segunda-feira, 6 de junho de 2011

2º MB FRENTE 2 MÓDULO 2

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:

Realismo/Naturalismo
AUTORES REALISTAS
RAUL POMPÉIA (1863-1895)
Vida
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Caricatura de Raul Pompéia.
Nasceu em Angra do Reis, filho de uma família de grandes proprietários. Teve uma infância bastante reclusa, devido ao isolamento social de seus pais. No começo da década de 1870, os Pompéia se mudaram para a Corte e o menino vai estudar no mais famoso e caro colégio da época, o Colégio Abílio, onde permaneceu por cinco anos e do qual se vingaria dez anos depois. Concluiu seus estudos no Colégio D. Pedro II e, mais tarde, bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Abolicionista e republicano exaltado, é uma espécie de intelectual de esquerda da época. Ocupou vários cargos públicos, inclusive a direção da Biblioteca Nacional. Seu temperamento exaltado despertou ódios e inimizades. Chegou a marcar um duelo com Olavo Bilac, que acabou não se realizando. Esta sensibilidade doentia e não resolvida impeliu-o ao suicídio, num dia de Natal. Contava então trinta e dois anos de idade.
Obra Principal: O Ateneu (1888)
Ainda que tenha escrito poemas (Canções sem metro), uma novela (Uma tragédia no Amazonas), e deixado obras inéditas, Raul Pompéia permanece como autor de um romance essencial de nossa literatura: O Ateneu, que traz um enganoso subtítulo: Crônica de saudades.

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Desenho de Pompéia mostrando Ema, a esposa de Aristarco. Assim como no romance, ela aqui aparece com traços difusamente sensuais.
Fortemente pessoal, - mas não a ponto de ser considerado uma autobiografia - o texto parte das experiências do autor num sistema de internato.. Marcado de forma intensa por estes anos, que são para ele de sofrimento e solidão, trata de recriá-los artisticamente, valendo-se para isso de um personagem chamado Sérgio.
Projeção do escritor, Sérgio evoca - em primeira pessoa - o início de sua adolescência passada no internato. A narrativa é construída a partir da perspectiva de Sérgio já amadurecido. E o leitor tem a visão de um sujeito adulto que lembra os acontecimentos. Não a visão que o menino teria ao ingressar no internato. Assim, o romance é a memória adulta de uma experiência juvenil. Atente-se para o primeiro parágrafo do texto:
Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. 'Coragem para a luta.' Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico.
Vê-se aí que o narrador, no presente (a idade madura), analisa os dados do passado. Suas lembranças confundem-se com os julgamentos que emitirá sobre a vida no educandário. Não há, pois, uma única história encadeada, um enredo propriamente dito, e sim um acúmulo de fatos, percepções, situações e impressões, que servem para indicar a psicologia e a estrutura social do mundo do internato. O próprio tempo objetivo da ação dissolve-se na densa subjetividade do narrador.
A inexistência de uma intriga, à maneira romântica ou realista, favorece os desígnios de Raul Pompéia - ele não quer contar a vida no Ateneu, ele quer desmascará-la e interpretá-la. Os episódios servem como desvelamentos sucessivos da corrupção e da miséria moral que imperam no colégio. O texto denota sempre uma atmosfera de crise. Sobretudo, a crise das ilusões de Sérgio:
Onde metera a máquina dos meus ideais naquele mundo de brutalidade que me intimidava com os obscuros detalhes e as perspectivas informes, escapando à investigação de minha inexperiência?

REALISMO/NATURALISMO


A Corrupção
Sensível ao extremo, Sérgio percebe a queda das aparências: "Cada rosto amável daquela infância era a máscara de uma falsidade, o prospecto de uma traição." "Solitário e solidário" - conforme análise do crítico Astrogildo Pereira -, procura ligações autênticas com os colegas. Mas o que encontra é a brutalidade, a vontade de poder, a exploração e o homossexualismo. Todas as camaradagens são efêmeras e dissimuladas:
Um cáfila! (dizia Rebelo) Não imagina, meu caro Sérgio. Conte como uma desgraça ter de viver com esta gente, (...) Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade... Uns perversos. Têm mais pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada de pele. Fiem-se neles. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos... Sócios de bandalheiras! Cheiram à corrupção, empestam de longe.
Há no colégio uma explícita divisão entre fortes e fracos. O relacionamento entre os colegas reduplica os valores do universo social: opressores e oprimidos. A saída dos frágeis é adquirir a "proteção" de um dos rapazes mais fortes, porém o preço é alto:
Isto é uma multidão; é preciso força de cotovelos para romper. (...) Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. (...) Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores.
Dificilmente alguém se isenta do homossexualismo sutil que assalta as salas de aulas, os corredores e os dormitórios do Ateneu. Exceção feita a Rebelo, todas as amizades de Sérgio são ambíguas. Ele próprio - por medo - parece dispor-se a certo tipo de relacionamento:
Depois que sacudi fora a tranca dos ideais ingênuos, sentia-me vazio de ânimo; nunca percebi tanto a espiritualidade imponderável da alma: o vácuo habitava-me dentro. Premia-me a força das coisas; senti-me acovardado. Perdeu-se a lição viril de Rebelo; prescindir de protetores. Eu desejei um protetor, alguém que me valesse, naquele meio hostil e desconhecido, e um valimento direto mais forte do que palavras. (...) Pouco a pouco me ia invadindo a efeminação mórbida das escolas. (...) E, como se a alma das crianças, à maneira do físico, esperasse realmente pelos dias para caracterizar em definitivo a conformação sexual do indivíduo, sentia-me possuído de certa necessidade preguiçosa de amparo, volúpia de fraqueza...
Os vínculos de Sérgio com Sanches e Bento Alves estão assinalados por esta terrível atração que, às vezes, os dominados têm pelos dominadores. O quadro onde se desenha a figura de Bento Alves é bem nítido: o seu poder sedutor reside na força física:

