanto eu 

saiba tudo o que se refere ao vosso estado. Temo 

que algum perigo esteja prestes a vos tocar. No 

caso de aceitardes o conselho de um homem tão 

singelo, não vos deixeis ser encontrada aqui. Fugi 

com vossos filhos. Estou certo de que, 

atemorizando-vos, procedo como selvagem; mas 

ser mais explícito fora crueldade bárbara, que 

muito perto de vós já se acha. O céu vos guarde. 

Não me atrevo a ficar aqui mais tempo. (Sai.)

LADY MACDUFF — Para onde hei de fugir? Nunca 

fiz mal. Mas agora me ocorre que me encontro 

neste mundo terreno, onde é louvável fazer o mal, 

às vezes, e, por vezes, o bem fazer é insânia 

perigosa. Par que valer-me, então, dessa defesa 

feminina, dizendo simplesmente que não fiz mal? 

(Entram assassinos.) Que caras serão essas?

ASSASSINO — Onde está vosso esposo?

LADY MACDUFF — Não há de estar, espero-o, em 

nenhum ponto tão profano que possa ser achado 

por tipos como tu.

ASSASSINO — É um traidor.

O FILHO — Mentes, peludo!

ASSASSINO — Como, espécie de Ovo? Filhinho da traição! (Apunhala-o.)
O FILHO — Ele matou-me, mãe. Fugi, sem demora. (Morre.)
(Lady Macduff sai gritando “Assassínio!” perseguida pelos assassinos.)



Cena III

Inglaterra. Diante do palácio do rei. Entram Malcolm e Macduff

MALCOLM — Busquemos uma sombra desolada 

para desafogar os tristes peitos, chorando seus 

pesares.

MACDUFF — Não! Saquemos da espada cortadora 

e, como bravos, amparar procuremos nossa pátria 

que ameaça desabar. Novas viúvas, cada manhã, 

ululam; novos órfãos soluçam; novas dores no céu 

batem, que ressoa tal como se sofresse 

juntamente 

com a Escócia e as mesmas sílabas emitisse de 

dor.

MALCOLM — Chorar só hei de sobre o que creio; 

creio o que conheço, e assim que o tempo se 

mostrar amigo, estando em mim fazer alguma 

coisa tornando-se-me o tempo favorável, farei o 

que puder. O que dissestes, talvez seja verdade. 

Esse tirano, cujo nome, tão-só, nos deixa a língua 

coberta de feridas, como honesto já foi 

considerado. Vós o amastes. Atingido por ele ainda 

não fostes. Sou moço; mas por mim talvez 

pudésseis torná-lo vosso devedor. A astúcia 

manda sacrificar um cordeirinho pobre, inocente e 

fraco, para a cólera propiciar de um deus.

MACDUFF — Não sou traidor.

MALCOLM — Mas traidor é Macbeth. Pode dobrar-

se uma leal natureza e em tudo boa ante uma 

imperial ordem. Mas preciso que me perdoeis; 

modificar não posso com o pensamento o que 

realmente sois. Os anjos ainda brilham, muito 

embora tenha caído o mais brilhante deles. Se as 

feições da virtude os vícios todos a assumir 

viessem, ela nem por isso deixaria de ter o mesmo 

aspecto.

MACDUFF — Já perdi a esperança.

MALCOLM — Porventura no mesmo ponto em que 

achar fui a dúvida. Par que razão deixastes, tão de 

súbito e sem vos despedir, a esposa e os filhos, 

esses caros penhores, elos fortes do verdadeiro 

amo? Nessas suspeitas não vejais, por obséquio, 

mancha alguma que vos possa atingir, mas tão-

somente minha tranqüilidade. Mui sincero 

podereis ser, pense eu o que pensar.

MACDUFF — Sangra, então, grande pátria. 

Poderosa tirania, reforça tua base, porque a 

virtude contra ti não se alça. Carrega o roubo, pois 

o teu direito já viste confirmado. Adeus, milorde; 

ser não quero o vilão que ora imaginas, nem por 

todas as terras que nas garras se encontram do 

tirano, acrescentadas das riquezas do Oriente.

MALCOLM — Ofensa alguma desejara fazer-vos. 