Consideravam-no principalmente pela nomeada de hercúleo. Os fortes constituem uma fidalguia de privilégios no internato. (...)
Estimei-o femininamente, porque era grande, forte, bravo; porque me podia valer; porque me respeitava, quase tímido, como se não tivesse ânimo de ser amigo. Para me fitar espera que eu tirasse dele os meus olhos. (...) Aquela timidez, em vez de alertar, enternecia-me...
Veja-se também a dúbia afeição do narrador por Egbert:
Vizinhos ao dormitório, eu, deitado, esperava que ele dormisse para vê-lo dormir e acordava mais cedo para vê-lo acordar. Tudo que nos pertencia era comum. Eu por mim positivamente o adorava e o julgava perfeito. Era elegante, destro, trabalhador, generoso. Eu admirava-o, desde o coração até a cor da pele e à correção das formas.

A Obra
Surgido pela primeira vez em 1888, no Gazeta de Notícias, O Ateneu é um dos romances mais curiosos da Literatura Brasileira, pois escapa a qualquer classificação rígida de periodização literária.
A data de sua publicação o coloca no Realismo. De fato, possui fortes afinidades com tal escola, já que apresenta uma característica marcante desse momento estético: a preocupação em criticar a sociedade num tom perpassado de pessimismo. No entanto, há inúmeros desvios que o impedem de ser um romance puramente realista.
Em primeiro lugar, deve-se lembrar que a obra é memorialista. Seu narrador, Sérgio, apresenta suas memórias de infância e adolescência num colégio interno chamado Ateneu. Assim, o foco narrativo em primeira pessoa impede a tão valorizada objetividade e imparcialidade do Realismo-Naturalismo.
Além disso, não se deve esquecer que Sérgio é o alter-ego, ou seja, um outro “eu” de Raul Pompéia. Em outras palavras, o narrador recebe a personalidade e também as memórias do autor, já que este também estudou num internato, o Colégio Abílio, do Rio de Janeiro. Mais uma vez, carrega-se nas tintas do pessoalismo.

Reforça ainda mais essa subjetividade a forte aproximação que O Ateneu estabelece com outra escola literária, o Impressionismo. De fato, obedecendo a esse estilo, não há o relato exato e documental de fatos do passado. Raul Pompéia encaminha-se inúmeras vezes para a fixação de um momento, de um clima, de uma atmosfera perdida no passado. 

Ao invés de contar uma história, muitas vezes preocupa-se em relatar uma seqüência de impressões, sensações subjetivas que marcaram o narrador a ponto de atravessar o tempo e serem os elementos mais nítidos de sua memória.
No entanto, quando se mostra finca nos postulados realistas, o romance mostra um poder de crítica bastante eficaz e tudo de forma criativa, pois se faz por meio de um jogo entre o microcosmo (escola) e o macrocosmo (sociedade). Ou seja, a escola é um reflexo da sociedade, bastando para o autor, portanto, para criticar esta, apenas descrever as relações que se estabelecem naquela.
O ataque mais chamativo se estabelece em relação ao sistema educacional, representado na figura do Dr. Aristarco, diretor e dono do colégio. Além de ele se mostrar alguém bastante vaidoso, egocêntrico e autoritário, dotado de uma linguagem altissonante e retórica (já que a moralidade e a firmeza de caráter que anuncia em sua escola de fato não se realizam), chama a atenção a confusão que estabelece entre escola e empresa.

Magistral é o primeiro capítulo na realização dessa crítica. Vê-se um narrador que, abusando da ironia, apresenta Aristarco preocupado em pintar o colégio como um negociante preocupado com as aparências de sua venda ou mercearia. Não é à toa que o vocabulário usado nesses trechos é típico de estabelecimentos comerciais. 

Ademais, o tratamento dado aos alunos é diferenciado muitas vezes pelo poder econômico. Além disso, avassaladora é a descrição do diretor dedicando parte do dia ao livro de contabilidade da escola. 

Note, por fim, como o vocabulário pomposo e retumbante vai-se opor à decadência que grassa na escola, o que reforça a hipocrisia dominante não só no colégio, mas na sociedade, em que o ideal defendido mostra-se gritantemente diferente do real praticado. Pode-se ainda observar os métodos antiquados de pedagogia (apesar da propaganda em contrário), baseados na humilhação pública.