Não por medo absoluto de vós assim me exprimo 

penso que nossa pátria sob o jugo sucumbe do 

tirano; chora e sangra, vendo aumentar-lhe cada 

dia as chagas uma ferida nova. Sei que muitas 

mãos se levantariam na defesa de meus direitos, e 

aqui mesmo acaba de ofertar-me a Inglaterra 

generosa alguns milhares delas. Mas, ao cabo, 

depois de haver pisado na cabeça do tirano, ou de 

tê-la em minha espada, ficará minha pátria 

desditosa com mais vícios do que antes, 

padecendo muito mais, por maneiras mais 

variadas do que nunca, debaixo do domínio de 

quem lhe suceder.

MACDUFF — Quem será esse?

MALCOLM — Eu mesmo, é claro, em quem 

percebo vícios enxertados tão bem que, se algum 

dia a pegar vierem, até mesmo o negro Macbeth 

parecerá nitente neve, considerando-o nossa pobre 

pátria como um cordeiro, quando comparado com 

minha enormidade de defeitos.

MACDUFF — Nem mesmo nas legiões do hórrido 

inferno poder-se-ia encontrar um mais completo 

demônio que a Macbeth no mal se iguale.

MALCOLM — Concedo que ele seja sanguinário, 

lúbrico, falso, enganador, avaro, violento, 

malicioso e com os sentidos sempre vivos a todos 

os pecados que possam ser nomeados; porém 

fundo não tem, não pode ter, minha lascívia. 

Vossas esposas, vossas filhas, vossas matronas, 

vossas virgens jamais hão de deixar plena a 

cisterna de meus vícios, vindo a vencer minha 

avidez os óbices que ao meu desejo, acaso, se 

opuserem. Antes Macbeth que um rei com tais 

defeitos.


MACDUFF — A licenciosidade é tirania da própria 

natureza, que bastantes tronos felizes já deixou 

vazios antes do tempo e ocasionou a queda de 

muitos reis. Mas não tenhais receio de vos 

apoderar do que já é vosso. Podereis expansão dar 

aos prazeres em toda plenitude, parecendo, no 

entanto, frio e, assim, burlando o mundo. 

Damas condescendentes não nos faltam. Não é 

possível que abrigueis abutre no íntimo, que 

devore quantas forem entregar-se à grandeza que 

pendida para elas perceberem.


MALCOLM — Além disso, de minha natureza mal 

formada nasce avareza tão descomedida que, 

vindo eu a reinar, darei a morte a muitos nobres, 

para despojá-los de suas propriedades; os 

tesouros deste cobiçarei; deste outro, a casa. Todo 

aumento de bens ser-me-á tempero para excitar-

me a fome, de tal modo que farei suscitar brigas 

injustas entre os melhores e mais leais vassalos, 

para destruí-los e ficar com tudo. 

MACDUFF — A avareza penetra mais, emite raízes 

mais nocivas que a luxúria transitória do estio; foi 

o gládio que matou nossos reis. Mas pouco 

importa: nada temais; a Escócia tem recursos 

para saciar-vos só com o que for vosso. Tudo isso 

é suportável, que as virtudes contrabalançam tudo.

MALCOLM — Mas é o que eu não possuo! As 

qualidades próprias de um rei: justiça, 

temperança, perseverança, devoção, piedade, 

coragem, destemor, magnificiência me são de todo 

estranhas, e eu me alegro com dividir os vícios em 

diversas variedades, a fim de praticá-los de todas 

as maneiras. Se estivesse em meu poder, atiraria 

logo no inferno o doce leite da concórdia, a paz 

universal deixara esfeita e confundira toda 

segurança que no mundo existisse.

MACDUFF — Oh Escócia! Escócia!

MALCOLM — Se é digno de reinar um homem 

desses, falai, pois sou tudo isso que vos disse.

MACDUFF — Se é digno de reinar? Nem de viver. 

Ó povo miserável, governado por um monstro 

ilegítimo, de cetro cheio de sangue! Quando 

novamente poderás ver teus dias de saúde, se o 

herdeiro mais autêntico do trono, maldito se 

declara, blasfemando contra sua própria raça? 

Teu virtuoso pai foi um santo rei; a soberana que 

à luz te deu, vivendo mais de joelhos do que de pé, 

matava os dias todos de sua própria vida. Meus; 

os males que em tua própria cabeça despejaste me 

baniram da Escócia. Ó coração! tua esperança 

acaba neste ponto!


MALCOLM — Macduff, essa emoção em tudo 

nobre, nascida da pureza, a negra dúvida me tirou 

da alma e, alfim, meus pensamentos reconciliou 

com tua fé sem jaça e tua probidade. O demoníaco 

Macbeth tem procurando por enredos desse 

gênero pôr-me ao seu alcance, ensinando-me, 

assim, a mais modesta sabedoria a desconfiar da 

pressa crédula por demais. Mas que lá do alto juiz 

Deus seja entre nós dois agora, pois desde este 

momento sob a tua direção me coloco. Aqui renego 

minha auto detração e abjuro todos os vícios e 

defeitos que em mim próprio lançara há pouco, 

como incompatíveis com minha natureza. Nunca 

tive contacto com mulher, não fui perjuro mal 

cobicei aquilo que é meu mesmo, jamais quebrei 

qualquer promessa feita, demônio algum traí para 

seus próprios companheiros do inferno. Como à 

vida, tenho amor à verdade. Minha estréia na 

mentira foi esta a meu respeito. O que eu 

realmente sou se encontra à tua disposição e do 

meu pobre povo. Para auxiliá-lo aqui se achava há 

pouco, no instante de chegares, o ancião Siward 

com dez mil aguerridos combatentes, no ponto de 

partirem. Vamos juntos; que o favor da vitória 

corresponda à justiça de nossa discordância. Por 

que ficais calado? 


MACDUFF — É mui difícil reconciliar eventos a um 

só tempo não gratos e agradáveis.


(Entra um médico.)

MALCOLM — Bem; voltaremos a falar sobre isso. 

Dizei-me, por obséquio: o rei vem vindo?

O MÉDICO — Sim, senhor; numerosos 

desgraçados o auxílio dele aguardam, pois a 

doença de que padecem tem zombado da arte. 

Mas sua mão — tal é a santidade com que o céu a 

dotou — vai sãos deixá-los no instante de os tocar.

MALCOLM — Agradecido, doutor, vos fico.

(Sai o médico.)

MADCUFF — De que doença fala?

MALCOLM — Chamam-lhe o mal. Miraculoso feito 

realiza este bom rei, já presenciado várias vezes 

por mim, desde que me acho no reino da 

Inglaterra. De que modo consegue o céu mover, só 

ele sabe. Mas pessoas tocadas de moléstias 

estranhas, cheias de úlceras, tristíssimo 

espetáculo a todos, desespero da medicina, sãs ele 

tem posto com lhes pôr ao pescoço uma áurea 

estampa, ao tempo em que murmura santas 

preces. Dizem também que aos reis seus 

sucessores transmitirá esse poder bendito de 

curas realizar. Mas além dessa virtude estranha, o 

dom possui celeste da profecia, sobre lhe cercarem 

o trono várias bênçãos que o declaram cheio de 

graças.


MACDUFF — Olhai quem vem chegando!

MALCOLM — Um dos meus compatriotas; mas 

ainda não o conheço.

(Entra Ross.)

MACDUFF — Sede aqui bem-vindo, meu sempre 

gentil primo.

MALCOLM — Reconheço-o agora. Ó Deus 

bondoso, afasta em tempo tudo quanto 

estrangeiros nos tem feito.

ROSS — Amém, senhor.

MACDUFF — A Escócia continua no mesmo lugar 

de antes?


ROSS — Pobre pátria, revela medo até de 

conhecer-se. De nossa mãe não pode ser 

chamada, mas nossa sepultura, porque nela só ri 

ainda quem ignora tudo; os gritos e suspiros, os 

gemidos que os ares dilaceram, emitidos apenas 

são, sem serem percebidos. As mais violentas 

dores assemelham-se a emoção cotidiana; os 

dobres fúnebres passam despercebidos e as 

pessoas de bem fenecem antes de murcharem as 

flores do chapéu e a vida perdem sem virem a 

adoecer.


MACDUFF — Oh! relação muito precisa e, no 

entretanto certa!


MALCOLM — Qual é a última dor?


ROSS — A que de vida tem uma hora faria ser 

vaiado quem viesse relatá-la; a cada instante 

nasce uma nova dor.

MACDUFF — E minha esposa, como ficou?

ROSS — Ora, essa ficou bem.

MACDUFF — E meus filhos?

ROSS — Também.

MACDUFF — A paz de todos não havia o tirano 

ainda assaltado?

ROSS — Não; deixei-os em paz ao despedir-me.

MACDUFF — Sede menos avaro de palavras. Que 

aconteceu?

ROSS — No instante em que eu trazia para aqui 

essas novas que tão fundo pesavam sobre mim, 

soube do boato de que bastantes homens 

valorosos se tinham posto em campo, o de que 

logo me convenci ao ver os contingentes do tirano 

aprestados para a luta. Eis o momento de 

intervirmos. Vossos olhares, lá na Escócia, 

aprestariam soldados, levariam para a luta nossas 

mulheres, para porem termo à desgraça indizível.