Ainda dentro do Realismo, há que se notar no romance sua vinculação ao Naturalismo (um subconjunto da literatura realista), principalmente na utilização de elementos que denotam um apego exagerado à sexualização. Destaca-se, numa visão que em muito lembra a teoria freudiana, o jogo entre implícito e explícito, declarado e escondido, desejado e reprimido, e principalmente entre masculino e feminino que muitas vezes resvala no homossexualismo. 

Nos primeiros dias de aula Sérgio recebe de seu colega de sala, Rebelo, o conselho de que não deveria aceitar a proteção de ninguém. É que a escola estava dividida entre os meninos que protegiam, dotados, pois, de masculinidade, e os meninos protegidos, frágeis, passivos e, assim, dotados do que era entendido, no contexto do romance, como feminilidade. 

Apesar de avisado, o protagonista não consegue manter por muito tempo a sua disposição por se impor no meio estudantil (há aqui um outro elemento realista-naturalista. A escola é apresentada como um meio hostil, em que os estudantes vivem constantes agressões entre si, tudo para a conquista de espaço e respeito. É como se fosse uma representação das forças que dominam em nossa sociedade), buscando logo a cômoda proteção de alguém mais velho. Surge então Sanches. 

O problema é que esse rapaz, descrito como baboso e fedido, demonstra outras intenções. Se ajuda Sérgio na recuperação de seu desempenho escolar, esmerando-se em aulas particulares, exagera nas demonstrações afetivas, chegando até a pedir que o protagonista sentasse em seu joelho.

Não se deve deixar de notar aqui mais uma crítica à hipocrisia. Sancho era um vigilante, aluno que tinha a função de zelar pelo comportamento dos outros. Além disso, era dos mais veementes defensores da “moral e dos bons costumes”. 

E justamente ele assediava Sérgio, com intenções nada benéficas. É mais um choque que servirá para o duro amadurecimento do protagonista – no sentido de despir-se dos idealismos do primeiro capítulo e aceitar as decepções e desencantos como naturais de nossa existência.

Ainda dentro do aspecto freudiano está o complexo de Édipo, apresentado numa forma mascarada. Tal se manifesta pela relação de antipatia que se estabelece entre os alunos do Ateneu e o diretor, que acaba se transformando na figura de um pai. 

Dessa forma, sua esposa, D. Ema, por ser carinhosa e muito protetora, acaba assumindo a função de mãe dos estudantes. Essa afetividade acaba até se manifestando em Sérgio, principalmente no final do romance, quando, doente, é cuidado por ela.
Somando-se aos elementos realistas, naturalistas e impressionistas, chamam a atenção em O Ateneu as recaídas que o autor tem no rebuscamento da linguagem, com subordinação exagerada e inversões desnecessárias, o que lembra um pouco o Parnasianismo. Note como tal se manifesta no texto abaixo, início do capítulo III:
Se em pequeno, movido por um vislumbre de luminosa prudência, enquanto aplicavam-se os outros à peteca, eu me houvesse entregado ao manso labor de fabricar documentos autobiográficos, para a oportuna confecção de mais uma infância célebre, certo não registraria, entre os meus episódios de predestinado, o caso banal da natação, de conseqüências, entretanto, para mim, e origem de dissabores como jamais encontrei tão amargos.
Ou então na famosa abertura do romance
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso."
Não há como não enxergar positivamente a elaboração muitas vezes poética da linguagem no romance, com um intenso emprego de metáforas e outras figuras de linguagem. No entanto, o autor por vezes perde a mão, dificultando desnecessariamente a imediata compreensão do seu conteúdo.
Existe também em O Ateneu aspectos do Expressionismo, na medida em que seu traço, principalmente nas descrições, distorce a realidade por meio de caricaturas grotescas, que resvalam pelo exagero. Note como isso se manifesta na descrição que Sérgio faz dos seus colegas de sala.
”Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio — palhaço dos outros, como dizia o professor; o Nascimento, o bicanca, alongado por um modelo geral de pelicano, nariz esbelto, curvo e largo como uma foice; o Álvares, moreno, cenho carregado, cabeleira espessa e intensa de vate de taverna, violento e estúpido, que Mânlio atormentava, designando-o para o mister das plataformas de bonde, com a chapa numerada dos recebedores, mais leve de carregar que a responsabilidade dos estudos; o Almeidinha, claro, translúcido, rosto de menina, faces de um rosa doentio, que se levantava para ir à pedra com um vagar lânguido de convalescente (...)”
Em suma, a riqueza do estilo de Raul Pompéia, apresentando elementos realistas, naturalistas, parnasianistas, impressionistas e expressionistas, permite com que sua obra O Ateneu fuja a toda e qualquer padronização literária simplista. Torna-se, pois, um dos momentos mais brilhantes da Literatura Brasileira no século XIX.



http://simonnemachado.blogspot.com.br/

Professora  Psicopedagoga Simonne Machado

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Muita Luz e Paz!

Professora Simone Calixto