MALCOLM — Sirva a todos de consolo saber que 

já me encontro a caminho da Escócia. Dez mil 

homens cedeu-nos a Inglaterra, comandados pelo 

bondoso Siward. Mais completo guerreiro e mais 

idoso não se encontra em toda a Cristandade.

ROSS — Ah! se eu pudesse dar-vos notícia tão 

reconfortante! Mas trouxe-vos palavras para serem 

uivadas no ar deserto, onde não possam ser 

percebidas por nenhum ouvido.


MACDUFF — A que dizem respeito? À causa 

pública? Ou trata-se, talvez, de sofrimento 

particular, que a um peito, apenas, toca?

ROSS — Todas as almas nobres têm sua parte; 

mas a maior, decerto, vos pertence.

MACDUFF — Se me pertence, não me priveis dela. 

Vamos; dai-ma depressa.

ROSS — Que não fiquem vossos ouvidos para 

sempre odiando minha língua, por ter de molestá-

los com os sons mais tristes que jamais ouviram.

MACDUFF — Hum! Presumo o que seja.

ROSS — Vosso burgo foi assaltado; vossa esposa e 

os filhos, mortos selvagemente. Relatar-vos como 

se deu, o mesmo fora ao monte de caças abatidas 

vosso corpo sem vida acrescentar.

MALCOLM — Oh céu piedoso! Não, homem! 

Levantai vosso chapéu! Dai palavras à dor. 

Quando a tristeza perde a fala, sibila ao coração, 

provocando de pronto uma explosão.

MACDUFF — Meus filhinhos também?

ROSS — Esposa, filhos, criados, tudo o que 

acharam.

MACDUFF — E eu, ausente! Também minha 

mulher?

ROSS — Já vo-lo disse.

MALCOLM — Coragem! Aprestemos o remédio 

para essa dor mortal com prepararmos nossa 

vingança.

MACDUFF — Ah! Ele não tem filhos! Todos os 

meus pequenos tão graciosos? Dissestes “todos?” 

Oh infernal abutre! Como! Todos? Os lindos 

pequerruchos juntamente com a mãe, num só 

mergulho?

MALCOLM — Como homem, resisti.

MACDUFF — É o que farei; mas preciso também 

sentir como homem. Não consigo esquecer que 

hajam vivido essas pessoas que tão caras me 

eram. 

O céu viu isso, sem que os amparasse? Depravado 


Macduff Por tua causa assassinados todos eles 


foram; por mim, que nada valho. Não por culpas 

próprias, mas pelas minhas, tão-somente, caiu a 

morte sobre as almas deles. Que o céu lhes dê 

sossego.

MALCOLM — Que seja isso a pedra de amolar de 

vossa espada. Fazei que a dor se vos transforme 

em cólera; não emboteis o peito: enraivecei-o.

MACDUFF — Como mulher, agora, poderia 

representar com os olhos e mostrar-me valente só 

com a língua. Ó céu bondoso! põe termo às 

dilações e, face a face com o demônio da Escócia 

me coloca, ficando ele ao alcance de meu gládio: 

vindo a escapar, que lhe perdoe o céu.

MALCOLM — Viril é essa cantiga. Vamos, vamos 

procurar logo o rei. Prestes se encontram nossas 

forças; só falta despedirmo-nos. Macbeth está 

maduro para a queda, já tendo prestes os poderes 

do alto os instrumentos que hão de sacudi-lo. 

Criai coragem; não há noite fria, por mais longa 

que seja, sem seu dia.

(Saem.)



ATO V
Cena I

Dunsinane. Um quarto no castelo. Entram um 

médico e uma camareira.

O MÉDICO — Estive de vigília convosco durante 

duas noites consecutivas, mas não posso 

descobrir indício de verdade em tudo o que 

dissestes. Quando foi que ela andou como 

sonâmbula pela última vez?

A CAMAREIRA — Desde que Sua Majestade foi 

para a campanha eu a tenho visto levantar-se da 

cama, atirar sobre si o roupão de dormir, abrir a 

escrivaninha, tira uma folha de papel, dobrá-la, 

escrever alguma coisa, ler o que escreveu, selar 

depois a folha e voltar em seguida para a cama, 

fazendo tudo isso, no entanto, no mais profundo 

sono.

O MÉDICO — É indício de uma grande 

perturbação da natureza receber os benefícios do 

sono e executar, simultaneamente, os atos de 

vigília. Nessa inquietação do sono, além desses 

passeios e de ocupações concretas, não 

percebestes se, por vezes, ela dizia alguma coisa?

A CAMAREIRA — Ouvi coisas, senhor, que não me 

atrevo a repetir.

O MÉDICO — A mim podereis dizer o que 

ouvistes, sendo mesmo de vantagem que o façais.


A CAMAREIRA — Nem a vós nem a ninguém, uma 

vez que não tenha testemunha para confirmar o 

que disser. (Entra Lady Macbeth, com uma vela.

Vede! Aí vem ela! É assim mesmo que sempre faz, 

e, por minha vida, a dormir profundamente. 

Observai-a; aproximai-vos dela um pouco.

O MÉDICO — Como conseguiu essa luz?

A CAMAREIRA — Ora, estava perto dela. Tem 

sempre luz ao pé de si; são ordens expressas.

O MÉDICO — Como vedes, está com os olhos bem 

abertos.

A CAMAREIRA — É certo; mas os sentidos estão 

fechados.

O MÉDICO — Que faz ela agora? Vede como 

esfrega as mãos.

A CAMAREIRA — É um gesto habitual nela, fazer 

como quem lava as mãos. Já a vi continuar desse 

jeito durante um quarto de hora.

LADY MACBETH — Aqui ainda há uma mancha.

O MÉDICO — Atenção! Está falando. Vou tomar 

nota do que ela disser, para reforçar a memória.

LADY MACBETH — Sai, mancha amaldiçoada! 

Sai! Estou mandando. Um dois... Sim, já é tempo 

de fazê-lo. O inferno é sombrio... Ora, marido! Ora! 

Um soldado ter modo? Por que termos medo de 

que alguém o venha a saber, se ninguém poderá 

pedir contas a nosso poder? Mas quem poderia 

imaginar que o velho tivesse tanto sangue no 

corpo?

O MÉDICO — Ouvistes o que ela disse?

LADY MACBETH — O thane de Fife tinha uma 

mulher. Onde se encontra ela agora? Como! Estas 

mãos nunca ficarão limpas? Basta, senhor; não 

falemos mais nisso. Estragais tudo com essa 

vacilação.

O MÉDICO — Ide, ide! Ficastes sabendo mais do 

que seria conveniente.

A CAMAREIRA — Ela falou o que não devia, tenho 

certeza. Só Deus sabe o que ela sabe.

LADY MACBETH — Aqui ainda há odor de sangue. 

Todo o perfume da Arábia não conseguiria deixar 

cheirosa esta mãozinha. Oh! Oh! Oh!

O MÉDICO — Que suspiro! Tem o coração por 

demais opresso.

A CAMAREIRA — Eu não quisera ter no peito um 

coração assim, nem pelas dignidades de todo o 

corpo.

O MÉDICO — Bem, bem, bem.

A CAMAREIRA — Rogai a Deus, senhor, para que 

seja assim.


O MÉDICO — Esta doença ultrapassa minha arte. 

No entanto, conheci sonâmbulos que morreram 

santamente em suas camas.

LADY MACBETH — Ide lavar as mãos; vesti vosso 

roupão de dormir. Não fiqueis assim tão pálido. 

Torno a dizer-vos que Banquo está enterrado; não 

poderá sair da sepultura.

O MÉDICO — Também isso?

LADY MACBETH — Para o leito! Para o leito! Estão 
batendo no por tão. Vinde, vinde! Dai-me a mão. O que está feito não está por fazer. Para o leito, para o leito, para o leito! (Sai.)
O MÉDICO — E agora, ela vai para o leito?
A CAMAREIRA — Diretamente.
O MÉDICO — Circulam por aí terríveis boatos. feitos contra a natura sempre engendram conseqüências doentias. As consciências manchadas descarregam seus segredos nos surdos travesseiros. Mais de padre tem ela precisão do que de médico. Deus, Deus que nos perdoe! Acompanhai-a. Deixai bem longe dela quanto possa causar-lhe qualquer dano. E ora, boa noite. Ela deixou-me o espírito confuso e a vista absorta com tamanho abuso. Penso, mas não me atrevo a dizer nada.
A CAMAREIRA — Boa noite, bom doutor.
(Saem.)



Cena II



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Espero sinceramente ser útil a você.

Muita Luz e Paz!

Professora Simone Calixto